Capítulo Seis

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Encontrava-me sentada de pernas à chinês no grande sofá branco do grande edifício da mesma cor. Olhava a parede atentamente, tentando entender o porquê de a cor predominante daqui ser branco. É um facto que eu duvide que algum dia irá entender.

Deito-me, para me manter mais confortável, e sinto algo duro nas minhas costas. Confusa, eu volto-me a sentar, e vejo um pequeno diário de cabedal a meu lado. Como veio ele aqui parar? Já estava aqui desde que me tinha sentado? Eu acho que não, pois sinceramente nunca o tinha visto na vida.

Curiosa como sou, pego nele e pouso-o no meu colo admirando a capa. Passo o dedo indicador sobre a mesma, sentindo o cabedal colidir com a minha pele. Arrepio-me levemente, e abro-o.

Vejo uma letra muito bem escrita, e fico a admirá-la. Cada pormenor da letra é algo maravilhoso de se ver. Os pontos dos i's são uma pequena bola aberta, a perna do f esta com uma espécie de pequeno caracol no fim. Cada letra está maravilhosamente bem feita. Olho para o início da folha, e começo a ler.

" 25 de maio de 2013

Avó,

Hoje foi o dia do teu funeral. Ver-te ali naquele grande caixão, totalmente vulnerável, com a pele totalmente branca e sem vida. A mãe não parava de chorar, a tua neta, minha irmã foi o mesmo. Já eu, desculpa avó mas não aguentei e tive de sair. Eu sei que querias que ficasse contigo até seres enterrada, mas simplesmente foi demais e não consegui. Tu és a minha heroína, e ver-te ser enterrada é tortura, desculpa.

Eu fui até à praia onde tu me contas-te que estavas doente lembras-te? Essa praia tornou-se o meu refúgio desde à muito tempo. Fui até lá e sentei-me na areia a olhar o horizonte, enquanto lágrimas salgadas me escorriam pela cara.

Esperei ansiosamente que o sol tocasse na linha do horizonte, e quando isso aconteceu o sol brilhou mais que o normal, e ouvi um pequeno zumbido. Nesse momento olhei o céu, e vi a primeira estrela aparecer. Imediatamente sabia que eras tu que estavas ali a cuidar de mim. Mandei um beijo para o céu e mais lágrimas cairam.

Pois avó, não sabes mas o avô quando te descobriu... Sem vida... Ele teve um enfarte e... Bom, não sobreviveu. Como é possível eu conseguir aguentar duas mortes quase no mesmo dia? Eu tenho apenas dezanove anos... Vocês eram tão novos avó...

Bom, já estou a chorar só de escrever isto, acho que vou parar por hoje. Está-me a custar demais, desculpa.

Amo-te avó. Para sempre."

Senti pequenas lágrimas a quererem-se formar nos meus olhos, mas puxei-as a tempo de cairem. Quem escreveu isto? Quem foi que escreveu algo tão lindo e profundo?

A curiosidade era cada vez maior à medida que ia lendo página a página. Quem quer que o tenha escrito, deve sem dúvida sofrer com tais acontecimentos. Deve ser uma pessoa triste. Lamento tanto por esta pessoa, mesmo entendendo-a na perfeição. Mas a curiosidade parece maior sobre o como e o porquê de o diário ter aparecido a meu lado, e quem o escreveu.

Curiosidade, muita curiosidade.

Guardei o caderno de novo na carteira e suspirei de alívio enquanto me olhava no espelho da casa de banho em casa do Harry. Sabia que ia acabar por adormecer cá, e ainda bem que trouxe o caderno, senão iria entrar em total desespero por não escrever o meu sonho. E especialmente este que é tão misterioso.

Passo a cara por água e saio da casa de banho, vendo Harry encostado à parede a olhar o chão. Este levanta a sua cabeça quando ouve a porta fechar.

"Está tudo bem? É que saíste da sala literalmente a correr." Eu assinto com a cabeça nervosamente e suspiro. "Dormiste bem?" Volto a assentir, e sinto que este ambiente é deveras constrangedor. "Anda, vem lanchar. A Megan acabou de sair da piscina e está esfomeada." Piscina? Deus como eu amo ir à piscina...!

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