Lidando com a dor.

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Às vezes as pessoas enxergam a solidão como um capricho de quem está passando por isso e muitas das vezes não dão a atenção necessária que quem a enfrenta tanto precisa.

Safira sempre soube como é difícil passar por isso, ainda mais sendo quem ela era.

Durante anos e anos ela foi abusada dentro da própria casa pelo tio e pelos primos.

Não era fácil ser a filha do presidente dos Estados Unidos.

Sua obrigação era estar sempre apresentável, sorrindo para as câmeras como se sua vida fosse um mar de rosas. Mas ela sabia que não era assim, na verdade passava bem longe disso.

Seu pai sabia dos abusos mas por algum motivo desconhecido por ela, ele nunca interferiu para ajudá-la. Apesar de ele nunca ter demonstrado afeto por ela, ver ele virando as costas e ir embora enquanto ela era violentada pelo tio destruiu uma parte do seu coração.

Ela sentia falta da mãe. Sentia falta da maneira dócil como ela a tratava, de toda a preocupação e amor que nutria por ela. A madrasta não era uma má pessoa mas não interferia nos "assuntos pessoais do marido".

Leyla jamais bateria de frente com seu pai para defendê-la. Sua madrasta sabia bem o poder que o marido tinha e ir contra suas ordens era assinar seu atestado de óbito.

Safira estava cansada de ser torturada e ter que mostrar ao mundo que estava feliz, quando na verdade estava tudo ruindo abaixo de seus pés.

Ela estava na cozinha, não deveria estar mas estava. Safira não podia sair de casa sozinha e não tinha amigos, então vivia no quarto e só saia a noite para respirar um pouco.

A cozinha era o único lugar onde podia fazer isso em paz. Seu pai raramente ia até lá, assim como os outros ocupantes da casa. Era um alívio poder respirar tranquilamente.

_ Olha só se não é minha sobrinha adorada...

A voz grave do tio soa as suas costas e com o susto Safira deixa o copo que estava segurando escapar das mãos e se estatelar no chão causando um barulho incômodo.

_ Te deixo nervosa querida?

Ele se aproxima e acaricia sua pele. Instantaneamente os músculos do corpo de Safira se retraem com as lembranças dolorosas das torturas que ele a submetia.

Safira se afasta e caminha receosa para trás até sentir o contato frio com a bancada da pia. A essa hora provavelmente todos estavam dormindo e não adiantaria ela gritar. Isso nunca tinha funcionado antes, por que daria certo agora?

_ Já tem algum tempo que a gente não se diverte junto. O que você me diz de relembrarmos os velhos tempos?

Seu tio avança em sua direção se esquivando dos cacos espalhados pelo chão e segura firme o seu cabelo.

Ele cheira seu pescoço e o aperta com a mão livre. Safira vira o rosto tentando evitar o contato dos lábios do tio com o seu. Mas não adiantaria resistir, ele era mais forte.

Ela prende um grito quando sem um pingo de delicadeza, ele rasga a parte de cima do seu pijama deixando seu sutiã a mostra.

John observa o corpo de Safira com desejo enquanto ela tenta segurar as lágrimas e mandar as lembranças ruins para longe.

Ela queria gritar e pedir por ajuda mas de nada adiantaria. Se o próprio pai havia lhe virado as costas, quem se atreveria em ajudá-la?

As mãos do homem sob seu corpo eram pesadas e seus toques eram cruéis. Ela ainda tinha cicatrizes das inúmeras vezes em que se recusara a satisfazer seus desejos e era castigada.

Ela estava cansada, extremamente cansada de passar por isso. Queria ter uma vida normal, ser livre para fazer suas escolhas e construir sua própria felicidade. Mas as mãos do tio sobre sí eram a prova de que isso jamais passaria de um sonho impossível.

Safira avista uma das facas da cozinha que estavam próximas a sí e cogita a possibilidade.

Por inúmeras vezes ela tentou fazer aquilo contra a sí própria mas nunca teve forças suficiente.

Seus pensamentos estavam turbulentos.

Medo, Insegurança, Raiva e acima de tudo, Nojo.

Nojo do tio, dos primos, do seu próprio pai, e principalmente dela mesma por se permitir passar por isso.

Em um lampejo de Raiva Safira agarra a faca desferindo um golpe contra o tio que ruge de dor.

_ Sua vadia imunda!

Safira se afasta para o outro lado do cômodo olhando perplexa para suas mãos trêmulas segurando a faca ensanguentada.

Seu tio na tentativa de a alcançar acaba pisando nos cacos e a praguejando por isso.

O ferimento na barriga do tio apesar de estar sangrando muito, não parecia ser tão grave. Felizmente ou infelizmente ele ficaria bem.

_ Eu vou acabar com você sua vadia.

Safira se apressa em sair da cozinha mas para ao ver Lena, sua irmãzinha inerte na porta olhando para suas mãos cheias de sangue.

Ela era a filha casula de seu pai com Leyla. Era a única coisa boa que existia entre a podridão daquela casa e naquele momento, Safira percebeu que havia se tornado tão podre quanto todos eles.

_ Lena calma.

_ Para!

Lena grita enquanto lágrimas começam a brotar de seus olhos. Ela intercala seu olhar entre o tio ferido e Safira com as mãos ensanguentadas e começa a se afastar lentamente.

_ Lena, eu não vou te machucar. Por favor, espera.

Safira já estava desesperada, não tinha se dado conta da burrice que havia feito e agora Lena estava com medo dela.

Ela tenta se aproximar mas Lena recua e acaba caindo ao tropeçar em uma mesinha na sala.

_Lena meu amor, espera. Por favor.

_Sai, você tá me assustando.

Ela começa a gritar e instantaneamente três seguranças adentram a casa e seguram Safira pelos braços tomando a faca de suas mãos.

Segundos depois seu pai aparece no topo da escada com uma expressão furiosa que a fez estremecer da cabeça aos pés.

Seu pesadelo estava apenas começando e tudo que ela queria, era apenas acordar.

A filha do Presidente
Por: Cremosinha007
Ano:2019
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A Filha Do PresidenteWhere stories live. Discover now