#4 Lilla Martinez

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A manhã seguinte começou como todas as outras: muito sol e indo para o trabalho. Porém um diferencial preocupou a todas, uma ligação dos encarregados mandando todos chegarem às nove horas na loja, sem exceção e atrasos não seria aceito.

Chegando à loja as luzes estavam acesas e ouvia-se muitas vozes falando ao mesmo tempo, parecia que alguém gritava sem parar. Um cartaz avisando que abriria apenas às quatorze horas estava fixado nas portas metálicas. As três amigas se entreolharam e não entenderam nada. O Segurança subiu a porta para as garotas. Os funcionários já haviam chegado quase todos.

Lilla, como quem não quer nada se aproximou da gerente perguntando o que estava havendo. Ela falava baixo com Lilla, para ninguém ouvir, contava em cada detalhe o ocorrido. Ela fez uma pausa quando o presidente da BookStore passou por elas. No final perguntou com expressões de brava:

- Foi você né?

- Não fui eu e nem sei do que fala esse email.

A gerente se aproximou de Lilla e entregou uma folha. A garota voltou para perto das amigas e as três leram em silêncio sentadas nos sofás da cafeteria.

"Bom dia a todos, antes de mais nada gostaria de agradecer aqueles que lerem até o final esse e-mail e peço que por apenas um segundo reflitam sobre o que digo. Não quero falar mal da empresa e sim expor um problema que acontece onde trabalho, mas que simplesmente é ignorado pelos graus hierárquicos que sou subordinada e por isso resolvi compartilhar e quem sabe assim surja uma solução, mesmo que eu não esteja mais na empresa por fazer isso. Entrei na BookStore cheia de sonhos e desejos e me dediquei a eles, mas pouco a pouco fui ficando frustrada por atitudes de má administração de meus gestores que falarei mais abaixo. Acredito que a BookStore apesar de ter os seus problemas como toda grande empresa, merece estar onde está e novamente afirmo que isso não é uma crítica à empresa e sim a um ambiente específico. Em minha loja se impera o pessoal acima do profissional, e diariamente bons funcionários são abandonados e desmotivados, ou simplesmente desligados da empresa porque não agradaram ou não se renderam ao puxa-saquismo recorrente. Tive a oportunidade de conhecer outras vivências fora da minha loja e percebi que o que vivo hoje não é nem de perto os valores pregados pela empresa. Minha gerente de fato promoveu muitas pessoas, mas será realmente que todas eram promoções? Ela foi capaz de promover uma vendedora a encarregada com apenas um ano de loja que causou o caos com fofocas, revelando informações sigilosas aos colaboradores, praticava assédio moral descaradamente e mesmo assim tinha poder absoluto para pintar e bordar, até ser mandada embora esse ano, mas em contra partida promoveu bons líderes que ajudaram outras lojas e fizeram-na chegar a outro patamar, mas não eram ideais de lambe botas que aceitariam viver um "faz de conta ". O lema da gestão que considero péssima é "Deixe que se resolve sozinho", para mim isso não é gerenciar, pois nossos líderes se omitem e fogem dos conflitos até que de algum modo a situação seja tão insuportável em loja que afete os números, aí eles aparecem correndo para mostrar um serviço que é feito apenas como maquiagem, mas que não revela a verdadeira face do problema. Não existe qualquer feedback ou pilar que aprendemos nesta loja, tudo é uma mentira que você deve aceitar quieto, ou ser boicotado ou sair, mesmo que demonstre potencial para mais. Antes éramos os primeiros da rede e loja modelo, mas hoje estamos longe de ser modelo e isso é reflexo da má gestão que estamos sofrendo desde o início e que era contornada graças ao grande fluxo de vendas por não ter concorrência perto e autoatendimento dos clientes, pois não existe da equipe gerencial um plano de vendas ou estratégia, eles esperam sempre que nosso operacional mande a direção que eles devem seguir e só fazem aquilo que são programados a fazer, sem imaginação ou espírito vendedor. Pergunte quem de nossa loja está motivado, confia em seus líderes, acredita nas metas e de fato ainda ama o que faz e verá que poucos irão erguer os braços. Eu ainda acredito na empresa, mas me dói ver o potencial perdido que já tivemos ao longo desse tempo e como são escondidos e maquiados os problemas do Center Norte através de aparências falsas de beleza. Não espero que minhas palavras sejam uma verdade absoluta, apenas peço que vocês que tem poder transformador olhem o que de fato acontece em minha loja e em outras da rede e consigam expurgar pessoas que infelizmente não vestem a camisa da empresa e mostram a vocês coisas que de fato não são verdades. Peço a vocês que apesar de todas as tarefas e problemas, olhem para minha loja como ela realmente é e possam fazer dela tudo que ela pode ser e não permitam mais essa inversão e omissão de quem deveria motivar, gerir e empreender.

Névoa VermelhaWhere stories live. Discover now