Painless- Ana e Cecília

Capítulo 8

"Decisões, decisões." Cecília ri ao telefone, depois que Ana tinha falado sobre que universidade ela gostaria de entrar. "Porque você não tem o sobrenome da sua mãe?" Cecília pergunta distraidamente, mudando de assunto. Todos o tempo que teriam passado juntas nesta semana foi movido para falar apenas ao telefone. 

"Ana Clara Costa? Ceci, sua bastarda doente." Ana ri, e soa ainda mais rouca do que normalmente, porque a recepção que Cecília recebe em seu quarto não é a melhor. 

"Você tem esse direito." Cecília ri, olhando para o relógio. 2:13 AM. Whoops. 

Mas Cecília não se importa que está tão tarde, se isso significa que ela pode falar com Ana. Talvez ela tenha ficado um pouco sinistra, mas como não pode? Cecília não tem muitas amigas, geralmente elas fogem logo que ouvem a palavra desordem. Tipo, ela poderia listar as pessoas que se afastaram depois que descobriram. Realmente, Isa foi a única que ficou, e elas não se falam desde que Cecília conheceu Ana. Cecília lembra-se mentalmente de mandar uma mensagem de texto para Isa amanhã-er, hoje, uma vez que são duas da manhã. 

"Você já pensou, tipo, quanto seria legal se as almas gêmeas viessem com colares com pingentes iguais? Não haveria nenhum coração partido, seria perfeito." Ana diz, talvez pensando que Cecília poderia ter seu colar com pingente. 

"Você tirou isso do Tumblr, não é?" Cecília sorri mesmo que Ana não pudesse vê-la. 

"Talvez. Ainda assim seria legal, apesar de tudo."

"Sim, mas, tipo, e se sua alma gêmea fosse um psicipata canibal?" 

"Não é assim que funciona, Cecí. Você é a alma gêmea, tem que ser alguém que você goste."

"Não necessariamente." Cecília insiste. "E se você se cansar da pessoa? Tipo, não haveria ninguém melhor no mundo para você, então você estaria condenada a ser uma velha solitária gata."

"Você não se cansa da sua alma gêmea, Ceci." Ana responde.

"Enfim. Eu não acho que acredito em almas gêmeas, de qualquer jeito." Cecília boceja, deixando a cabeça cair sobre o travesseiro. 

"Por que não?"

"É bom demais para ser verdade, sabe? Tipo, há alguem lá fora que é perfeito para você. Ele te equilibra, traz para fora o melhor que há em você, enquanto você traz o melhor dele. Eu não sou bom o suficiente para fazer isso por alguém, eu não acho que parece uma idéia maluca, afinal. Eu só não tenho certeza se acredito que há alguém lá fora que vai me amar e me odiar, mas não será capaz de me deixar, porque, todo mundo me deixa, em algum momento." A voz de Cecília fica mais suave enquanto ela continua. 

"Eu não te deixarei." Ana diz, em voz baixa.

"Você irá." Cecília responde, fechando os olhos. 

"Como você sabe que eu vou?"

"Como você sabe que não vai?" 

Ana está pretes a responder quando a linha cai, porque Cecília adormeceu e apertou o botão de finalizar a chamada com o polegar.

~•~

"Quando elas vão sumir?" Cecília resmunga para a Dra. Caetano enquanto inspeciona as pequenas contusões amarelas que tinha ganhado de Ana quase uma semana atrás. Ana estava apenas tentando ganhar algumas libras, isso era tudo. Bem, de uma maneira muito estúpida, mas essa é a maneira de  Ana, Cecília supõe. 

"Elas deveram se dissolver em dois dias," a Dra.Caetano diz. "Mas podem desaparecer amanhã."

"Você sabe que sua filha não é sádica, certo?" Cecília deixa escapar, antes de cobrir a boca com as mãos.

"Sim, eu sei." Ela responde. "Mas ela não pode apenas feri-la dessa forma só porque você não pode sentir. Eu não sei como ela conseguiu a ideia de que estava tudo bem, em primeiro lugar. Ela não é de ferir as coisas." 

Cecília pondera, posso contar a ela sobre a aposta ou não? Não, ela decide. Isso tornaria as coisas ainda piores. É melhor deixar pra lá.

"Você pode sair agora. Preciso conversar com sua mãe."

"Ela não está aqui, eu vim sozinha." Cecília diz. " Ela provavelmente está no trabalho."

"Oh, você pode dizer para ela passar por aqui depois? É importante, a coisa que eu preciso conversar com ela." 

Cecília não pergunta o que é a 'coisa', ela já fez isso antes e nunca obteve respostas. Ela simplesmente diz tudo bem e saí da sala. Quando ela sai do quarto, no entanto, ela não espera ser arrastada para o banheiro. Ela ergue o cotovelo até bater contra algo, e quando ela ouve um grito seguido de um alto gemido profundo, ela sabe exatamente no que acabou de bater.

" Eu só queria dizer Oi, e agora eu tenho o nariz sangrando?" Ana reclama. 

"Bem, você poderia apenas ter dito Oi, não ter bancado a toda super poderosa-sequestradora comigo." Cecília diz com um pouco de raiva, cruzando os braços embaixo dos seios.

"Eu queria fazer uma surpresa!" Ana faz beicinho, segurando um papel toalha contra o nariz, que ela tinha acabado de pegar do dispensador. É, na verdade, o sangramento; e talvez Cecília esteja um pouco orgulhosa.

"Isso-" Cecília é cortada quando é arrastada para uma cabine com Ana. "Jesus, Ana, o que há de errado com você?" 3

"Shhh." Ana exige quando a porta do banheiro se abre. Cecília visivelmente revira os olhos.

"Não é como se sua mãe fosse entrar no banheiro só para nós ver." Cecília sussura, dizendo como se Ana fosse uma estúpida.

"Você ficaria surpresa. Agora, shh." Ana responde, e Cecília ouve o barulho do salto através do azulejo. Suas sobrancelhas levantam e ela olha para Ana - que agora estava em pé sobre o assento do vaso sanitário para que, se sua mãe olhasse por baixo das portas, não ficasse desconfiada.

"Cecília?" A voz da Dra. Caetano soa através do banheiro. 

Cecília  limpa a garganta. "Hm, sim?"

"Eu me esqueci de verificar sua pressão arterial. Então, quando você terminar, volte à minha sala, tudo bem?"

"Ok." Cecília responde, olhando para Ana que tem uma expressão de alívio no rosto. Elas ouvem a porta se fechar e Ana pula para fora do vaso sanitário.

"O que eu quero saber é como ela sabia que devia olhar aqui no banheiro." Ana diz, coçando a parte de trás do pescoço. 

"Talvez ela tenha visto você me arrastar até aqui." Cecília sugere. "Ou talvez ela ouviu você gritar feito um leitão quando eu bati no seu nariz e ela sabia que era eu me vingando." Ela ri. 

"Um leitão?" 

"Mhmm." Cecília sorri, mexendo no nariz de Ana. "É melhor eu voltar, então."

"Me liga hoje à noite?"

"Claro, Ninha"

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como estamos? to meio doentinha mas to me esforçando eu juro