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Um tempo após a morte de meu pai eu me "recuperei" do luto, me olhei no espelho e pensei "Você não vai chegar a lugar nenhum desse jeito, ele não vai voltar, você precisa seguir em frente".

Eu não estava bem de verdade, não estava pronta, acho que eu estava mentindo para mim mesma, eu nunca ficaria bem.

Mas quem sabe minha mãe não fosse melhorar se visse que eu e Alissa estávamos bem?

Decidi começar a trabalhar. Depois de muito procurar consegui um emprego em uma cafeteria, eu gostava de trabalhar lá e o salário era bom para uma estudante.

Minha vontade era de alugar um apartamento e ir morar sozinha, mas não queria deixar minha mãe, ela ainda estava muito abalada.

Com minha rotina eu sequer via mais Alissa, quando eu chegava ela já estava dormindo e quando eu acordava ela já não estava mais no quarto.

Era o aniversário de uma de nossas tias em um sábado, eu não trabalhava e não precisaria estudar pois tinha adiantado os trabalhos.

Por onde passávamos as pessoas lamentavam por meu pai. Alguns familiares nem olhavam para mim, mas quando viam Alissa, diziam o quão linda e grande ela estava.

Eu recebia isso como um elogio indireto, afinal, somos gêmeas.

Muitos ainda acreditavam nas palavras de Alissa, quando ela tinha tempo ela ainda me infernizava, mas que inferno! Ela não cresce? Como sobra tempo para me infernizar sendo que ela tem tantas matérias da faculdade de medicina?!

- Está namorando minha querida? - Pergunta a madrinha de Alissa.

- Não - Alissa responde sorrindo - Estou procurando a pessoa certa.

- Oh, entendo, um que sua irmã não se interesse, suponho.

Alissa me olhou de cima abaixo - Isso foi a muito tempo madrinha - Ela responde rindo, falsa - Eu sei que Ária nunca faria isso comigo novamente, afinal ela cresceu - E você? Não cresce?

- Para ela fazer isso ela teria que gostar de homens igual Alissa - Um familiar responde.

- Mudou de lado Ária? - Outro familiar me pergunta.

- Não - Respondo - A querida sobrinha de vocês inventou isso.

- Ária, não jogue a culpa em mim se você não quer se assumir, eu nunca faria isso com você.

- Deixando claro para vocês - Digo me levantando do sofá - Não sou lésbica, e se eu fosse isso não seria do interesse de vocês - Minha mãe me repreende com o olhar, indício de que vou escutar muito quando chegar em casa, mas isso pouco me importava no momento - Se me dão licença, eu vou embora - Digo saindo, felizmente minha casa não era longe.

Comecei a pensar em minha vida enquanto caminhava por aquela rua escura. Em um passado distante eu provavelmente havia cometido pecados graves, essa era a única explicação plausível. As pessoas da minha família são só uns preconceituosos prontos para jogar ódio em qualquer um, Alissa sabia disso, justamente por isso ela inventou aquilo.

Não via nada de errado em gostar de pessoas do mesmo sexo, ninguém tem que ditar de quem você gosta, o que importa é gostar de verdade.

Assim que chego em casa, me preparo mentalmente pois iria ouvir muito de minha mãe, "você se comportou muito mal Ária! Vai pedir desculpa para seus tios agora!"

Foi exatamente isso que aconteceu.

- Ária - Minha mãe diz firme ao entrar no quarto.

- Sim?

- O que foi aquilo? Você nunca foi tão desrespeitosa, primeiro o ocorrido com sua irmã, agora isso, onde você vai parar desse jeito?

- Eu só estava me defendendo, vocês nunca me escutam.

- Filha, não tem nada errado em gostar de garotas.

- Mas eu não gosto! E é disso que eu estou falando! Ninguém dessa família me escuta!

- Não altere a voz comigo Ária.

- Mãe, eu só queria que você me entendesse.

- Ária, não tem o que entender, você está ficando rebelde, tem que entender que você cresceu e agora tem responsabilidades na vida, quem me dera você fosse igual Alissa.

Aquelas palavras me deixaram mal.

- Infelizmente eu nunca vou ser como ela, a senhora pode ir lá com a sua filha agora.

- Como assim "minha filha" Park Ária? Vocês são minhas filhas.

- Já sabemos quem você prefere.

- Você sabe que eu não tenho preferência entre vocês duas - Quando ela termina eu solto uma risada com resquícios de deboche, ela ao menos estava se ouvindo?

- Claro, foi isso que você quis dizer com "quem me dera você fosse igual Alissa".

- Nenhuma mãe tem preferências entre os filhos Ária, não seja dramática, amanhã você vai se desculpar com seus familiares e com sua irmã.

- Por que eu me desculparia com ela?

- Você disse que ela inventou coisas sobre você.

- Exatamente, essa é a verdade.

- Chega Ária! Está de castigo! Você mora no meu teto e vai me respeitar, assim como vai respeitar sua irmã.

Aquela foi a gota d'água.

- Ah sim - Sorri da mesma forma que havia feito anteriormente - Eu respeito todos, mas ninguém me respeita, entendi - Passei a olhar em seus olhos, completamente cansada daquela conversa e de toda a situação - Talvez eu devesse ir embora daqui então.

- Sobre o que está falando Ária?

- Eu vou começar a procurar um apartamento ok? Tenho dinheiro porque eu trabalho, espero que a senhora fique bem com sua filha.

- Ária! Você não vai embora!

- Um dia eu vou ter que ir de qualquer forma, não faz diferença se for agora ou daqui um tempo, obrigada por tudo, mas eu vou embora.

You are the cause of my euphoria;; JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora