Péssima mentirosa.

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Ao entrarmos em um quarto escuro e pequeno, Derian trancou a porta.
— Enlouqueceu?! — berrei. A música e os murmúrios que se seguiam pela casa estavam mais altos agora e era o suficiente para que ninguém me escutasse surtar. — Não vou transar com você. Ele riu com desdém.
— Nem eu com você.
Fiquei momentaneamente confusa. Uma interrogação enorme pairava sobre minha cabeça. Derian suspirou pesadamente, me olhando como se eu fosse a criatura de menor intelecto da face da terra.
— Mas o desafio... — tentei compreender.
— Ela disse algo, não especificou o que, e não tem como ela ou alguém saber se vamos fazer algo ou não, além de nós dois — esclareceu. Até que fazia bastante sentido.
— No entanto, tem uma falha aí — lembrei. — Ela pediu uma prova.
Derian estava apoiando as costas contra a porta, ele bateu a mão em algum lugar da parede, apertando o interruptor e iluminando o quarto de decoração simples, sem estantes ou quadros, apenas uma cama com lençóis brancos e um guarda roupa um tanto rustico. Me sentei na ponta do colchão, aguardando seu plano brilhante.
— E ela vai ter — respondeu.
— Vai? — perguntei enquanto descansava as mãos na cama.
Ele se limitou a acenar positivamente, me encarando de maneira estranha e suspeita. Precisava perguntar que tipo de ideia absurda ele tinha em mente, mas algo me alertava que não era uma boa ideia, talvez fosse aquilo que chamam de intuição.
Calado e com a camisa devidamente fechada, ele até parecia um cara comum. Não comum no sentido simplório, a aparência de Derian era tudo menos comum, mas com o olhar distante e de boca fechada, ele se tornava menos odiável.
O idiota ergueu o pulso, provavelmente contando os minutos para que aquilo acabasse e eu não o culpava, aquele silêncio era bastante desconfortável.
Derian se afastou da porta e se sentou ao meu lado me encarando. Depois de alguns segundos esperei que ele fosse parar, mas ele não o fez. O encarei de volta.
— Pretende desenhar meu rosto ou algo do tipo? — questionei. Os olhos dele continuaram fazendo uma varredura minuciosa no meu rosto.
— Você está malditamente linda hoje, continue falando, assim eu não esqueço que é uma megera — o elogio me deixou sem palavras, ainda mais com o pedido inusitado e incoerente. Ele não estava dizendo coisa com coisa.
Em um movimento imprevisto, ele agarrou minha cintura, me erguendo abruptamente e sentando-me em seu colo, cogitei que ele tivesse perdido toda a razão, mas então sua cabeça afundou na curva do meu ombro, ai eu tive certeza, Derian estava louco e queria morrer.
Derian beijou toda a extensão da minha pele, do ombro até o lóbulo da minha orelha, beijos terrivelmente lentos e molhados. E eu não o impedi, inicialmente, estava paralisada, era chocante demais para ser real. Assim que seus lábios fizeram pressão no meu pescoço, sugando a pele, meu corpo arrepiou por inteiro e como se não bastasse, suas mãos apertaram minha cintura com mais força, quase como se tentasse prevenir uma possível fuga minha.
— Derian...— falei um pouco tonta. — Está drogado? — agarrei seus braços tentando afastá-lo. Não que tivesse surtido muito efeito. Seus dentes roçaram minha pele e um som involuntário saiu da minha boca, mordi o lábio inferior amaldiçoando a mim mesma.
Ele ergueu a cabeça, com olhos arregalados.
— Holly — segurou minha nuca firmemente, prendendo os olhos nos meus com uma chama que eu desconhecia. — Faça isso de novo.
— O que? — sentada em seu colo, com sua mão apertando a curva acima do osso do meu quadril, a pele ardendo e molhada pelos seus beijos, era uma surpresa e tanto que ainda conseguia formular uma palavra. Derian não sorriu, não tinha humor em seus olhos, estavam sérios e tempestuosos.
— Gemer, Holly, eu quero ouvi-la gemer de novo, é um som lindo — suas palavras me atingiram como um sopro gelado no fim da noite, os pelos da minha nuca se eriçaram e algo no meu peito começava a queimar.
O ar sumiu dos meus pulmões e toda cor devia ter sido drenada do meu rosto, enquanto isso Derian encarava minha boca sem pudor, parecendo travar a maior batalha da sua vida.
— Eu não tinha... eu não gemi — menti. A malicia dançou nos seus olhos e na sua boca que se ergueu levemente. Em um movimento rápido ele girou o tronco, me jogando na cama e me cobrindo com seu corpo. Soltei um grito, ele estava se tornando cada vez mais imprevisível.
— Felizmente, é uma péssima mentirosa.
Na maioria das vezes que eu havia beijado alguém, não me lembrava ao certo em que momento o beijo começava nem como acontecia, sempre se resumia em um momento eu estava ali e no outro estava beijando.
