2. Sequestrado ou salvo?

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   - ESTAMOS SENDO ATACADOS!! - Gritou Bocão, entrando de súbito na casa do chefe. Stoico e Valka imediatamente pararam de brigar, e a mulher empalideceu. Soluço!

   A guerreira subiu rapidamente ao quarto do filho para protegê-lo, mas gritou em surpresa ao ver que ele não estava ali.

   - O que foi?! - Perguntou Stoico, já pronto para sair

   - Soluço não está aqui!

  Stoico quem perdeu a cor desta vez. Imediatamente saiu da cabana com a esposa, ambos gritando pelo filho a plenos pulmões. O chefe ordenou que os outros lutassem e ficassem de olho para caso o garoto reaparecesse, e foi em direção ao pântano quando Valka gritou que procuraria na floresta.

  Enquanto isso, Soluço e Astrid corriam como loucos - ou pelo menos, Astrid corria. Soluço apenas movia as pernas sendo puxado pela garota, fraco como estava. O dragão não parecia tê-los notado, mas sobrevoava a floresta como se aguardasse uma nova presa.

  Quase desesperada, a loira finalmente avistou algo que pudesse escondê-los do terror que pairava sobre suas cabeças, uma árvore oca grande o suficiente para abrigar as duas crianças. Era apertado, mas teria que servir. Astrid ajeitou-se ao lado de Soluço ali dentro e notou que ele estava branco como papel. Estava tão apavorado que mal respirava, apenas olhava de um lado para outro esperando que uma enorme bocarra o devorasse.

  - Acalme-se! - Sussurrou a garota - Ei, ei, olha pra mim.

  O menino a fitou, ainda chiando.

  - Estamos seguros - Ela disse, segurando os ombros do outro - Respira assim, olha.

  Ela inspirou bem lentamente e Soluço tentou imitar, forçando-se a ficar calmo. Então ela expirou e ambos suspiraram. A cor estava começando a voltar ao rosto do garoto, e Astrid sorriu. Então o Dragão pousou logo à frente da árvore em que estavam, olhando diretamente para eles.

  O medo cresceu dentro da garota sobrepondo-se a coragem que ela tentava manter, mas não a impediu de abraçar o amigo a fim de protegê-lo. Não havia escapatória. Eles morreriam.

  Astrid quase se conformava com a morte quando Soluço saiu do esconderijo empunhando seu pequeno punhal apontado para o Dragão. O que aquele idiota estava fazendo? Ele olhou para ela e mexeu os lábios, que formaram um "corra" rápido - e assim ela fez. Saiu correndo, com toda a velocidade em direção à saída da floresta.

  O Dragão apenas fitou o horizonte no qual Astrid desaparecia e bufou, voltando a encarar o menino que lhe apontava a adaga. Era estranho, o menino não parecia com os Vikigns que já tinha visto. Pequeno, magro e aterrorizado com a visão do grande ser à sua frente. Levou um tempo até perceber que era um filhote, então se aproximou.

  Soluço deu alguns passos para trás e gritou com o Dragão mostrando a arma que empunhava, mas este apenas usou a cauda para jogá-la longe e parou em frente à criança, o encurralando contra uma árvore.

   - O que há com você, humano? - Perguntou o Dragão em sua língua - Eu sou Pula-Nuvem, prazer.

  Embora Pula-Nuvem se considerasse um exímio orador, tudo o que Soluço escutou foram grunhidos e guinchos, embora estivesse fascinado pela tentativa de comunicação do Dragão.

   - V...Você tá tentando falar comigo... - Ele realizou, extasiado - ...né?

  Para um menino nervoso e com medo, qual foi a surpresa de Soluço ao perceber o Dragão assentindo. Abaixou a cabeça para a esquerda para ver as asas e percebeu que Pula Nuvem fazia o mesmo, o imitando. Sorriu e levantou uma mão. O dragão fez o mesmo. O garoto perdeu quase completamente o medo quando, ao sorrir, seu novo amigo tentara fazer o mesmo.

  Estava aliviado por não ser o jantar e feliz por poder ver um ser como aquele tão de perto, mas seu êxtase teve um fim quando sentiu um arder nos pulmões e voltou a tossir. Tossiu, tossiu, até que o fôlego quase acabou e ele caiu de joelhos no chão, a exaustão pelo dia agitado o atingindo junto com a febre que não o havia deixado por completo.

  Pula-Nuvem encarou Soluço com ar interrogativo, se perguntando o porquê de o menino estar fazendo aquele barulho. Abaixando-se cheirou o corpo frágil do humano, chegando à conclusão de que estava doente, e pelo jeito morreria logo.

   - Você está muito doente, filhote - Avisou Pula-Nuvem - Precisa de um curandeiro.

  Soluço queria, mas não conseguia compreender o que o dragão dizia, além de estar um tanto ocupado tentando respirar e tossir ao mesmo tempo. A dor aumentou junto com o frio, e ele se encolheu chiando. Queria seu cobertor quentinho e um livro para ler. Queria sua mãe.

   - Para sua sorte - Continuou o dragão - O Grande Rei Branco consegue curar qualquer coisa! Se quiser posso te levar até ele, não fica tão longe!

  Como o humano não respondeu, Pula Nuvem tomou liberdade para segurá-lo com suas patas para alçar vôo. Teria ido embora ali mesmo se uma lança o tivesse afastado no mesmo momento.

  - SOLUÇO! - Gritou Astrid, logo atrás de Stoico - CORRA!

  Stoico correu como um raio até Soluço e o levantou, voltando a correr com direção à aldeia. Bradava inúmeros insultos ao dragão enquanto incentivava o filho a correr mais rápido - o que não aconteceria, uma vez que a criança estava tão fraca quanto antes de fugir de casa.

   - Não! - Rugiu o animal, chocado - Ele vai morrer se não o levar!

  Mas Stoico já estava longe. Correu até Valka, que se defendia dos espinhos de um Nadder Mortal com um escudo ao mesmo tempo que martelava com uma maça a cabeça de um Gronkel. Livrando-se dos dois correu até Stoico, que trazia agora nos braços Soluço, que tremia e tossia, com respiração descompassada. A mulher o tomou do marido e o aninhou nos braços como se fosse um bebê, virando-se para escondê-lo junto das outras crianças no abrigo. Chamou também Astrid.

  Porém, mal tinha Valka começado a correr e o Dragão pousou acima dela, a prensando contra o chão. A mulher gritou e tentou incentivar o filho a correr, mas o menino mal abriu os olhos. Foi então que, surpreendendo a Viking, a fera se afastou e a encarou. Ela se levantou com Soluço nos braços e Astrid nas costas e encarou de volta, pasma. Quando ela finalmente imergia numa ligação com os olhos do Dragão que este tomou dela o seu filho e alçou vôo para longe.

  - SOLUÇO! - Ela gritou, lançando a maça ao chão e correndo atrás da fera - SOLUÇO, VOLTE!

   - VALKA - Stoico a segurou e abraçou, sentindo ela espernear a debater

   - Me deixe, ele vai levar o meu filho! - Valka não controlava mais as lágrimas - Meu menino!...

  O marido a abraçou quando ela parou de se debater e também permitiu que as lágrimas caíssem. Seu filho estava morto.


[Como prometido, aqui vos trago com prazer o segundo capítulo. O próximo pode ser postado no dia 28/04 ou 30/04, dependendo de alguns fatores. Espero que gostem!! ❤]

Dragon BloodWhere stories live. Discover now