Capítulo 11

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***Alex***

Eu e os caras, com exceção do Dave, estávamos no sótão. Johnny e Harry estavam jogando e eu estava esperando chegar a minha vez.

- Alguém já viu o horário da sessão do filme de hoje? - Johnny perguntou.

- Mas a gente vai mesmo no cinema? Vamos fazer algo mais barato, como... Ficar aqui, sem gastar dinheiro - falei.

- Alex, você está com 3 notas de cem na carteira. E não vai gastar com mais nada, porque eu também vi que sua passagem de volta já está comprada. PARA DE SER MESQUINHO.

- É, e o Dave já falou com a Lyra.

Eu e Johnny encaramos Harry, visivelmente confusos. Por que o Dave chamaria a Lyra?

- Quem mandou chamar ela? - Johnny perguntou.

Johnny é o único de nós que não gosta da Lyra, porém, como todos os outros gostam, ele é obrigado a suporta-la. Mas às vezes ele acaba deixando muito explícito seu descontentamento. O Harry ficou muito próximo dela da outra vez que viemos, mas não vi muito disso agora. Lyra está mais afastada, está diferente. O Dave gostava dela antigamente. Ele nunca chegou a nos falar com todas as letras, mas a gente sabia. Quer dizer, tava na cara... Mas agora não sei. Ele me disse que não gosta mais, porém ele também está diferente...

Eu particularmente gosto muito da Lyra, apesar de achar que ela não sabe disso. Ela é meio cuzona às vezes, mas sei que não faz nada por mal. Menos no dia em que trancou o fato demoníaco com o Dave no sótão. Aquele dia ela fez por mal. Porém ela melhorou, eu acho. Agora, vendo a irmã dela, percebo que o negócio é que ser meio doida vem de família. E ela é engraçada também. Não somos muito próximos, gostaria que fôssemos mais, mas sempre que dou uma investida pra nossa amizade rolar, a Lyra me olha do tipo "Sai, nojo".

- Estávamos só eu e ele na sala, Lyra estava na cozinha lavando louça. Eu falei exatamente assim "Dave, Johnny deu a ideia de a gente ir no cinema. Vamo?". Ele respondeu, sorrindo "Vamos!" E imediatamente gritou "LYRA, VAMOS NO CINEMA?" E Lyra respondeu "SIM", pois Lyra nunca diz não. E eu fiquei muito confuso, pois até ontem eles não se falavam.

É estranho mesmo. Não faz nem três dias que Dave e Aisha terminaram. Ele deveria estar triste ainda. Na verdade ele nem se abalou, continuou normal. Porém não falava com a Lyra. Desde que chegou aqui, ele andava evitando-a.

- Claro. Tá na cara - Johnny disse. - Apesar de ela ser uma retardada com ele, ele é legal. Você deve ter falado muito alto, Harry, e Dave sabe que ela certamente escutou. Então já a chamou logo.

- EU NÃO FALO ALTO! - disse ele, alto.

- Caralho, eu só queria ficar sem olhar pra cara de bunda dessa mina por algumas horas. Eu tô pedindo demais, meu Deus?

E pelo resto do dia Johnny ficou emburrado. Ele sempre costuma cantar no banheiro, e hoje foi uma música de sua autoria. O refrão era mais ou menos assim "FILHA DA PUTA, NÃO GOSTO DESSA FILHA DA PUTA, ME DESCULPA MÃE DA LYRA POR TE CHAMAR DE PUTA, MAS É QUE EU ODEIO ELAAAAAAAAAA". Dou nota 8, pois senti falta de um pouco mais de rimas e ficou fora do ritmo também.

Na hora de se arrumar, ele até estava um pouco melhor; mas isso não durou muito, pois logo a Lyra entrou no sótão.

- Tá cheirosão hein, Johnny. Gostei do seu desodorante.

Ele então agitou o seu aerosol e sem piedade espirrou na cara da coitada. Em seguida entrou no banheiro, batendo fortemente a porta.

- Lyra, você tá bem? - Dave se mostrou muito preocupado. - Deixa eu ver seus olhos, tenta abrir.

- Tá tudo bem. Só minha boca que tá com gosto ruim.

Dave então a abraçou de lado, aliviado, mas logo percebeu o que fez e soltou. Ele ainda gosta dela! ELE. AINDA. GOSTA. DA. LYRA. E a menina é uma sonsa, nem percebe! Nossa, Lyra, te achava mais esperta, garota. Tenho que ter uma conversa com ela, quero juntar esse casal.

- Desculpa por isso - falei. - Johnny tá de tpm.

- Eu percebi - ela disse, coçando os olhos.

- Você tá legal mesmo? Seu olho não tá ardendo nem nada?

- Tá tudo certo, David Porra. Não precisa se preocupar.

- Já disse para não me chamar de David Porra.

- Eu te chamo do que eu quiser. - E mostrou a língua para ele.

O filme era na sessão das 10. E até que chegasse o horário, Dave e Lyra ficaram nessas provocaçõezinhas nada engraçadas. Está na cara que um gosta do outro, eles só não querem demonstrar. ASSUMAM QUE SE GOSTAM, MEUS FILHOS. ESTOU SEM PACIÊNCIA JÁ. E Johnny também, pois fica toda hora cerrando os punhos e amassando notas fiscais. Até que ele amassou o próprio ingresso e parou. Harry só os olhava de um jeito intrigado, não sabendo exatamente o que estava acontecendo.

Na hora de comprar a pipoca, eu, como o bom economizador que sou, trouxe de casa, em uma sacolinha térmica que tia Josie leva marmitas. O refrigerante eu poderia roubar deles, pois todos compraram.

Mas na hora de entrar encasquetaram com minha bolsinha.

- Senhor, tem comida aí dentro? Não é permitido trazer alimentos que não sejam da nossa bomboniere.

- É minha insulina, sou diabético.

Eu menti parcialmente, pois tenho propensão a ficar, devido à minha mãe e minha avó serem. Então está tudo bem.

- Eu poderia dar uma olhada?

- Não.

E entrei na sala, colocando meu ingresso graciosamente em sua mão.

Escolhemos as poltronas lá de cima, e eu me sentei ao lado da Lyra, que estava na ponta. Dave ficou me cutucando.

- Dave, eu não vou te dar minha pipoca!

- Eu sei que não, Alex. Então poderia trocar de lugar comigo? Eu vou dividir com a Lyra.

Trocamos então de lugar e o filme logo começou.

- Quem foi que escolheu essa porra 3D? Não tem como uma pessoa usar dois óculos ao mesmo tempo! - Harry reclamou, tentando colocar o minúsculo óculos 3D por cima do seu original.

E então, no meio do filme eu me virei para roubar a pipoca da Lyra, porque a minha já tinha acabado (a bolsinha de marmita da tia Josie não era muito grande), e vi os dois se beijando. É uma palhaçada isso... Quem é que paga dois ingressos para nem ver o filme?

2 SemanasWhere stories live. Discover now