Um café, discos velhos e despedidas.

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"Você tem um jeito com palavras
Você me faz sorrir mesmo quando sofro
Não tem jeito de medir o quanto vale seu amor
Não acredito no jeito que você consegue me atingir."

É a primeira vez que eu acordo antes do Shawn, não por vontade própria, claro. Eu tive uma noite de sono atribulada, diversos pesadelos seguidos de despertares assustados não me deixaram dormir tranquila, então ainda com os primeiros raios de sol, eu resolvi levantar. Preparei um chá de camomila de saquinho que encontrei nos armários praticamente vazios do Shawn, vesti um conjunto de moletom qualquer dele e fui para a sua varanda, observar a cidade.

Senti o abraço gelado do vento assim que coloquei o meu corpo para fora, o chão estava úmido pela chuva que tinha caído durante a noite, mas mesmo cinzenta, Toronto ainda era linda, tão agitada e diversificada quanto qualquer capital pelo mundo afora. Soprei o vapor quente da caneca antes de beber um pouco do chá, mas o sabor de coisa velha acabou me fazendo desistir da bebida e apoiar o copo ao meu lado. Esfreguei as mãos para afastar o frio, encarando as ruas cobertas de neve lá embaixo, pensando em como a minha vida estava resumida a uma grande bola daquele gelo branco.

Eu vinha evitando pensar a respeito de tudo o que tinha acontecido desde sexta-feira, na verdade eu estava empurrando tudo para um lugar escuro e abandonado do meu consciente. Não quero ter que analisar toda essa situação ou setorizar todos os meus sentimentos em relação ao Shawn, quando estou com ele é tudo tão intenso e real, cada mínima sensação que ele desperta em mim é tão boa, desde o aconchego de seus braços quentes até o arrepio que os seus beijos molhados na minha nuca provocam em minha pele, tudo isso é tão fantástico que a minha covardia me impede de ser racional. Então, eu continuo empurrando tudo para debaixo do tapete.

Volto para o quarto e a imagem que eu tenho de um Shawn totalmente esparramado sobre a cama, com o braço tapando os olhos é maravilhosa. A ideia de observar alguém dormir sempre me pareceu sinistra, mas ver os traços relaxados do rosto dele enquanto ronronava baixinho me faz ficar presa ali. Shawn sempre está correndo, seu trabalho exige fácil adaptação, não imagino o quão cansativo deve ser ter que cada noite dormir em uma cama diferente, numa cidade diferente e com um fuso horário diferente, por isso decidi deixá-lo descansar mais um pouco.

- Sabia que é feio encarar as pessoas dormindo? - salto no lugar quando ouço a voz dele embriagada pelo sono. Contrariando toda a minha ideia de deixá-lo dormir até tarde, Shawn abre os olhos preguiçosamente.

- Você me assustou, garoto.

- Você fica me observando dormir igual uma psicopata e eu é quem te assustei? - ele ergue o tronco para se espreguiçar, virando para me olhar em seguida. - Bom dia, Lily. - seu rosto amassado e com marcas do edredom é tão fofo que eu gostaria de ter o meu celular por perto para registrar. Em contrapartida, a voz é um melódico e sexy som rouco.

- Bom dia, Shawnny boy. - sorrio para a cena de um Shawn totalmente sonolento esfregando os olhos.

- Eu estou morrendo de fome e nem um pouco afim de comer cereal.

- Sua geladeira está vazia, na verdade, eu não sei como você vive aqui sem comida.

- Eu quase não estou em casa por mais que duas semanas, quando estou na cidade revezo entre comer nos meus pais ou pedir comida, não é como se eu precisasse de armários abastecidos.

- Então, para que tantos armários?

- Veio com o lugar, assim como quase toda a mobília. - ele deu de ombros. - Mas e então, alguma ideia do que vamos comer? - neguei, sentindo a tristeza da fome de apoderar do meu corpo. - Tem um café aqui perto, eu gosto de lá, se você estiver afim, a gente pode tomar café lá e depois voltar.

Fallin' All in YouKde žijí příběhy. Začni objevovat