Capítulo 3

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Capítulo 3

Arthur

Acordei com o coração pesado hoje, há dias que simplesmente a tristeza se instala na gente sem motivos, chega e pronto. A clínica hoje está uma loucura, eu e Alan, mal estamos dando conta da área pediátrica, uma das crianças chegou muito debilitada e o quadro clínico de dengue hemorrágica não nos permitiu fazer muito e infelizmente não conseguimos salvá-la Isso me destrói. Chego em casa, e após um banho e um jantar rápido, já estou cochilando quando meu celular toca. A voz de Christina Aguilera com a música Say Something, me acorda completando esse dia pesado.

Estou me sentindo tão pequeno

Foi demais para minha cabeça

Eu não sei absolutamente nada

E eu

Tropeçarei e cairei

Eu continuo aprendendo a amar

Estou apenas começando a engatinhar

Porque não há nada mais justo que colocar uma música triste quando você está no fundo do poço, nada como algo que te lembra da pessoa que você gosta, para completar a sua fossa. Fico tão perdido na música que acabo esquecendo de atender o telefone, olho no visor, era a Sandy, tento retornar, mas não consigo falar com ela, está desligado. Jogo o meu celular de qualquer jeito no criado mudo e acabo derrubando alguma coisa, sento na cama e olho o porta retrato com uma foto dos meus pais espatifado no chão, sinto uma saudade enorme se apoderar do meu coração.

Sorrio e pego-a lembrando do sufoco que foi para tirá-la. Minha mãe se contorcia querendo levantar da rede e meu pai a segurava fazendo cócegas. Por fim, a peguei o beijando e tirei a foto no momento certo. Sua cabeça estava levemente arqueada e ambos sorriam com alguma piadinha interna. Quase me senti um invasor. Quase. Exceto por que naquele dia eu queria ser fotógrafo e estava testando as minhas "habilidades".

Foi a última foto deles juntos. Logo depois o câncer apareceu e a levou de nós para sempre. Foi o dia mais triste da minha vida...

―A mamãe já está indo... Mas não pense que irá se livrar de escovar os dentes antes de dormir, ou levar o lixo pra fora. E ajude seu pai, você já é um homem, um rapaz lindo.

―Pode deixar. ― Sussurrei em meio às lágrimas.

―E... Arthur? ―Ela chamou baixinho, me aproximei ainda mais.

―Estou aqui mamãe.

―Nunca esqueça dos valores que te ensinei, filho. Ame a Deus e ame ao próximo. Por que no final da vida, são nossos valores que levamos, não os nossos bens materiais. Seja um homem de bem e nunca, jamais esqueça que eu te amo mais que tudo. ― Me agarrei a ela soluçando. Lembro meus gritos e dos braços fortes que me rodeavam me arrastando do local.

―Pareeeeem, estão assustando ele! ―Mesmo debilitada a minha mãe gritou tão forte que todos pararam de me segurar e corri para perto dela novamente e a abracei.

―Eu te amo, mamãe. Eu te amo. Amo muito, não vai embora. ―Minha súplica era carregada pela rouquidão na minha voz. Lágrimas descem pelos meus olhos com a lembrança.

―Xiii não chore, eu estou aqui. ―Suas mãos acariciavam os meus cabelos. ―Ainda tenho tempo, não chore. Não chore meu menino.

Meu pai que sofria junto comigo nos envolveu em um abraço de urso. Choramos juntos.

―Viu filho? Você nunca estará sozinho. Lembra que a mamãe falou que o amor não morre? ―Meu pai fala e confirmo.

―Amor de verdade não morre nunca. Arthur, mesmo que você não possa me ver. O meu amor estará com você para sempre.

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