O MÁGICO E O VELHO

334 77 315
                                    

A lua crescente se esconde em meio às nuvens, deixando o mar que divide as Ilhas Gêmeas do Sudeste de Arasmo no mais completo breu. Famílias sensatas, à meia-noite que se aproxima, descansam seguras em terra firme. Esse não é o caso dos tripulantes e convidados do navio "Vitória", que apresenta mais um de seus shows em alto-mar. Esta noite o Grande Mágico agracia as águas do Leste com sua estonteante presença. A multidão, é claro, está embevecida.

Cada final de espetáculo é o início de uma festa, e hoje não será diferente. O pequeno navio volta para terra firme enquanto são recolhidas as últimas colaborações de fãs entusiasmados, até o momento em que as portas se abrem para que cada espectador possa seguir seu destino. A maioria, no entanto, está disposta a pagar a taxa exigida em troca do banquete prestes a ser servido. Não pela comida, que não vale nem metade do preço exorbitante, nem mesmo pela bebida de qualidade duvidável, mas sim pela companhia do mais magnífico grupo de teatro do Mar do Leste.

Perpétuo, depois de sobreviver a três tiros na cabeça, uma forca preparada por um membro aleatório da plateia e doze punhais enfiados em seu peito, agora se reclina para trás em uma das cadeiras em torno da mesa principal, olhando impaciente para a cozinha. Ao seu lado está sentada Zéfira, mulher de meia idade que divertiu crianças e adultos sensíveis tirando das mangas exemplares das espécies mais adoráveis de animais, em sua maioria aves e lindos coelhos. Ela conversa despretensiosamente com sua colega Solércia, aquela que é capaz de adivinhar tudo, desde uma carta faltante no baralho até o que se passa na mente de uma jovem donzela.

Solércia senta ao lado de seu marido, Sepulcral, que, por sua vez, surpreende a plateia desaparecendo diante de seus olhos e reaparecendo nos momentos mais inesperados. Ao lado de Sepulcral estão os dois irmãos dançarinos, um mocinho e uma mocinha graciosos que abrem o espetáculo e recolhem o dinheiro, e à sua frente está o Grande Mágico. 

Ele é capaz de fazer tudo o que tiver vontade, mas essa noite apenas flutuou, manipulou alguns objetos e fez um comovente discurso sobre a importância da magia na vida cotidiana. Neste momento, o Grande Mágico se coloca de pé, chamando a atenção de todo o salão enquanto projeta a sua voz grave:

— Que o jantar seja servido!

Aplausos, carne assada, vinho, alguns entorpecentes um pouco mais potentes. "Como são maravilhosas as festas do Grande Mágico", pensam alguns. "Como eu queria que ele voltasse para esse fim de mundo pelo menos uma vez por ano!", sonham outros. 

Todos estão felizes. Todos se divertem. Todos exceto um.

Na mesa mais ao fundo do salão, longe da luz forte dos candelabros nas paredes, longe da música cantarolada pelos adolescentes bêbados, longe do olhar e da atenção a plateia, um velho grisalho suspira pesaroso. O que ele sabe, nenhum daqueles boçais sequer desconfia. O que ele sabe, preferiria esquecer ou ignorar, mas é incapaz. E, incapaz, permanece encarando o outro único homem de cartola dentro do pequeno salão enquanto pensa no que fazer.

O Grande Mágico não deixa detalhes sutis passarem despercebidos, e assim que consegue se desvencilhar de outra admiradora perdidamente apaixonada por seus longos cabelos negros, se dá conta da misteriosa figura que o encara fixamente. Cochicha algo no ouvido da dançarina, que se adianta prestativa até o único convidado insatisfeito da festa.

— Olá, senhor. — Ela cumprimenta, sem resposta. — O que eu seria capaz de fazer para que esta seja uma boa noite para vossa senhoria?

— Você? Nada. — O velho cospe em direção à jovem mocinha. — Eu quero um lugar ao lado do Grande Mágico.

A jovem dá de ombros antes de voltar para a mesa principal e relatar tudo para seus colegas curiosos. O Grande Mágico percebe que o velho ainda o observa fixamente e fala algo no ouvido do dançarino. O velho misterioso logo recebe outra visita.

PrismaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin