Capítulo 8

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Eu gritei.

Eu gritei com toda a força que tinha.

Eu chamava por Edgar, eu pedia por socorro, eu gritei o mais que eu pude, então eu chorei. Chorei desesperada porque estava com medo. Porque não entendia o que estava acontecendo. Onde estava Edgar? Será que fomos vítimas de algum tipo de assalto? Sim, podia ser! Já havia escutado algumas histórias de invasão de sítios e fazendas e os bandidos barbarizavam. E nós estávamos tão isolados!

Se foi isso, então o que aconteceu com Edgar?! Será que eles o mataram?! Meu Deus...

Eu chorei mais ainda com medo de algo houvesse acontecido com ele. E pedi em prece que Deus o ajudasse e não deixasse nada acontecer a ele...

Passaram-se algumas horas e eu já estava exausta de chorar. Estava com fome e sede e ninguém tinha vindo para me dizer alguma coisa. Eu era refém, isso era claro. Mas o por quê e de quem, eu não fazia ideia. Cheguei à conclusão que se me quisessem morta, era provável que eu teria sido enquanto dormia. Mas existia tanta gente doida... acabei lembrando do caso da menina Liana Friedenbach. Será que poderia ser isso, eles estarem me mantendo em cativeiro para um posterior estupro?!

Eu não conseguia pensar nada de bom.

Qualquer um que estivesse me mantendo ali, daquele jeito, não tinha boas intenções. E então me veio a cabeça, que se fosse um assalto ou alguma vingança contra Edgar, eles poderiam ter me jogado ali e terem ido embora. Eu ia morrer presa no escuro e sozinha! Eu voltei a chorar com as possibilidades que passavam em minha mente, eu estava enjaulada em algum lugar estranho e no escuro, sem qualquer sinal de gente, e ainda por cima minhas necessidades básicas estavam dando sinais: agora eu também precisava ir ao banheiro, minha bexiga parecia que ia explodir. Eu tomei coragem e me pus de quatro e fui tateando no escuro, procurando um canto onde eu pudesse fazer xixi e que ficasse o mais longe de mim. Nessa busca, acabei achando um ralo e uma bica. Abri a bica para poder beber água, mas não saiu nada, estava seca. Eu só não voltei a chorar porque a vontade de fazer xixi era grande. Então eu me agachei e fiz. O alívio de esvaziar a bexiga foi enorme, eu poderia dizer que foi a primeira coisa boa desde que acordei. Estava tão perdida no prazer de me aliviar, que instintivamente fiz o movimento para apanhar o papel higiênico, então o meu breve sonho e prazer foram para o ralo junto com a urina. Eu nunca me imaginei numa situação como essa, então só o que veio a minha cabeça foi esperar não ter mais qualquer gota para ir para o outro lado.

Horas já tinham se passado e a fome e a sede apertavam mais. Eu estava jogada no chão e choramingava. Eu estava com medo de chorar e sentir mais fome e mais sede, então só choramingava e gemia. Acho que minha pressão deveria estar baixando porque eu me sentia fraca e com sono, me encolhendo num canto deixei o sono tomar conta de mim.

Eu comecei a entrar num círculo vicioso de sentir fome-dormir-sentir sede. Não sei por quanto tempo fiquei assim, deve ter sido muito, provavelmente já tinha passado um dia ou dois, eu não conseguia ter certeza.

De repente acordei num sobressalto. O pior de acordar era lidar com o escuro, porque no sono eu enxergava as coisas e na minha realidade, não. Levou alguns segundos para lembrar de onde eu estava, minha respiração estava ofegante e eu me esforcei para lembrar o porquê. Eu estava sonhando com insetos! Era isso! Então me veio a cabeça que ali poderia estar cheio deles. Eu entrei em pânico com medo de ter baratas ou ratos naquela cela. Eu me encolhi no canto e chorei. O meu pânico fez com que eu sentisse que coisas andavam sobre mim. Eu gritava e esperneava, dava tapas nas pernas e nos braços tirando os insetos invisíveis. Eu chorava e gritava, mas não saiam nem lágrimas, nem som da minha garganta por causa da sede. Fiquei extremamente cansada com o ataque de pânico, eu já não tinha mais energia para isso, então apenas deitei no chão e me entreguei para a morte. Eu estava cansada.

Um Mergulho na EscuridãoWhere stories live. Discover now