Capítulo 34

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A ligação

~ Thor ~

Quando eu saí de manhã, não imaginei de forma alguma que eu poderia perder, perder pra vida, simplesmente perder a pessoa que tem sido a coisa mais importante pra mim. Há uma semana atrás recebi uma ligação de Jacob, os policiais não conseguiram rastrear, ele disse que iria matá-la. Três semanas desaparecida, os policiais queriam engavetar o caso como se não tivesse importância! Eu não aceitei uma porcaria dessas! Meu pai é delegado e ele sabe a delicadeza do caso, nossa busca não cessaria enquanto Melanie não fosse encontrada... ou o que sobrou dela. Eu me odeio por pensar que posso aceitar a ideia da morte dela. Em algum lugar dentro, eu sinto ela tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Eu daria tudo pra estar com ela, como tenho dado, só que tenho me rendido. Tenho chorado mais do que à procurado e minhas esperanças às enfiado no bolso. Eu preciso de você Melanie. Eu realmente preciso de você por hoje, por amanhã é por todo tempo possível!

___ Filho, eu sei que não devia falar dessa forma, mas você já chegou a pensar na possibilidade de Melanie nunca mais voltar?

___ Ah qual é pai! Só fazem três semanas e eu não aceito acreditar nisso! Eu... Não posso acreditar nisso.

___ Eu também estou sentindo tanta falta da pequena. Tem sido difícil para todos, principalmente para Melinda, que chora todas as noites incessavelmente.

____ Tudo o que eu queria era estar no lugar dela...

Naquela tarde, subi para o quarto e pedi perdão à ela, pelo menos a foto dela com seu cheiro que era o que tinha me agarrado fixamente. Sempre andava com àquela foto pra perguntar por ela pelas ruas... Eu à fiz vestir o vestido longo que usava no dia em que nos conhecemos, e tirar uma foto dela no gramado da casa, exatamente no mesmo lugar. É triste o sentimento vazio que fica. Faltam nossas tardes cozinhando na loja e o sorriso dela ao ver suas conquistas no final do dia, falta nossos planos pro casamento, nossas intrigas com a Melinda, falta seu sorriso e sua suavidade ao lidar com às coisas. Me falta ela, simplesmente o mar de positividade que clareava meu dia.

Ainda naquele dia, procuramos e felizmente encontramos uma senhora que afirmou ter visto alguém muito parecido com Melanie fazendo compras em uma vendinha quase na fronteira do estado. Também disse que ela pegou muitas coisas, como se fosse viajar e aparentava tranquilidade. Seria mesmo ela? Ela estaria vivendo em outro lugar sem nem se preocupar em dar notícias? Ou estaria sendo obrigada à forjar aparências. Às pessoas já estão dizendo que ela fugiu, que está desaparecida por opção... Elas não fazem ideia do passado da minha noiva. Com certeza não fazem. Dizem por aí: " fugiu com o amante", "É claro que ela está extorquindo algum velho rico, ela é uma órfã"... Isso dói tanto. Ela jamais faria isso, e eu me culpo por em algumas noites pensar que Jacob está dormindo com ela, me culpo por sentir ciúmes, como se ela fosse capaz de o fazer por vontade própria. Ela o odeia.

Anne está feliz por ter passado na faculdade de pedagogia em Osasco e que em breve irá embora. Ela parecia tão boa amiga, mas vendo agora é muito superficial. Fred que anda se roendo pelos cantos, sempre tenta ajudar. Qualquer ajuda é bem vinda, cá entro nos. Ele se culpa por ter viajado e não ter à aconselhado. Stéfany, ela sim está sofrendo e eu acho que merece, por ter abandonado a filha e dani-se as razões dela. Ela ainda está morando em uma clínica, porém passa mais tempo do lado de fora tentando encontrar a filha. Se Melanie soubesse o que está acontecendo, ela se agradaria da preocupação da mãe biológica ou sentiria raiva.

Eu realmente não entendo, por que a vida é injusta assim? Porque mesmo ela tendo sido tão boa, o destino vem sendo horrível? Eu não paro de me perguntar se ela está comendo, ou com frio, se pensa em mim, ou se está com dor. Eu queria estar no lugar dela, ela não merece isso. " A morte é traiçoeira", estava escrito na última frase do livro em que ela não terminou de ler. Seria isso então? Não acabaria o livro, não daria o último beijo em sua mãe, não teria dito à Stéfany que à perdoou, se realmente a tiver perdoado. Ela não poderia mais realizar o sonho de cantar em algum show, de visitar a casa abandonada no outro lado da cidade e muito menos ir no Museu de Art no Centro? Ela está ou não morta? Acho que eu vou acabar me matando de tanto pensar. Não posso desistir.

___ Ah meu filho, que bom vê-lo aqui! Estava te procurando.

___ Oi Melinda. Entre. ___ Ela entrou e se sentou ao meu lado, repousou sua cabeça no meu ombro e disse:___ Eu não quero passar o resto da minha vida sem comer a torta de abacaxi que só ela fazia bem.

___ Muito menos eu Melinda, muito menos eu. ___ Ela se levantou, pegou uma foto da Mel que estava na cômoda e disse:___ Quando eu era criança, eu sonhava todos os dias com torta de abacaxi, sendo que nunca comi e não tinha condições na época. Não que seja relevante, mas só queria dizer que preciso mesmo dessa torta.___ Melinda saiu do quarto, um pouco atordoada e distante. Era óbvio, que não precisava ser muito inteligente pra saber o que ela quis dizer. Ela sonhava em ter filhos, ela já me contou essa história de torta de abacaxi antes. Como ela nunca encontrou alguma que à agradace, mas que sempre insistiu em procurá-la. Ela nunca conseguiu adotar, sempre recusavam a adoção e então ela se tornou advogada para assim, tentar adotar uma criança e mesmo com isso não havia conseguido. Ela não quer uma torta, ela quer a filha dela de volta. Melinda sempre será assim, nas horas boas e ruins. Será a mesma de sempre, com sua personalidade incrível e estranha perspectiva sobre as coisas.

Quando o dia amanheceu, eu já estava acordado, na verdade, nem havia dormido. Virando noites em claro na expectativa cessante por alguma coisa me trouxesse ela de volta. Isso quando eu não saía pro outro lado da cidade gritando seu nome aos sete ventos. Teria ela escutado minha voz se perdendo sem poder responder? Teria ela chorado pela lembrança e sorrido com a esperança de pensar que estou quase encontrando? Ela saberia que a única pista que temos é de uma velha gaga que afirma ter a visto? Tantas perguntas, tolice.

O sono bate, e dessa vez não consigo resistir. Meu corpo me desobedece e meu cérebro concorda plenamente com ele. Sinto a respiração caindo aos poucos em uma suavidade, como se eu estivesse prestes a parar de respirar. Vem muitas coisas à mente, mas que se embalam em um sonho. Sonho, isso, estava sonhando com pedaços de momentos em que vivi. Falas e falas. Ria ao lado de Melanie na casa da árvore enquanto tinha um pedaço de couve no dente dela. Depois andávamos à cavalo, eu nunca andei à cavalo com ela, o que era novo. Um aras enorme, grande e verde. Não era mais pedaços de momentos nossos, eu estava criando algo sem ao menos ter ideia em que me baseei. Os cavalos corriam e ela parecia triste e pensativa. Parou o cavalo bruscamente e disse: ___ Eu estou bem, mas preciso sair daqui. Tome isso, leia última página. Adeus. Então novamente voltou a galopar até desaparecer do sonho. Era um livro.

Quando acordei, tentei forçar a memória, mas boa parte ainda era viva em minha mente. Ela havia me dado um livro dos mapas das cidades, lembrei da música francesa que ela sempre cantava: " Seria possível então? Retirei tudo o que havia nas gavetas, armários e até debaixo da cama. Encontrei o livro do sonho dentro da gaveta, mas estava esquecendo de algo. Me empenhei tanto que acabei por me esquecer. Droga. Sou despertados dos devaneios por uma ligação. Não queria chegar perto do celular tão cedo, com certeza quebraria a cara na espera de ser alguma coisa. Com a insistência do celular, decidi por fim atendê-lo e quase cai da cama quando li que era o número da Melanie. Seria possível então?

___ Meu Deus fala que é você.

___ Heitor.

___ Achei que nunca mais ouviria sua voz. A onde você está?

___ Eu não sei. Eu estou bem, e acho que ele está voltando não poderei conversar. Eu te amo. Não me liga porquê vai tocar.___ E assim acabou a ligação. Meu coração quase pulava da boca. Não deu nem tempo de falar o quanto à amava. Estava inebriado com sua voz, calma e suave, porém com um ponto de agonia... Ela estava viva! Viva e bem! Ou poderia ter mentido... Tive que conter o desejo de ligar, pra não causar problemas. Meu Deus ela está viva! Viva! Gritei da janela bem alto o quanto ela estava viva. Depois de todo esse tempo, em fim um ponto de esperança. Liguei para Rodolfo e expliquei a situação.

Ela estava viva, viva e bem... Bem... Bem... Ela está mesmo bem?

Resgatando Sonhos Roubados.Onde histórias criam vida. Descubra agora