Eu olhava no espelho a minha imagem refletida. Meu vestido branco, com rendas e detalhes em rendas e transparências que moldavam o meu corpo de maneira levemente sensual. Eu me sentia bonita. Segui as orientações de Edgar para uma boa maquiagem, mas nada que fosse muito chamativo: eu deveria usar cores nudes e tons pastéis. Meu cabelo, naturalmente encaracolado, agora descia um pouco abaixo dos ombros. Foram puxadas mexas das têmporas, entrelaçadas a flores naturais e presas atrás da cabeça. Era tudo simples, mas ao mesmo tempo sofisticado e bonito. Edgar sempre teve muito bom gosto.
Maria da Conceição me ajudou a arrumar o cabelo e a maquiagem. A mulher, sempre em silêncio, trabalhava muito bem. Tentei puxar conversa com ela, mas ela não falava muita coisa. Apesar de ter me transformado numa pessoa mais calada, eu me surpreendi com os amigos de Edgar e com a forma que tratavam suas mulheres que era igual a como ele me tratava. Eu pensei que tudo o que Edgar fazia comigo era coisa só dele, mas ali eu tinha visto que não era bem assim.
Mas tudo o que eu consegui saber é que ao que parece, o Sr. Augusto seguia os moldes de Edgar e que havia mais homens como eles. Todos homens poderosos. Depois disso, Maria da Conceição se calou e não respondeu a mais nada. Antes de deixar o meu quarto para se juntar ao seu senhor, ela se aproximou de mim e com uma pontada de pena e aviso na voz, me aconselhou:
— Angelina, siga as ordens de seu marido e o obedeça em tudo. É o melhor que você tem a fazer. Eles não são tão ruins quando estão seguros que tem o controle sobre nós. São homens poderosos, uma vez que nos escolhem não há nada que nós possamos fazer a não ser seguir seus comandos. Nós nunca conseguiríamos lutar contra eles, eles são unidos e com muito poder na sociedade — e com um olhar benevolente me deu um abraço afetuoso — Eu sinceramente desejo o melhor para você. Fique bem, menina.
Eu agradeci e ela saiu. Voltei a me olhar no espelho e pensar no que ela havia me dito.
Homens de posição na sociedade. Homens poderosos que nos escolhiam.
Mas como foi que Edgar me escolheu? Nós nos esbarramos na livraria e tivemos uma conversa casual. Simples. Eu que corri atrás dele, se me lembro bem, eu que quis vir para cá, então como ele teria me escolhido? Fiquei confusa quanto a isso, mas entendi muito bem quanto a ter que seguir suas ordens não importasse o quê. Também entendi quando ela disse que nunca poderia lutar contra eles.
Edgar não estava sozinho.
Ouvi um barulho na porta e Edgar entrou. Meu reflexo na hora foi tentar me esconder para que ele não me visse pronta.
— O que é isso, Angelina, por que está tentando se esconder de mim?
— Meu senhor, não dá sorte ver a noiva antes da cerimônia. Estou tentando nos proteger.
Edgar soltou uma risada.
— Que besteira! Eu não sou um homem regido pelo acaso ou por superstições, menina! Mas fico contente que você se preocupa com isso. Venha cá.
Eu me aproximei dele um pouco encabulada, esperando para ver o que ele ia achar da sua noiva.
Ele me puxou pelo braço e colou meu corpo ao dele. Pude sentir a fragrância amadeirada de sua colônia, era um cheiro muito bom. Respirei fundo e senti o aroma entrar em mim.
— Você está muito bonita. — ele sussurrou no meu ouvido — Eu tenho a vontade de começar logo com a lua-de-mel antes mesmo da cerimônia.
Eu sorri com o elogio e a sugestão. Eu gostava de senti-lo desde modo. Edgar sempre soube como mexer com o meu desejo e agora não era diferente.
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Um Mergulho na Escuridão
RomanceVânia é uma mulher da Zona Sul do Rio, jornalista, independente, feminista. Uma vida já definida por ela mesma. Mas Vânia sente um vazio que nenhum dessas conquistas consegue preencher. Depois de assistir a uma palestra sobre um livro polêmico que d...