30- CAPITAL DE PEDRA (Parte I)

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Uma grande ilha montanhosa, da dimensão de Cranius Cast, se erguia em nossa frente. A avistamos durante a tarde, e o sol estava começando a se pôr quando nos aproximamos o suficiente para enxergar a enorme estrutura de pedra que cobria o lado oeste da montanha mais próxima ao mar.

Blocos de basalto, escuros e brilhantes, eram encaixados em uma construção comprida semelhante a uma escada que alcançava metade da altura total da montanha. Nas regiões mais baixas, uma grande cidade, com mais casas do que a soma de Flora e Maia. O porto contava com três deques curtos e um farol ainda apagado, feito do mesmo basalto escuro.

— Nossa, está ainda maior do que minha mãe descreveu! — Exclamou Tony, que há dias já havia superado nosso último desentendimento.

— Sim. Enorme. — Agora já não dava pra negar a veracidade nas informações de Caleidoscópio. — Me desculpe por ter duvidado de você. — Murmurei por fim.

— Tudo bem. Alguns homens são limitados pela simplicidade com a qual compreendem o mundo. — Me lançou um sorriso zombeteiro. Ignorei.

    Nosso pequeno navio era extremamente chamativo em meio aos grandes pesqueiros que chegavam e partiam do porto movimentado. Aquela era uma zona de comércio intenso. Pescadores exibiam os frutos de seu trabalho, jovens procuravam emprego e dezenas de pessoas ocupadas caminhavam a passos rápidos. Me lembrou muito de casa, exceto, é claro, pelo detalhe de que todos eles eram gigantes.

    Não tão grandes como o monstro que devorara metade da nossa tripulação. Na verdade, poucos atingiam a altura do grande Golias, o gigante que conhecemos junto aos Mentirosos. A maior parte deles era semelhante a Tomas: homens e mulheres corpulentos, com cerca de três metros de altura. As crianças tinham o meu tamanho, mas as mãos e pés enormes denunciavam o crescimento futuro.

Minúsculos, nós desembarcamos logo após soltar a âncora, em busca do responsável pelo porto.

— Setenta colossos por semana atracado. A segurança é por nossa parte. — Disse um grisalho de uniforme marrom. Seu jeito de falar lembrava vagamente o sotaque do gigante Tomas, exceto pela rispidez com a qual articulava as palavras.

— Desculpe, senhor, mas pode falar em castis?

— Seria o equivalente a dez castis. Ou um imperial, como vocês chamam, não é? Mas não aceitamos moedas do Império por aqui. Vai ter que encontrar algum cambista.

— Ótimo. Volto com seu dinheiro até o fim do dia. — Respondeu Tony. Então se virou para nossos outros três companheiros. — Vou atrás de uma casa de câmbio. Nos esperem ali. — Apontou em direção a um estabelecimento de madeira com portas para a saída do porto. Parecia uma taverna.

    O acompanhei até o navio mais uma vez, onde fui apresentado ao baú de tesouro que Tony guardava embaixo da cama na cabine principal. Compreendi parte da tranquilidade de meu capitão quando vi as pilhas altas de moedas brilhantes. Eram todos castis imperiais. Uma quantidade gigantesca de dinheiro.

— Tinha mais na gruta do Lorde Tritão. Muito mais. Eu transferi tudo para o meu próprio esconderijo, é claro, mas era muito para trazer nessa viagem. — Ele riu ao perceber minha admiração. Catou três moedas e acorrentou o baú antes de recolocá-lo em seu lugar original, no oco formado embaixo da base do colchão. Com ajuda de um martelo e poucos pregos, a tábua que ajudava a sustentar o móvel estava de volta no lugar e o tesouro completamente invisível aos olhos de terceiros. Virou para mim e falou: — Encontre um lugar para dormirmos e se junte à festa. Tenho alguns assuntos pra resolver e logo encontro vocês com esses tais de "colossos".

— Não vá arranjar problemas. — Resmunguei.

— Não se preocupe. Só vou marcar uma audiência com o rei.

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