Capítulo 6

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                   • Elizabeth narrando •

Assim que chegamos ao aeroporto havia um motorista a nossa espera, com um daqueles carros luxuosos com bancos de couro. E, por um rápido instante me permiti gostar de toda essa ostentação, mesmo sendo o oposto da minha vida real. Mas, pelo menos uma vez, queria saber como é ser milionário.

Harry não conseguia disfarçar a sua insatisfação em me levar para conhecer sua família "desestruturada", ele não queria que  eu fizesse parte disso, mas, fui a única opção que restou.

- Você nem consegue fingir que está feliz, Harry. - disse simples, terminando com a sessão de silêncio entre nós dois  - Se não me quisesse aqui, deveria ter dito.

- O mundo não gira ao seu redor, Elizabeth. - respondeu impaciente. - Eu tenho problemas sérios para resolver, mas você não consegue entender essa merda, está sempre vivendo no seu mundinho colorido.

Harry não enxergava nada além do seu próprio umbigo, e isso estava nítido com suas conclusões precipitadas sobre a minha vida.

- Talvez eu não saiba como isso funciona, mas se fechar em uma bolha não é a melhor solução.

- É melhor vender seus conselhos em outro lugar, Elizabeth. - falou. - Já chegamos.

Olhei pela janela do carro e pude perceber um enorme portão branco, que foi aberto para que nós pudéssemos entrar.

Fiquei sem palavras ao olhar a belíssima mansão da família Styles, onde meu adorável chefe cresceu e, infelizmente, se tornou uma pessoa amarga. Talvez tivesse um motivo para tudo isso, afinal, Harry não poderia ser tão insensível apenas por diversão.

- Harry Edward, pensei que só te veria novamente no meu velório. - ouvi uma voz feminina e gentil, ela apareceu vindo do jardim e era uma senhora muito bonita, por sinal. - Todos sentiram sua falta.

- Também senti saudades, principalmente, desse lugar. - Harry desceu do carro, e foi abraçá-la.

- Esse lugar continua sendo a sua casa, querido. - disse ela. - Não se esqueça.

- Deixou de ser o meu lar há muito tempo.

- Você está tão magro, Harry. - falou preocupada, dando uma puxada de orelha no meu chefe. - Não tem comida suficiente em Nova Iorque? - perguntou. - Eu consigo ver os seus ossos.

- Não precisa se preocupar, eu estou bem.

- Vejo que você trouxe companhia para o casório. - a doce senhora sorriu e acenou para mim.

- Olá, me chamo Elizabeth Clifford. - fui puxada para um forte abraço, que durou por mais alguns segundos. - É um prazer conhecê-la.

- Pode me chamar de Mary, querida. - disse ela sorridente. - Estou tão feliz pelo Harry ter te trazido até aqui, porque na maioria das vezes ele é muito discreto com o seus relacionamentos amorosos. - falou simples, e eu pude perceber o incômodo do Harry ao escutar isso. - À propósito, eu sou a avó desse cretino.

Não consegui controlar uma gargalhada, Mary é uma senhora tão simpática.

- Eu não sou um cretino, vovó. - tentou se defender. - E Elizabeth não é minha namorada,ela trabalha comigo na empresa.

- É uma pena, Harry. - lamentou. - Você está sempre desperdiçando as chances que a vida te oferece, não é?

- Onde está a minha mãe? - perguntou, desviando do assunto.

- Está ocupada demais resolvendo os últimos detalhes do casamento, você sabe como é, são coisas demais. - Mary falou indiferente. - Ela pediu perdão por não estar aqui para te receber.

- E Gemma? - me lembro de visto esse nome em uma matéria na internet, era a irmã mais velha do meu chefe.

- Está em Paris, mas chegará em breve para o casamento da sua mãe com aquele idiota. - pelo visto, Harry não é o único contra essa união. - Se eu pudesse evitar de alguma forma que essa tragédia familiar acontecesse, eu evitaria.

- Nós não podemos fazer nada, vovó.

- Acho melhor entrarmos, vai começar a chover. - alertei, sentindo pingos gelados de água caindo sobre meus braços.

- Você está certa. - respondeu Mary. - Não quero que vocês dois fiquem resfriados durante esses dias, têm muitas coisas para aproveitar aqui.

(...)

                            • Narrador •

Elizabeth estava admirada com o tamanho do quarto que terá de dividir com Harry  Era maior do que seu apartamento inteiro, e não tinha o cheiro de mofo que a garota tanto detestava.

Ela só não conseguia entender o porquê de Harry ser tão intolerante com a própria família. Sua avó é uma pessoa tão divertida e simpática, totalmente diferente do que ela teria imaginado... Elizabeth daria tudo para ter crescido ao lado de alguém assim. Ela sabia o quanto era difícil não pertencer à lugar nenhum, nem à ninguém.

- Elizabeth? - a voz de Harry ecoou pelo quarto, tirando-a dos seus pensamentos. - Você ainda está dormindo?

- Estou acordada. - respondeu. - O que foi?

- Shawn acabou de chegar, e também trouxe uma companhia. - a garota se levantou com pressa da cama, onde estava descansando da viagem há algumas horas. - Sua pressão irá cair desse jeito, vai com calma.

- Não finja que se importa comigo, Harry. - Ela disse sem se importar, o que o deixou irritado.

Elizabeth caminhou até a sala, sem ao menos perceber que estava descabelada, mas ela só queria ver um rosto conhecido além do seu chefe.

Ela só não poderia imaginar que o novo namorado de sua melhor amiga seria, ninguém mais, ninguém menos que Shawn, e que os dois estivessem juntos em Londres.

- Cheryl? - Elizabeth perguntou perplexa, indo abraçá-la.

- Pensei que estivesse viajando a trabalho. - sua amiga respondeu com um sorriso de orelha a orelha. - Meu Deus, que coincidência.

- Vocês se conhecem? - Shawn perguntou confuso.

- Desde a infância, e moramos juntas. - disse com sinceridade.

- Muita coincidência, não é? - Harry não perderia a oportunidade de usar seu sarcasmo nessa situação. - Parece até uma armação.

- Não seja ridículo, Harry. - Elizabeth poderia fuzilá-lo com apenas um olhar. - Por que você não me disse que viria à Londes, Cheryl?

- Eu quis fazer uma surpresa para ela. - Shawn riu descontraído. - Só contei que iríamos viajar, mas não disse para onde.

- Vocês estão namorando? - Harry indagou curioso.

- Estamos sim. - respondeu Cheryl, mostrando seu anel de compromisso no dedo, o que deixou todos surpresos com a novidade.

- Meus parabéns ao casal. - Elizabeth nem sabia o que dizer, mas tinha certeza que Shawn era um bom homem e que amiga seria muito feliz.

- Isso aqui está pior que pena de morte. - Harry resmungou, indo até a cozinha buscar algo forte para beber.

Ele se sentia sufocado por esses assuntos idiotas, já tinha perdido oportunidades demais construindo um muro ao seu redor, e sabia que ninguém estaria disposto à suportar seus defeitos.

Harry bebeu um copo cheio de whisky, enquanto observava seu melhor amigo sorrindo ao lado da namorada, que parecia fazê-lo muito feliz. E, por um rápido instante, um vago pensamento tomou conta de sua cabeça, o que deixou Harry espantado.

Será que algum dia ele irá se sentir feliz dessa maneira?

Talvez a resposta para essa pergunta estivesse explícita em sua frente, com letras vermelhas iluminadas, mas ele precisará de tempo para entender isso sozinho.

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