Capítulo 10

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Hoje era dia de ligar para todos os lugares de tudo que minha tia encomendou para confirmar, porque tia Josie não confia nem na própria sombra.

O que aconteceu entre mim e David Porra há dois dias, sete horas e quarenta e três - opa, quarenta e quatro - minutos, no sótão, semi-deitados no colchão com aroma de pum de senhora, foi um momento isolado e não se repetiu mais. Eu nem lembro do que aconteceu, para falar a verdade. Nem sei a cor da camiseta que ele estava usando (laranja).

- Lyra, o Chris está na porta querendo te ver - Lana disse assim que eu desci as escadas.

David estava junto com ela na sala, e me encarou no estilo "Atende que eu fico puto". Atendi do mesmo jeito. Chris estava escorado na porta de um jeito muito sensual e a priquitinha não aguentou, coitada, tava a ponto de soltar fogos de artifício. Eu queria era transar com o David, não com esse aí. Troco fácil o corpo sarado de Chris por aquele palito de dente translúcido do David Porra.

- Olá, Chris. Por que nos contemplaste com o ar da sua graça?

- Olha só. Sua tia me ligou uns dias atrás dizendo que o casamento seria na praia. Porém, fui rever o convite, e aqui tá escrito que vai ser na casa dela.

- É... Eu poderia te explicar isso, mas eu nem sei direito o que aconteceu. Enfim, de qualquer forma, o seu presente você manda deixar aqui, a sua presença você manda deixar lá na praia.

Ele riu. Acho que as makes naturais diárias que eu faço ainda estão um pouco fortes, pois toda vez que esse menino me olha ele ri.

- Entendi... E aí? Tá sem fazer nada? Eu poderia entrar ou quem sabe você ir lá em casa.

Poderia, mas eu não quero, gato.

- Ai, sabe o que é? Estou lotadíssima de coisa para fazer. Minha tia pede minha ajuda a cada 5 minutos, e eu tenho que ajudar, sabe? É o casamento dela, tem que estar tudo perfeito e tudo mais.

- Ok. Se quiser eu ajudo... - Ele colocou um pé dentro da casa, achando que ia entrar. Chutei levemente.

- Não precisa, Chris. São coisas chaaaaaaatas e entediaaaaaaantes.

- Na verdade são bem legais - David nos interrompeu. Filho da puta. - E a tia Josie precisa de ajuda. Deixa ele entrar, Lyra.

Uma tarde inteira desperdiçada com Chris e minha irmã. Nós fomos ordenados a digitar os nomes de todos os 342 convidados para que fossem impressos aqueles papéis que marcam lugar. Depois nós tivemos que recortar e dobrar esses papéis. No segundo, Lana simplesmente disse que ia ao banheiro e já voltava.

- Ela não vai voltar, vai? - Chris perguntou, uma hora depois.

- A menos que tenha dado uma caganeira brava, não, ela não volta.

- Quer ir lá em casa depois? - Ele passou a mão na minha coxa.

- O que eu quero é acabar isso logo, tomar um banho e dormir.

- Lyra, aconteceu algo? Você está diferente comigo.

Ô tadinho. Não gosto dessa cara que ele faz. Por que Deus, por que eu só magoo essa criatura enviada pelos céus? Sua beleza exterior, e interior (da cueca)... Me deixam pasma. Fico pensando, às vezes, como nossos filhos seriam. Claro que eu estragaria a genética, então não seriam tão bonitos. Não vale a pena passar minha vida com quem eu não amo só por causa de filhos meio-bonitos.
Mais fácil já ter filhos feios com o David Porra, pelo menos eu seria mais feliz ao lado dele.

- Não é nada, Chris. Eu só estou meio cansada, sem vontade de nada hoje.

Ele assentiu com a cabeça e eu fiquei encarando-o. Chris merece coisa melhor. E eu estou empatando a vida dele. Ele não tem porque ir no casamento se eu mandar a real agora. Então não teria mais que vê-lo, e isso tornaria tudo mais fácil.

- O que foi? Por que está me encarando?

- Eu quero te falar uma coisa. Você não gosta de mim, gosta?

- Gosto, por que não?

- Não, mas digo... Pra namorar um dia.

- Ah, não sei. Não estávamos só curtindo? Você quer algo sério? Poderíamos tentar, mas é difícil com a distância.

- Não. O que eu menos quero agora é namorar você. É, essa foi forte. Não era pra ter sido tão grossa assim. Mas enfim... Lembra, há dois anos, quando eu meio que te dispensei? - Ele assentiu. - Foi porque eu gostava do David. E eu ainda gosto dele.

- O seu primo, você diz. Você gosta amorosamente do seu primo? Cê é doida, garota?

- É, eu curto meu primo. E eu achei que era loucura também, é loucura. Mas eu não consegui esquecer ele. E é isso. To querendo tentar algo, e sua presença meio que atrapalha. Então, se puder ir, agora...

Ele ficou em choque por uns instantes, mas logo se levantou.

- Uau. É, bom, não tenho mais o que dizer depois disso. Só... Se ainda quiser conversar, na amizade, só chama.

Dei um último beijo em sua bochecha e o conduzi até a porta. Foi difícil? Não. Mas imagino que para ele tenha sido. Porém sinto que fiz a coisa certa. Como eu estava toda sentimental, fui procurar David Porra e o encontrei novamente no sótão.

- Tá de gracinha agora, filhão? - perguntei, pois percebi que ele estava chateado.

- Achei que era um lance nosso...

- Em que ano estamos? 2016? Troca o disco, porra! Tu tá dois anos mais velho, já sabe se resolver melhor. Aliás, terminei tudo que tinha, se é que eu tinha algo, com o Chris. Então anda. Quer me namorar pede logo.

- Quero não.

- Como assim não?

- Não quero, Lyra, ué.

Sério que eu dispensei o Chris para, momentos depois, esse demônio estragar tudo?

- Não quer por que? Eu sou topzinha. Tenho peitos legais, deixo até você tocar. Toca aqui.

- Não vou tocar.

- Toca na minha teta, David.

- Não, Lyra. Você já parou para pensar nas consequências? Nossas mães e tia estão na mesma casa que nós. Não podemos assumir algo. Por mais que eu queira...

- Quer me namorar ou não? Estou confusa agora.

- Querer eu queria. Esperei por isso há tanto tempo. Mas não dá. Não dá. Namoro entre primos. Minha mãe, tua mãe e a tia Josie vão rir, e depois de dois segundos nos mandar para conventos de lados opostos do planeta!

Ele estava sentado com as pernas abertas. Eu me sentei naquele vão das pernas dele, e envolvi seus braços em meu corpo. Senti-lo  junto a mim parece ser tão errado, mas ao mesmo tempo, em meu peito, parece que está tudo certo, como deveria ser.

- É, bem que dizem de uns conventos femininos lá em Hong Kong... - brinquei e ele riu fraco. - Finalmente eu te conquistei. Finalmente estamos de boa. E eu não vou deixar você estragar tudo. Podemos ter um namoro escondido, oras. Seria uma aventura! Sei que você gosta de aventuras, Dora!

- Se me chamar de Dora de novo você morre.

2 SemanasWhere stories live. Discover now