outono;

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O vento forte soprava os galhos secos, levando inúmeras folhas ao chão. Os tons de marrom e vermelho-alaranjado pintavam a estação em seu início. O céu embaçado pela neblina cobria as árvores como um manto cinza-claro.

Suspirou; estava cansado.

O tronco espesso da velha cerejeira ocupava boa parte da sua visão. Sentia o cheiro característico das folhas que secavam, deitado sobre elas. A cabeça apoiada em uma das muitas raízes da árvore próxima a si; seus dedos tocavam a terra. Cansado; mas não calmo. Seu coração dava leves saltos a cada mínimo barulho que ouvia, mesmo que distante; Os olhos se abriam ansiosos e se decepcionavam ao ver a mesma imagem da densa floresta, quase imutável. Não sorria. Seus fios claros caíam sobre os olhos apáticos. A respiração permanecia serena; o peito borbulhando em expectativa. Faziam três dias.


No primeiro dia, seus olhos ainda brilhavam em encantamento. As primeiras folhas deixavam as árvores; despencavam, dançando ao ritmo do vento. O rapaz dos olhos negros estava atrasado, mas tudo bem. As folhas caíam e o tempo passava. O loiro permanecia embaixo da cerejeira; esperava. Já era natural ouvir os passos descompassados correrem pela grama. Já era natural esperar pelo garoto de fios escuros, então esperou.

O sol se pôs e o céu compartilhou das mesmas tonalidades das folhas. Ele não veio.


No segundo dia, queria explicações. Queria ver aqueles olhos que lhe transmitiam paz; queria ouvir sua voz. Ele sempre vinha, por que não mais? Seu sorriso havia se tornado tão presente quanto o chão em que pisava e o céu que admirava. Talvez tenha se esquecido. Talvez tenha tido outro compromisso, talvez algo importante.

Mas, e ele, não era importante?

Talvez.

Estava triste. Havia se acostumado com a presença aconchegante do outro. Seus sorrisos e toques quentes como o verão que se passou. Mesmo que fosse apenas um encostar. Mesmo que as pontas de seus dedos fossem sempre frias como o inverno, o mais simples toque aquecia o menor.

Não entendia; queria vê-lo.

O sol se pôs, mais uma vez.

Não se ouviu risadas. Um fim de tarde sem toques; sem sorrisos.



Algumas folhas ainda se firmavam nos galhos. O sol estava no céu, mas a neblina deixava a floresta nas sombras.

Terceiro dia.

O vento soprava e os galhos se remexiam.

Tudo parecia em perfeita harmonia, o clima, as cores, os cheiros.

Mas ele não.

Realmente não entendia; só queria vê-lo.

Queria tanto vê-lo!

Brincava com as folhas caídas na terra. A grama amarelada lhe cercava, completando o cenário seco da nova estação.

Esperava e esperava.


O outono chegou.

Ele não.

As Quatro Estações | pjm+jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora