1 - O Cavaleiro e a Camponesa

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Era início da manhã na Floresta do Bardo e os raios de sol podiam ser vistos entre as folhas das árvores de forma tranquilizadora e singular. Um guerreiro de armadura cavalgava enquanto observava ao redor como se buscasse por algo naquela trilha estreita. Porém não demorou muito para o tom verde e vivo da vegetação dar lugar a cores cinzentas e um rastro de catástrofe. Ao chegar a uma clareira ele percebeu que as plantas rasteiras haviam sido queimadas, as grandes árvores derrubadas e alguns galhos ainda crepitavam em chamas. Toda a paisagem se convertera em um deserto sem vida.
— Isso não é nada bom, amigo — disse para seu cavalo.

Ao descer do corcel o jovem cavaleiro buscou por pistas nos arredores. Encontrou marcas de garras em alguns troncos caídos e dois pares de pegadas no solo, um de leão e outro de bode, que parecia seguir o primeiro par. Concluiu que a menos que o bode estivesse caçando o leão uma criatura muito perigosa estava solta na mata. Ele precisava se apressar.

— Foi para Oeste e é recente. — subiu novamente no cavalo. — Ainda podemos alcançá-lo antes que cause mais problemas. Vamos, rapaz! — declarou enquanto o animal disparava pelo terreno devastado.

Na estrada principal da floresta uma jovem caminhava despreocupada carregando uma pequena bolsa de suprimentos, um chapéu de palha e uma enxada, itens um tanto peculiares para uma viagem. Ela parou por um instante para descansar, pois ainda não aproveitara o dejejum daquela manhã. Comeu algumas maçãs e bebeu um pouco de água. Aproveitou para apreciar o clima calmo daquele ambiente silvestre, entretanto sua alegria durou pouco. Como que por azar do destino, ou por puro descuido, a moça não percebeu o perigo até sentir o cheiro de fumaça seguido de um urro amedrontador.

— O que foi isso?! — questionou-se amedrontada.

Ela levantou-se e virou-se para a direção do som. Entre as árvores surgiu uma criatura aterradora de olhos vermelhos com feições semelhantes às de um leão, porém com as patas traseiras como as de bode, além de mais duas cabeças deformadas, uma de bode nas costas e uma de serpente na ponta da calda.

— Merda! — declarou ciente do perigo.

O monstro avançou contra a moça, porém ela correu para trás de uma árvore de modo que a fera cravou suas presas na madeira, prendendo-as por um momento. A jovem correu para dentro da mata, mas o monstro logo se libertou, dilacerando a árvore. Foi então que a perseguição começou. A moça correu até não aguentar mais e logo não ouvia mais o som do predador. Olhou ao redor. Nada. Chegou a respirar aliviada acreditando ter escapado, mas se enganou. O predador surgiu por trás de uma árvore e saltou em direção a sua presa. Os dentes da fera encontraram o cabo da enxada, a única ferramenta que a jovem poderia usar para se defender naquele momento, porém a força da criatura forçou a vítima contra o chão.

— Deuses, Por favor, aqui não. — suplicou. — Não estou pronta para virar comida!

A única coisa que separava a donzela da morte certa era um, não tão resistente, cabo de madeira. Infelizmente o tempo acabaria antes do previsto já que a cabeça de serpente se projetou sobre a moça e se preparou para dar o bote.

— Sai de perto de mim!

A jovem não podia acreditar que morreria ali naquela floresta como uma vítima de um monstro bizarro sem nunca chegar ao seu destino. Era o fim... ou era o que parecia até então. Tão rápido quanto se poderia perceber um fio de prata cruzou a mata em grande velocidade e foi possível ver o reflexo do sol na lâmina que, com um único golpe decepou a cabeça da serpente. A dor fez a fera recuar, aliviando a moça de seu peso esmagador. Nesse momento uma figura heroica de armadura e espada se apresentou ao combate. Ele seguira o rastro da criatura durante toda aquela manhã e alcançara seu alvo bem a tempo de impedir que uma nova vítima fosse morta. O cavaleiro posicionou-se entre a besta e a jovem.

A Saga de Arietis. Livro 1 - Fé (Completo)Where stories live. Discover now