Capitulo 6

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                                    No sábado como estava de castigo, sem celular e sem falar com Julie, tive que me virar com o que tinha, assisti um filme que passava na televisão que ja havia assistido mais de dez vezes mas durou pouco quando minha mãe mudou o canal e colocando na sua novela. Então fui para o meu quarto e naveguei um pouco na Netflix mas até meu pai tirar de mim também. Decidi ler um dos meus livros que detalhe: também ja havia lido mais de dez vezes, depois que fiquei mais no tédio ainda, .fui desenhar que era uma coisa que amava ficando la até tarde e depois dormindo. Esse foi meu sábado super empolgante.

                                      No domingo de manhã minha mãe me obrigou a colocar meu vestido ridiculo branco com o casaco preto que usava desde os treze anos para ir a igreja. Ele já está a velho e eu precisa comprar outro, mas minha mãe falava que aquilo significava muito pra ela que ganhei de presente de aniversário. Na cabeça dela ainda servia feito uma luva para mim.
                                     Eu participava do coral da igreja, que aliás, super contra minha vontade, mas dessa vez minha mãe conversou com as irmãs para que assistisse a missa ao lado dela e do meu pai. Se não estivéssemos dentro da igreja quase conseguiria ver as outras meninas do coral dando risinhos e se perguntando porque não havia participado hoje. Hipócritas.

Assim que acaba vamos todos para fora, eu principalmente não via a hora de chegar no carro fazendo meus pais esquecerem a ideia de me colocar em um trabalho comunitário. Mas como são meus pais, é um pouco óbvio que não iam esquecer tão facilmente.

          A multidão se espalha na frente da igreja e vejo as meninas do coral passando do meu lado e dando risada. Eu não sei o que é pior, Sophie que está na escola e da risadas da minha cara ou as meninas do coral da igreja. Da igreja! Da pra acreditar? Elas não lutam para aquele tal "amor ao próximo"? Reviro os olhos e quase que isso chega a me dar ânsia.

            Meus pais param quase perto da escada e ficam parados ali por um bom tempo, eu sei o que eles estão esperando e eu rezo pra que essa hora não chegue.

           - Bom, ele não vem né? - Encaro os dois. - E se a gente falar com ele semana que vem?

           - Você não vai se safar dessa Annie. - Minha mãe diz baixo.

           - Eu não estou dizendo que vou me safar. Estou dizendo que ele deve estar ocupado e não vem. Olha só esse tanto de gente aqui.

         - Por favor Annie. Agora não. - Meu pai diz quase sussurando.

         - Ah! Graças a Deus, ele está ali. - Minha mãe diz sorrindo enquanto observa o homem branco, simpático e muito delicado vindo em minha direção no meio daquela multidão.

           - Graças a Deus. - Falo baixo demais para ninguém escutar.

           - Olá Annie. - Ele sorriu. - Como está bonita.

                                  Eu uso esse vestido para vir aqui desde os treze anos e ele sempre repete isso toda vez que me vê. E eu sempre respondo a mesma coisa.

           - Obrigada Pastor Anthony. - E sorrio de volta.

         - Bom... - Ele olhou minha mãe voltando para mim novamente. - Sua mãe disse que você está querendo participar de um projeto comunitário aqui na igreja.

                                  Que eu estou? Encarei o homem alto na minha frente que me encarava.

          - Ah, é! Ela adora fazer as minhas vontades! - Sorrio enquanto vejo a feição de minha mãe me fuzilar.

            - Na quarta será o aniversário de nossa cidade e você sabe que todo ano temos a grande festa, e que também, a igreja sempre contribuí para que a festa aconteça. - Ele fez uma pausa. - Na terça iremos preparar tudo para o dia seguinte, então se quiser vim aqui ajudar, será muito bem vinda.

                                    Eu olhei meus pais por um tempo que me encaravam sorrindo com falsidade esperando minha resposta de sim. A familia perfeita. Sorri para o homem.

           - Eu adoraria Pastor Anthony.

         - Ok, então está combinado. - Ele estendeu sua mão me fazendo aperta-la. - Até terça Annie.

         - Até. Não vejo a hora - Sorri me virando e entrando no carro e ficando totalmente seria no mesmo minuto que entro.

                                   Observo meus pais conversarem ainda com o Pastor Anthony e depois entrarem no carro. Falsos.

            - Não vai ser tão ruim Annie. - Diz meu pai depois de uns segundos de silêncio e ligando o carro.

           

           - Claro que não. - Digo irônica  olhando para fora vendo as pessoas ainda sairem da igreja. As meninas do coral estão paradas ali em frente mas agora conversando entre si. Meu pai sai com o carro e ouso a falar. - Vocês viram as meninas do coral dando risada de mim? Eu sou uma piada pra elas.

           - Annie, talvez elas nem estavam dando risada de você. - Minha mãe diz em voz suave enquanto arruma a maquiagem no espelho.

          - Claro que não. Só do meu jeito, da minha roupa e da minha vida.

   
         - Você se preocupa demais no que os outros pensam de você. - Ela diz se virando para mim e depois volta a olhar a estrada.

         - Eu né. - Sussuro bufando enquanto encaro as árvores secas do lado de fora. A cidade parecia morta. Como será a vida em uma cidade grande? Deve ser cada dia uma coisa nova. Aqui era sempre as mesmas coisas com as mesmas pessoas. Ou seja horrível.

          

           - Annie. - Meu pai limpa a garganta para falar como se estivesse incomodado. - Faz mais ou menos quanto tempo que não acontece... - Ele faz uma pausa tentando achar a palavra certa mas logo depois continua. - Os acontecimentos.

          - Faz quanto tempo que não vejo assombração você quis dizer.

                        Ele me encara rapidamente mas já é o suficiente para ver que sua sobrancelha está franzida.

            - É... - Ele limpa a garganta novamente. - Isso mesmo.

                      Eu não sei se deveria falar do menino pálido do sonho. Talvez ele acreditaria em mim, talvez não. De qualquer forma se eu mentisse eles ficariam animados, tanto meu pai quanto minha mãe. Eu sei que não deveria mentir, mas se eu não mentisse com certeza eles continuariam com esse negócio de psicóloga, psiquiatra e remédios. E sinceramente não vejo a hora de isso tudo acabar. 

            - Mais ou menos um mês e meio. - Engulo em seco.

            - Olha aí Annie. - Ele sorri. - E você falando que os remédios não estavam funcionando.

            - Pois é. - É a única coisa que consigo dizer já que sei que não é verdade.

             - Estou orgulhoso de você. - Ele diz não tirando os olhos da estrada enquanto minha mãe fica em silêncio.

                         O que eu mais queria era ver meus pais felizes, embora sei que eles eram pessoas complicadas de se lidar e exigiam muito de mim. Sempre exigiram. Talvez por ser filha única. E eu não queria decepciona-los. Mas é só que eu não aguentava mais tantos remédios e idas a psiquiatra e psicóloga. E uma mentirinha para acabar tudo isso não faria tanto mal.

             - Eu também.

AnnieWhere stories live. Discover now