inverno;

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Deitado sob a cerejeira; olhos fechados.

O vento soprava, árduo, trazendo a brisa gelada e algumas folhas secas remanescentes do outono. O céu era pintado por um cinza-claro, repleto de nuvens que cobriam o sol fraco. A floresta estava silenciosa; fria.

Fria.

Sentiu algo atingir seu rosto. Era frio.

Levou os dedos quentes até a pele molhada e abriu os olhos. Os direcionou para cima, vendo os pequenos flocos brancos despencarem do céu cinza.


A primeira neve da estação.


Mesmo fria, ela lhe aqueceu.

Ele viria quando as flores retornassem.



A imensidão branca cobria tudo. Os galhos secos da cerejeira, revestidos por um manto sem cor, continuavam belos aos olhos do loiro.

Tão belos quanto ele.

Seus dedos cobertos pela lã quente passeavam pela neve que cobria o chão, formando contornos e desenhos aleatórios. Sentia frio. Tanto frio. Podia ver o ar condensar ao deixar seus lábios.

Os pequenos flocos de neve caíam do céu, numa diacronia bonita; eram levados pelo vento.

Se ele fosse como os flocos de neve no ar, alcançá-lo-ia mais depressa?



Cada dia que passava era mais gélido do que o anterior. Seu corpo protegido pelos panos se sentia frio por dentro.

Saudade, era o nome.

A estação combinava bem com seu estado emocional, admitia.

Sentia falta.

Dos olhares, das conversas. De roçar as mãos e cantar baixinho, para as flores; para o vento. De saber que seria sempre encontrado debaixo da mesma árvore. De ser encontrado.

Queria ser encontrado.



Seu rosto estava molhado. A neve caía intensamente; se juntando as lágrimas ralas que deixavam seus olhos avermelhados.

Saudade, era o nome.

Sentia frio; sentia falta.

Suas pernas eram abrigadas pelos braços curtinhos, em um abraço desajeitado. Seus olhos não queriam se abrir. Não queria ver, mais uma vez, o branco. Queria as flores, queria o verde, queria ele.

Não entendia.

Só queria vê-lo.

Queria tanto vê-lo.

Recostou-se no tronco estéril da árvore. Os fios loiros jogados para trás. Tudo a sua volta parecia respirar calmamente, alheio a desordem que era o garoto. Os dias estavam passando, lentos. Como a neve.

Sabia que passaria o resto do inverno sozinho, mas ele passava devagar.

E ele cansava de esperar.



Cada dia que passava era mais frio do que o anterior.

Manhãs frias, tardes frias.

Ele estava frio.



No inverno, sob a velha cerejeira coberta de neve. Seu coração estava frio. Estava sozinho.

Mas sabia que voltaria a se aquecer, assim que as flores desabrochassem mais uma vez. Assim que ele visse os olhos aconchegantes daquele que era sua primavera, seu verão, seu outono e também seu inverno.


As flores estavam para voltar, assim como a primavera e os fios castanhos bagunçados.

Nenhuma estação dura para sempre.

Esperaria.

Esperaria por ele.

Por sua voz, doce como a primavera; seu toque quente como o verão.

Seus olhos, negros como o céu em noite invernal; brilhantes como os tons de laranja do outono.

Esperaria, ansiosamente, por sua presença tão acolhedora quanto a velha cerejeira; que permanecia sempre ao seu lado.



E como deve ser, ele iria retornar; como o ciclo das estações.

Para que, juntos, pudessem ver as flores da próxima primavera desabrocharem.



Era uma promessa.

As Quatro Estações | pjm+jjkDonde viven las historias. Descúbrelo ahora