Dessa vez não foi assim, cada movimento e respiração de Derian parecia ser facilmente percebida pelo meu corpo, a forma como seus lábios se entreabriam, o calor que emanava do seu corpo, os fios negros que caiam na sua testa e seus olhos azuis bem abertos e fixados nos meus quando seus lábios deslizaram na minha boca. Por alguns segundos, nos encaramos, sua boca sobre a minha, seu corpo imóvel, até que como qualquer outra garota que estivesse com Derian em cima de seu corpo, eu apenas cedi. Era inevitável, meus lábios tinham vida própria e eles queriam aquela boca, e ele sentiu isso, pois em seguida intensificou o beijo acariciando minha boca com sua língua. Fechei os olhos em êxtase.
Ele tinha gosto de framboesa com um toque de álcool, beijá-lo era quase tão prazeroso quanto tomar um drink.
Quando dei por mim, as mãos de Derian se aventuravam no meu cabelo e meus quadris, incansáveis e insaciáveis, ele me apertava, puxava meu cabelo, arrancava de mim sons que eu nunca tinha feito antes, era libertador e incrivelmente prazeroso.
Como mais cedo, ele deixou minha boca, voltando a vagar seus lábios pelo meu pescoço, descendo até minha clavícula em beijos deliciosamente demorados.
Eu tinha que pará-lo.
Ainda assim, agarrei suas costas, o incentivando.
Ele desceu até a curva do meu decote, um suspiro alto escapuliu da minha boca quando sua língua escorregou entre meus seios. Derian ergueu o olhar para mim, havia algo de feroz em seu cabelo bagunçado, suas maçãs coradas e olhar felino. Ele parecia capaz de me devorar, ele parecia querer me devorar e isto era insano.
Precisava ter coragem e sensatez, ou eu não o impediria.
— Você beija tão bem quanto antes, baby, se é que isso é possível — sussurrou sobre minha pele. A menção ao passado beliscou a parte racional que havia em mim.
Socos na porta me fizeram saltar.
— O tempo acabou pombinhos — era a voz da mulher louca de desafios indecentes.
Derian se levantou da cama, ajeitando a blusa amassada e mexendo na sua calça que estava com um volume protuberante bastante constrangedor. Ele estava excitado!
Eu, Holly Horn, tinha acabado de provocar uma ereção em Derian, o meu maior e único inimigo. Claramente não restava mais sanidade no meu corpo.
Ele terminou de se ajeitar, ignorando totalmente seu cabelo despenteado, o que não era um problema, o deixava ainda mais bonito.
O real problema foi quando estávamos prontos para sair do quarto, desci um pouco mais a barra do vestido, que misteriosamente estava bastante levantada.
Ele não disse uma palavra, o que não era algo terrível, mas o olhar de indiferença que ele me lançou assim que abriu a porta não era algo que podia ser facilmente ignorado e aquilo foi como uma agulha espetando meu coração, um mau pressentimento me abraçou. Meu ego foi pisado e estapeado pela frieza com a qual ele saiu do quarto sem sequer olhar para trás.
Tínhamos nos beijado, eu o odiava e ele a mim, não queria uma serenata de amor, mas, alguma explicação.
Descemos as escadas encontrando uma galera ávida, até meus amigos olhavam de longe, suas expressões era um verdadeiro misto de medo e curiosidade. A mulher no centro do grupo sorriu para nós.
— Eu iria perguntar onde está a prova, mas pelo batom borrado e a marca no pescoço dela, acho que já comprova o bastante — falou alto o suficiente para todos ouvirem, institivamente levei a mão ao pescoço.
“Ela vai ter”, era essa a prova que ele se referia, não passava disso. De longe, vi a boca de Ivy abrir e virar um "O" louvável. Derian deu de ombros despreocupadamente. Era sua vez de desafiar alguém.
Ele se virou para mim e pela primeira vez tive medo do que aquela boca idiota diria.
— Holly... — meu nome saiu da sua boca como veneno. — Desafio a nos dizer se gostou do que aconteceu naquele quarto.
Os gritos ensurdecedores sufocavam o sentimento de traição que eu sentia, era como se tivesse sido enganada e não gostava da sensação. Ele não deu detalhes, mas ele estava usando isso para se gabar, ele estava usando minha fraqueza como combustível para seu complexo de superioridade. Alguém gritou ao fundo:
— Mentiras desclassificam!
Ninguém saberia se eu estivesse mentindo, mas ele saberia e se sentiria ainda mais vitorioso se eu o fizesse. Joguei minha dignidade no chão e ergui o queixo.
— Gostei — admiti, mas as palavras saíram com tanto desdém que era como se eu tivesse dito que comprei pão. Dei um pequeno sorriso. Era a minha vez. Não teria pena dele, não me importava com ele, ele era um babaca, sempre foi um babaca e isso jamais mudaria. Não havia esperanças para Derian Stuart. Busquei o maior cara e mais forte.
— Você! — apontei para um cara alto e fisicamente musculoso. — Te desafio a dar um soco nele — apontei para Derian. As pessoas se chocaram, mas ele não, o que não significava que estava feliz com a ideia.
Ele permaneceu parado enquanto o estranho, rindo bastante, se aproximou para cumprir seu desafio. Não me dei o trabalho de olhar. Fui procurar uma bebida forte, a noite ainda seria bem longa.

Eu te Desafio ( Disponível Na Amazon)Where stories live. Discover now