#3 - Lilla Martinez

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Na BookStore a agitação crescia com a saída repentina de alguns funcionários e com a grosseria de clientes. Não que as três não gostavam disso, elas amavam aquele lugar, a livraria era como uma parte delas e jamais poderiam perder isso, mas com o fim do ano o lugar passou a ficar agitado e a quantidade de clientes aumentava exponencialmente. Funcionários de toda a loja da Zona Norte de São Paulo pediam suas demissões alegando não aguentar mais o descaso que os supervisores faziam de seus funcionários.

- Aff! Mais um que saiu – Lilla comentava com as amigas. – Não sei como a gerente está dormindo esses dias.

- Espera até eu pedir minha demissão, você sabe que logo a facu vai apertar e precisarei sair para me dedicar somente a ela.

- Vocês não sairiam mesmo né? – Gaby perguntava inocentemente. As duas a olharam com cara de quem fariam sem pensar – Gente, vocês não estão pensando direito! Lilla a gerente te ama, jamais que ela deixaria você se demitir, e nem há razão para você fazer isso.

Lilla revirou os olhos ignorando a amiga. As três bateram o cartão, Nina e Gaby foram para o setor infantil.

Lilla subiu para o Auditório da livraria onde teria uma reunião com toda a equipe de caixa. Ela odiava essas reuniões, parte porque nunca resolviam nada e porque todos tinham medo de falar o que estava acontecendo achando que a gerente iria os demitir. Como ela sempre contava o que acontecia e ajudava a Gerente a resolver era conhecida como a "queridinha da G1" – G1 é a sigla para gerente na BookStore.

Ao passar o vidro filmado do auditório Vaio Oautor ela viu sua amiga Julia, um pouco mais alta que Lilla e magra, com cabelos castanhos cheios de mechas azuis por cima, as maçãs do rosto eram rosadas naturalmente e andava com um delineador forte nos olhos e lábios sem batom. Seu rosto parecia meigo com as covinhas naturais em suas bochechas. Um ar de doçura a acompanhava, mas isso para quem não a conhecia.

- Oi Julia, preparada para mais uma sessão de nada?

- Quem você vai destruir hoje? – As duas riram – Já falei que você tem que ser mais sutil quando fala, não pode ser direta. – Ela levantou uma sobrancelha – Trouxe aquele nosso rascunho com o alarme rabiscado?

- Trouxe – Lilla apontou para o bolso de sua calça jeans – Mas não to me sentindo bem com isso, sabe, quero ficar quieta dessa vez. Acho que não vou falar nada.

- Você que sabe, acho que deve falar sutilmente. Veremos na hora, eu te dou uns toques, pode ser? – Julia a encorajava.

Vencida pela amiga Lilla concordou. As duas entraram e se sentaram a mesa de vidro. Lilla ficou mais ao fundo para não ser notada, de frente para ela estava sua encarregada (E5 como chamam a encarregada do caixa) ao lado dela uma pseudo-supervisora que cuidava do financeiro – e que deveria ajudar os caixas, mas desde sua chegada ela que fez eles afundarem, mas ninguém falava nada porque ela era a melhor amiga da gerente – na ponta da mesa estava a G1. As outras pessoas no caixa se sentaram mais próximos à mesa, muitos eram temporários e logo seus contratos acabariam e não seriam efetivados.

- Boa tarde equipe – A G1 começou – Resolvi marcar essa reunião para que vocês falem, sem represarias, sobre o que tem acontecido nos caixas. – Ela olhou fortemente para Lilla e depois desviou o olhar para prosseguir – No último domingo três de vocês me procuraram para reclamar da postura do financeiro da nossa loja. Então, podem começar.

O silêncio dominou todo o lugar. Os temporários olhavam para os lados procurando um apoio, Julia olhou para a amiga por cima dos ombros para que ela se mantenha calada. Ninguém falou. A gerente insistiu mais um pouco olhando apenas para Lilla. E como uma surpresa, uma voz fina, um pouco falha e repleta de medo começou a falar. Era a Jessy, uma temporária:

Névoa VermelhaWhere stories live. Discover now