19. Faça Isso Por Nós

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5 meses mais tarde

Sábado, 02:48 PM

Termino de fazer meu chá e pego devagar na grande xícara amarela, me dirigindo com cuidado para o sofá. Eu estava maratonando séries desde manhã, enrolada em um cobertor fofinho e leve. O dia estava frio hoje, então eu estava aproveitando como podia.

Ontem foi meu último dia de trabalho por um tempo. Não estava fazendo muitas coisas, apenas trabalhando com edições e fazendo companhia para Brandon em sua sala na maior parte do tempo ultimamente.

Ele também saiu para poder ficar comigo. A essa altura, é mesmo necessário ter uma companhia. Como havia novos funcionários, não foi preciso que ele ficasse na empresa, então saímos sem preocupações.

Estávamos focados em nossa pequena bebê que viria em breve, pensando no conforto e futuro dela. Combinamos de deixar para resolver as coisas do casório no ano seguinte.

Ontem fizemos uma pequena despedida por ser meu último dia na empresa até que a bebê complete 6 meses. Eu saí de licença apenas ontem, com oito meses de gestação, apesar de que era para ter saído muito antes. Eu não quis ficar desocupada, queria trabalhar até quando desse e assim fiz e estaria fazendo, se não fossem meus pés inchados e a médica me dando uma baita bronca.

Como se fosse um flashback daquele dia em que Zayn voltou atrás pela primeira vez e tentou vir em meu apartamento, o interfone tocou, e logo anunciaria uma Malik tentando contato.

Brandon estava no pequeno escritório, verificando alguns emails considerados urgentes e de importância para enviar ao irmão mais velho que pediu ajuda em algumas coisas que estava resolvendo. Nem em casa esse homem sossega. Provavelmente, ele está usando os fones no último volume, por isso não o vi vindo atender.

Me levantei e deixei o chá na pequena mesa de centro, indo atender o interfone:

- Sim? - Atendo em tom contente, porém de curiosidade. Não estava esperando ninguém hoje, nem Brandon.

- Srta. Bernier? Boa tarde, tem uma mulher que deseja muito falar com você. Ela chegou faz alguns minutos e pedi para que aguardasse um telefonema.

- Bom... - Ergo a sobrancelha confusa. -Falou sobre o que queria tratar comigo?

- Ela só disse que é muito urgente e estava parecendo ter chorado. Ela parece abatida. - Ele faz uma pausa e me pego pensativa, tentando adivinhar quem seria a ilustre visita numa tarde de sábado com a neve caindo em Londres. Antes que eu pudesse dizer algo, ele prossegue. - O nome dela é Trisha Malik.

Afasto o telefone por uns segundos, um pouco espantada. Trisha? O que aconteceu de tão grave para que a mãe de Zayn viesse me procurar? E como ela conseguiu meu endereço?

- Meu Deus... Pode mandar ela subir, Will. Obrigada. - Desligo, voltando a colocar o aparelho no gancho.

Se eu bem conheço Mabel, Trisha conseguiu convecê-la a dar meu endereço. Ela era durona mas nem tanto, e não teria a coragem de negar algo para uma mãe que pelo que parece, está... sofrendo?

Me apresso em arrumar o sofá e ir guardar o cobertor no quarto, voltando para a sala no exato momento em que a campainha toca. Arrumo levemente meu cabelo que está solto e alcanço a porta, destrancando e abrindo.

- Céus, ainda bem que você me deixou subir! - Ela caminha rápido até mim e me abraça fortemente, parecendo buscar algum amparo ou conforto. Eu senti isso e retribui.

- Trisha! - A afasto após um tempo e a olho. - O que houve? - A afasto da porta e tranco a mesma. - O que é urgente que precisa falar comigo?

- Ell - Ela pega em minhas mãos e me olha triste. Suas olheiras estavam aparentes, ela estava cansada. - Eu preciso muito que você me faça um favor. Por favor, ainda mais agora que vai ser mãe. - Ela olha minha barriga. - Atenda o pedido de uma mãe desesperada e angustiada. Faça por mim, por Zayn.

Antes que ela comece a aprofundar seu choro, a sento no sofá e me sento ao seu lado.

- Se acalme.. Me conte o que aconteceu. - A olho e seguro suas mãos, olhando em seus olhos com toda atenção.

- Algum tempo atrás, Zayn me ligou completamente arrasado. Ele chorava muito e dizia que sua ficha tinha caído. Eu não entendia muito bem, então ele me explicou que doía aceitar o fato de que você nunca mais seria dele, de que nem mesmo o seu perdão que era o que ele mais queria, ele teria. Se culpou, se xingou horrivelmente e chorava ao ponto de ter soluços. Disse que nunca iria perdoar a si mesmo, que esse peso estaria com ele para sempre. O peso do que fez com você no passado... - Trisha faz uma pausa e limpa algumas lágrimas.

- Acho que isso talvez tenha sido depois do dia em que pedi-lhe para desaparecer da minha vida. - Falo baixo e um pouco envergonhada.

- Foi exatamente esse dia que ele se referiu, o dia em que se viram pela última vez. Ele me disse. Essa ligação foi alguns dias depois de terem se visto pela última vez e até então, ele já tinha usado as drogas em uma tal festa na casa dele. Uma garota que estava lá me confessou. - Trisha respira fundo. - Mais alguns dias depois da ligação, eu lhe fiz uma visita e descobri que ele estava se afundando nas drogas. Drogas pesadas, como cocaína e outras mais. Eu descobri depois que quem lhe apresentou essas drogas novamente, foi Frank. Isso acabou comigo, me destruiu.

Me lembro imediatamente do dia em que me encontrei com Frank por acaso, por quase ter o atropelado. Ele me disse que estava indo ver Zayn e mais algumas pessoas... Eu não acredito. Foi aquele o dia em que Zayn começou a usar essas outras drogas. No dia em que o expulsei de vez da minha vida.

- Eu briguei com ele e tentei tirar ele daquela situação, mas ele começou a ter um comportamento agressivo e de certa forma perigoso. Tanto para as pessoas ao redor quanto para ele mesmo. Tivemos que internar ele e ele parecia ter se recuperado. Ele nos implorou para voltar para casa, disse que nunca mais usaria ou chegaria perto das drogas. Assim que chegou, organizou uma festa com a família e alguns poucos amigos, os quais não conhecíamos. Depois que fomos embora e só ficaram esses tais amigos, ele colocou diversas drogas sobre a mesa e começou a usar com os demais. Dentre elas, também haviam drogas injetáveis.

Ouço tudo sentindo um aperto no peito, temendo o rumo que a conversa teria. Ele estava vivo? Eu estava me corroendo e com medo de saber o que havia lhe acontecido como consequência desses acontecimentos.

- Então... Há três dias atrás, na madrugada daquela festa, ele teve uma overdose na casa dele. - Ela volta a chorar e meu coração se parte por vê-la sofrer. A dor que uma mãe sente não se compara com nenhuma outra. - Ele ficou desacordado por três dias completos e acordou hoje pela manhã. Quando se recompôs, a primeira coisa que disse foi que ele precisa do seu perdão. Nem que seja a última vez que vocês se falem, ele precisa que você o perdoe e pediu para eu vir te procurar. Então por favor, faça isso por nós.

Ela me olhava com um olhar suplicante. Eu não podia negar um pedido tão desesperado de uma mãe. Então não pensei duas vezes.

Eu iria visitar Zayn e lhe dar o meu perdão.

Não seria apenas por dó ou possível sentimento de culpa ou só porque Trisha me pediu. Seria de coração, eu iria lhe perdoar de verdade. Talvez fosse a hora.

- E aliás, me desculpe por aparecer aqui sem nenhum aviso. - Ela limpa suas lágrimas e respira fundo. - Eu não tenho mais seu número faz anos, eu consegui seu endereço com uma ruivinha muito simpática na empresa em que você trabalha. Cheguei lá por meio do endereço marcado no cartão que estava na carteira do Zayn.

Eu sabia. Mandou bem Mabel. Ela não teria coragem de negar algo para uma mãe nessa situação.

- Está tudo bem querida, não se desculpe. - Sorrio simpática para a mesma, que me retribui em meio a uma dor evidente. - Eu vou. Nós iremos neste instante, só preciso avisar meu noivo. Beba uma água, okay? Vou pegar.

Me levantei depois de dar um outro abraço breve em Trisha e fui em busca de um copo de água fresca, voltando para lhe entregar.

Entreguei a chave do meu carro para ela e pedi para que me esperasse lá dentro, no estacionamento, prometendo que não iria demorar. Eu só iria falar com Brandon. Avisar que iria ao hospital ver Zayn e explicar o que aconteceu com ele. Sei que mesmo com aquela preocupação excessiva e o ódio intenso por Malik, ele entenderia.

Aliás, muitas coisas mudaram em nós como um casal depois que aceitei seu pedido de casamento. Mas foi uma mudança para o melhor, e com isso, estamos muito felizes.

Nós amadurecemos. Eu amadureci.

I Lied [Concluída]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن