Capítulo 29

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• Elizabeth narrando •

O dia ainda não tinha amanhecido quando levantei da cama, estava tudo escuro e com uma leve neblina, mas precisava ir para Nova Iorque o mais rápido possível. Arrumei minhas malas e peguei a chave do carro antigo da mamãe, o qual ela deixou de herança quando faleceu.

Eu não queria que os seguranças vinhessem atrás de mim, precisava de um tempo sozinha. Saí de casa em silêncio e corri até a garagem, pedi a Deus para que esse carro ainda funcionasse, pois era uma antiguidade. Em seguida, liguei o mesmo e acelerei para evitar que fosse seguida.

A estrada estava uma completa escuridão, apenas os faróis do carro estavam iluminando o meu caminho. Não podia evitar de pensar em Harry, em tudo que eu havia causado na noite anterior. Ele disse em todas as letras que não enxergava mais um futuro para nós, e eu espero que seja uma dessas coisas que se diz em um momento de raiva, mas que não se deve levar a sério.

Tinha esperanças que fosse isso.

Eu dirigia com atenção, sentindo um peso enorme sobre os seus ombros. Antes que eu pudesse freiar o carro, escutei uma buzina alta no cruzamento da rodovia e senti um grande impacto que empurrou meu corpo para frente em alta velocidade. Meu Deus. Poderia perceber o carro capotar várias e várias vezes, como uma montanha-russa... Mas aí veio o eterno silêncio.

Os meus sussurros eram baixos, mas dolorosos. Nem mesmo conseguia me mecher entre as ferragens do carro, apenas sentia as lágrimas de desespero escorrendo pelo meu rosto ensanguentado e cheio de arranhões. Todos os vidros do carro estavam estilhaçados e eu poderia enxergar alguns cacos dentro da minha pele. Ardía tanto.

Nada fazia muito sentido agora, minha cabeça doía e girava. Eu vou terminar a vida dessa maneira? Morta em um acidente de trânsito? Meu Deus! Precisava de mais uma chance para fazer as coisas direito, para cuidar dessa criança e vê-la crescer em uma família feliz. Precisava pedir desculpas.

A vida é uma linha frágil, e talvez esses sejam os meus últimos minutos para refletir sobre isso, mas gostaria de agradecer pela oportunidade de viver por 25 anos. Não estava pronta para partir, para ir embora... Mas, não demorou para que minha visão começasse a escurecer, e eu me rendi.

Não possuía mais forças para lutar, meu corpo inteiro sentia dor e eu já não aguentava mais sofrer daquele jeito. Dei um último suspiro antes de desmaiar por completo.

(...)

• Narrador •

Harry havia chegado em casa há pouco tempo, mas não podia evitar de pensar em Elizabeth e no bebê que ela estava esperando. Se sentia a merda de um idiota por ter dito aquelas coisas para ela ontem à noite, mesmo que ainda estivesse chateado com toda a situação. Por ter sido enganado.

Um bebê mudava tudo. Mudava a vida dele, a rotina dele e todo o resto. Mas isso não importava, era o seu filho, e Harry não hesitaria em cuidá-lo com todo o amor possível, mesmo que não soubesse por onde
começar.

Ouviu seu telefone tocar mas preferiu não atender, estava sem paciência para falar com alguém nesse momento. Mas tocou de novo, 1, 2, 3 vezes. Harry olhou a tela, estava escrito o nome de James, chefe da segurança.

- Algum problema? - ele perguntou, de péssimo humor.

- Vários, Sr Styles. - James respondeu.

- Então comece a falar. - Harry falou nervoso, sabia que poderia ser algo relacionado à Elizabeth. Houve um silêncio do outro lado da linha, um silêncio absurdo. - James?

- Eu sinto muito, Sr Styles. - ele sussurou, com a voz trêmula. - Ela saiu sem que pudéssemos perceber, de madrugada. Nós não tínhamos como evitar isso.

O coração de Harry já estava na boca.

- O que aconteceu com ela? - Harry questionou, preocupado. - Porra! Me diga.

- O carro em que ela estava capotou, Sr Styles. - respondeu e, naquele momento, Harry sentiu o chão sob seus pés desaparecer. - Nós a encontramos na rodovia em uma situação terrível.

- O quê? - foi a única frase que Harry conseguiu falar, tudo ao seu redor tinha perdido o sentido.

- Ela foi encaminhada para o hospital mais próximo da região. Eu sinto muito, mas o  estado dela é grave. - James explicou. - Os policiais disseram que pode ter sido intencional.Vou te enviar o endereço para que possa vir até aqui.

- Avise à família dela sobre o acidente. - ele ordenou, tentando se manter em sã consciência. - Eu já estou indo. - desligou a ligação, em completo choque com a tragédia que havia acontecido com sua mulher.

(...)

Harry pediu para que se existisse alguém além do que costumava acreditar, que salvasse sua esposa e seu bebê. Harry implorou. No silêncio daquela sala de espera era possível ouvir os seus baixos soluços, e ele chorava da mesma forma que chorou quando seu pai morreu. Mas não queria perdê-la, nem mesmo o seu bebê

Qual seria o sentido de uma vida sem Elizabeth? Ela era o amor daquele homem, o ar que ele respirava, o chão que o sustentava quando ele queria desistir... Ela era tudo. Não poderiam arrancá-la dessa forma, sem que ele pudesse ao menos se despedir.

A briga da última noite já não significava mais nada, e a única coisa que Harry queria era pedir perdão por tê-la deixado sozinha. Toda essa tragédia poderia ter sido evitada se ele tivesse ficado e se acalmado, mas, como sempre, agiu como um imbecil arrogante.

- O que houve com ela, Harry? - John entrou na pequena sala, estava em prantos. Não conseguia acreditar que sua filha havia sofrido um acidente. - Me diga que ela está bem.

- Eu não sei. - disse, nervoso. - Apenas me disseram que ela está sendo operada agora e o seu estado é grave.

- Meu Deus... Como isso foi acontecer? - perguntou, em choque. - Elizabeth sempre foi uma excelente motorista, cuidadosa em não ultrapassar os limites de velocidade. O que houve de errado?

- Os policiais disseram que um caminhão bateu na lateral do carro e ele capotou, não sobrou nada além das ferragens. - Harry não queria acreditar nas próprias palavras. - O motorista fugiu sem prestar socorro. Talvez tenha sido criminoso

- Quem faria algo tão maldoso?

- Só a investigação vai poder confirmar alguma coisa, John.

- Ela vai ficar bem, Harry. - disse, tentando acalmar o genro, que estava transtornado com essa situação. - Elizabeth é uma mulher forte. Sempre foi, desde pequena.

- Eu não me despedi dela ontem. - lamentou, com o peso do arrependimento nas costas. - Cruzei a porta sem olhar para trás, e não faço ideia se a verei de novo. Porra! Não consigo ficar calmo.

- Ela te ama, e ama aquele bebê. - John falou. - Eu sei o quanto ela deve estar lutando para sobreviver, porque é isso que se faz quando se ama alguém. Nós lutamos. Apenas tenha esperança.

- Estou tentando ter um pouco de esperança. - falou, entre soluços abafados. - Se eu tivesse ficado, nada disso estaria acontecendo.

- Você não poderia imaginar, Harry. - John murmurou, aflito. - Nenhum de nós podia.

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