Blank Space

305 31 26
                                    


O terceiro livro que eu lia naquele mês tinha uma maneira especial de me fazer enxergar os acontecimentos citados.
Tudo, absolutamente tudo o que era dito tinha um motivo, nada acontecia pela simples razão de acontecer.
E quando terminei aquele romance de época, me vi fascinado pelas flores que resolveram brotar nos fundos, naquela primavera.

Passava horas alí fora, sentado na grama do pequeno espaço. Observando cada uma delas.
Gostava de pensar que meu único problema era o fato de algumas delas ainda não terem florescido.
E quando pensei em falar sobre isso com a Dra Crawford, me dei conta de que não sabia o nome das minhas vizinhas. Então dei uma pesquisada e me surpreendi com a minha ignorância. Era óbvio que eram rosas.
Mas por que demorei tanto tempo para descobrir?
A quanto tempo eu não via rosas?
Não muito, com certeza, mas vê-las crescendo em um solo como aquele me surpreendia.
Não que eu fosse um expert no assunto, mas qualquer um que crê no poder que as energias tem sobre a natureza, entenderia.

Afinal, que flor se permitiria crescer num lugar como o loft antigo em que uma pessoa conturbada como eu vivia?

As respostas estava bem alí, na minha frente. E eu sorria a toa quando me lembrava de que eu poderia estar louco de vez, mas não me sentia tão mal.
Sim, eu estava bem.
Não era a primeira vez e tinha fé de que não seria a última.

Eu estava bem e apesar dos problemas, eu sorria para as flores a minha frente.

Eu estava bem e sentia saudades de Jaebum, porque o amava.

Eu estava bem e pronto para tomar as decisões certas, e embora tivesse a certeza de que aquele sentimento me deixaria, o aproveitaria o quanto pudesse.

Talvez eu estivesse fingindo a tanto tempo, que acabei enganando a mim mesmo, mas isso não importava porque eu estava bem.

Um mês e seis dias haviam se passado desde que o vira pela última vez.
Nos ligamos uma vez ou outra, ele me fez perguntas difíceis e até me preocupou certas vezes.
Mas agora Jaebum me ligava com menos frequência, mesmo que ainda me atendesse na maioria das vezes. Sua voz não estava tão cansada ao telefone e ele até ria de quando eu contava dos rapazes. Pois era oficial, ele estava em Washington, vivendo em uma das residências que seu pai havia deixado para ele. Eu arriscava dizer que o mesmo havia resolvido dar uma oportunidade a sua madrasta e a pequena filha do casal, já que vez ou outra eu conseguia ouvir risadas de criança no fundo.

Mas não o perguntei sobre nada daquilo, mesmo que desejasse.
Queria ouvi-lo falar sobre tudo quando retornasse, queria ouvi-lo durante horas, sua voz diretamente em meus ouvidos. Sem ligações, gravações ou mensagens escritas. Precisava vê-lo falar, sua boca se contrair toda vez que sorria ou seu tom quando me chamava do outro cômodo.

Senti a brisa bagunçar mais ainda meu cabelo e bater de encontro com meus braços descobertos.
Me levantei e entrei.
Da janela, observei a placa na casa da frente balançar com o vento que só aumentava.
Da cozinha, ouvi o microondas apitar, indicando que meu jantar estava pronto.

Era verdade que estava cedo demais para fazer aquela refeição, mas sem Jaebum, eu não tinha motivos para me manter acordado até tarde.
E foi quando me deitei que percebi o que precisava.

Peguei o notebook sobre o criado mudo e passei vários minutos olhando para a tela em branco, antes de ouvir uma notificação no celular e pegá-lo.
Havia sido uma mensagem de Mark, perguntando se eu tomaria um café com ele no dia seguinte.
E por mais tentadora que aquela ideia fosse, não evitei de me concentrar no plano de fundo do aparelho.
Era uma foto nossa, eu e Jaebum. Ele sorria abertamente e eu, quase emburrado, me agarrava em seu ombro.

Me lembrava perfeitamente daquele dia, estávamos no aeroporto de Dubai, memória da nossa última viagem.
E sem que eu me desse conta, uma página já havia sido escrita.

Panic (jjp) Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz