Tratado de paz

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Eu deveria estar ansiosa, mas não estava

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Eu deveria estar ansiosa, mas não estava. Daqui a poucas horas o homem no qual viveria pelo resto da minha vida, em alguns anos apareceria. A última vez que nos vimos foi a uns quatro anos, eu era criança e mesmo com o destino traçado não tinha consciência de nada.

Mas agora eu consigo enxergar.

Em um contrato resolveram nossas vidas. A muitos anos atrás nossas famílias eram rivais, muito sangue foi derramado e agora era o fim. Com a união delas seria o ápice do narcotráfico, não haveria mais poderosos no país. Eu não poderia ir contra os planos do meu pai, o que me resta é aceitar.

Alguns assuntos eram proibidos aqui em casa, como por exemplo, o porquê de tanta guerra a alguns anos. O nome da minha mãe aparecia no meio de gritos quando minha madrasta se exaltava, mesmo depois de morta minha mãe ainda tinha seu ódio.

Eu tinha apenas seis anos quando ela morreu, não lembro de muita coisa, o que vive em minhas lembranças são fotos que meu pai faz questão de me mostrar. Ela era uma mulher linda, meu pai diz que eu tenho muito dela. Eu não posso sentir falta do que eu nunca tive, minha madrasta nunca me tratou mal. Lúcia foi a mãe que me faltou, nesses anos vi sua angústia quando não podia dar ao marido outro filho. O medo de ser trocada lhe afligia, as mulheres da máfia viviam com medos dos séculos passados, não tinham paz.

Eram submissas, aceitavam traições, muitas vezes até mesmo a violência dos companheiros. Lúcia nunca foi maltratada fisicamente, mas muitas vezes a vi chorando por conta de outras mulheres.

Fui privilegiada com muitos ensinamentos. Meu pai não escondia os negócios de mim, em meus quatorze anos já sabia usar uma arma como ninguém. Eu tenho a certeza de que não preciso dessa tradição arcaica de casamento, eu posso muito bem no futuro tomar o lugar do papai. Porém estava além de mim tudo que acontecia, tudo isso deveria ficar na idade medieval mas era assim que funcionava onde se tinha tanto poder econômico.

Kelly se arrumava toda empolgada, empolgação na qual eu não estava entendendo muito. Crescemos juntas. Lúcia é sua tia, a trouxe quando veio morar conosco. Kelly perdeu os pais quando era um bebê, não conversávamos muito sobre isso mas o tráfico estava no meio de tudo. Crescemos como irmãs, eu a via assim.

Solange ainda tem nove anos, a casa é enorme mas é pequena para sua energia. Eu só esperava que meu pai não fizesse com ela o mesmo que está fazendo comigo, tenho esperança que essa loucura acabe por aqui.

— Você deveria estar mais empolgada e não com essa cara. -Kelly se joga na cama, termino de ajeitar meu vestido e me sento com ela.

— Eu não ligo, Kelly.

— Será que ele mudou muito? -estava com uma empolgação explícita nos olhos.

— Eu espero que sim. O Shawn não tinha muita coisa além de tamanho e boca. -ela riu e eu suspirei ao me levantar.

CONTRATO (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora