17. ATENÇÃO: O CASAL DO MOMENTO ESTÁ PASSANDO!

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Alec passou os três primeiros tempos de aula revezando seus pensamentos entre Nicole e as teorias que criava a respeito do diário. Ele andava tão disperso nas aulas do IER que começava a ter certeza que sua média teria uma queda drástica – o que seria um grande choque, olhando pelo lado de que ele tinha uma média impecável de notas altas no ensino fundamental. Provavelmente as pessoas pensariam que era culpa dos hormônios da adolescência, Alec pensara um segundo antes do sinal tocar avisando o inicio do intervalo.

- Você aceita me acompanhar até a cafeteria? – Nicole falou parando ao lado de sua carteira.

- Eu te acompanho a qualquer lugar que queira ir! – Ele disse se levantando, o que fez Nicole se inclinar para dá-lo um selinho.

Os dois saíram da sala de mãos dadas e enquanto seguiam pelos corredores, Alec percebeu que recebia olhares de alguns garotos do clã.

- Por que tem uma galera nos encarando? – Nicole sussurrou para ele.

- Quando a gente se sentar eu te explico.

Eles foram até o balcão e compraram seus lanches, logo depois procuram por uma mesa vazia do lado de fora do refeitório, longe o bastante de outras mesas. Quando se sentaram Nicole encarava Alec como se pudesse arrancar qualquer palavra dele apenas com o olhar.

- Eles sabem que você sabe a verdade sobre nós. – Alec começou a falar enquanto abria a garrafa com suco de maracujá.

- Como assim eles sabem? Você contou? Alguém contou? – Nicole parecia estar assustada, o que era meio divertido.

- Não é isso. Nós conseguimos sentir esse tipo de coisa, tipo com as marcas, que eu te expliquei na outra noite. Nós sabemos quando um excluído consegue ver as marcas das famílias.

Ela balançou a cabeça concordando e deu uma mordida em sua maçã.

- Eu entendi o que você disse sobre vocês serem um número muito grande. Eu percebi que vários garotos da escola têm uns símbolos no braço direito e na nuca.

- E esses são apenas os integrantes da Aqua e da Aeris, os da Ignis e da Terra você não conseguirá identificar tão facilmente.

Eles permanecerem em silêncio por alguns segundos, apenas comendo seus lanches e Alec percebeu que não era um silêncio desconfortável. Mas então Nicole resolveu perguntar:

- Me conte mais sobre o seu clã, sobre ser bruxo e essas coisas.

- Nós começamos a desenvolver o dom da magia a partir dos oito anos, têm casos de garotos que conseguem fazer magias pequenas aos sete, mas antes disso é quase que impossível. Nós estudamos feitiços falados somente no primeiro ano dos estudos mágicos porque em nosso clã a magia é forte demais, e as palavras têm muito poder.

- No meu mundo também é assim. – Nicole brincou.

Alec sorriu para a namorada, mas continuou a falar.

- Então nós memorizamos os feitiços como sentimentos, ou palavras carregadas de emoções. Para nós a magia é mais sentir do que mostrar.

- Me explica um pouco mais sobre as famílias elementares!

- São quatro famílias regulares, como você sabe, Aqua a família da água, Ignis a família do fogo...

- Que é a sua família.

- Isso... a Aeris é a família do ar e a Terra o nome já diz por si só. Apesar de nossa magia se estruturar a força elementar de nossas famílias, isso não significa que sejamos limitadas a elas. Eu quero dizer que não é porque eu sou da família do fogo que não posso fazer magia com água, por exemplo. Os elementos são vistos mais como as posições futuras que tomaremos quando adultos, ou uma nova representação disso já que temos padrões bastante antigos.

Ele parou por um momento para tomar um pouco do suco.

- Quais padrões são esses? – Nicole questionou.

- Antigamente, a mais tempo do que a minha família poderia considerar ser uma das trezes mais, os bruxos viviam em guerra, sejam elas guerras contra outros clãs bruxos ou sobrenaturais, ou contra caçadores de bruxos. Cada família elementar tinha um papel: nós da Ignis somos o guerreiros, a linha de frente da batalha; a Terra são os protetores, os que permanecem à frente do clã a todo custo para mantê-los a salvo; a Aqua é a família dos cientistas e estudiosos; e a Aeris é a família dos doadores, quando a guerra parece difícil demais eles doam seus poderes para que nós da Ignis possamos salvar o clã.

- Oh, eu não sei se há uma questão hierárquica entre as famílias, mas vocês devem tratar os integrantes da Aeris como se fossem deuses!

Nicole o encarava como se esperasse que Alec dissesse que o clã exaltava os integrantes da Aeris a cada passo que davam, e que só por existir eles mereciam todos os benefícios que a bruxaria podia dar. A questão era que a Aeris não era nada valorizada, e seus integrantes eram tão ridicularizados que chegava ser uma vergonha. Alec fazia parte do time de pessoas que acreditavam seriamente que não devia existir distinção entre as famílias, mas aquela era uma questão antiga tão enraizada na cultura Roseana, que era difícil pensar que um dia mudaria.

- Não exatamente, essa é uma questão tão complicada e particularmente feia do clã, que eu prefiro falar sobre ela depois, se não se importar.

- Tudo bem, tem mais algo sobre as famílias que possa me contar?

Alec parou pensando por um segundo e quando o pensamento surgiu em sua cabeça, foi como se uma luz neon roxa se acendesse em frente aos seus olhos.

- Há uma quinta família elementar, uma não regular e impossível de se entrar pela Cerimônia da Descoberta. Ela se chama Spiritu e é como a junção das quatro famílias padrão. Ser um Spiritu significa ter sua alma reforçada pelos quatro elementos, e ter a força para suportar em vida toda a magia que os ancestrais carregam em suas almas. Para se tornar um Spiritu é necessário um conjunto de estudos, esforço e equilíbrio entre alma e corpo, e é tão raro existirem integrantes dessa família que nós nem mesmo falamos muito sobre ela.

- Por quê? – Nicole questionou.

- É meio vergonhoso pensar que nos primórdios todos os herdeiros dos treze filhos de Enéc se tornaram Spiritu, e agora nós não vemos um integrante a mais de dois séculos... Eu tinha um amigo que tinha certeza que um dia se tornaria um Spiritu; ele acreditava que primeiro entraria na Ignis, a família de mais alta estima, e anos depois entraria para a história como um novo Spiritu.

- E ele conseguiu? Digo, entrar para a Ignis?

- Não... na verdade ele morreu, durante a Cerimônia da Descoberto.

- Oh, sinto muito Alec!

Alec balançou a cabeça dizendo que tudo bem, e então percebeu que novamente voltara seus pensamentos para Eric e consequentemente para o diário.

Eles se levantaram ao perceber que a maioria dos alunos já voltara para as salas e que eles estavam atrasados. De volta para a aula, Alec fez o possível para se manter focado na aula de Filosofia, mas não foi tão fácil quanto ele desejaria que fosse.    


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Pequenos Garotos Maus - Livro 3: AmedrontadosWhere stories live. Discover now