Capítulo Oito

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Suspirei ligeiramente farta de andar. Não sei porque ando tanto... Talvez seja pelo facto de ser muito curiosa e de querer saber tudo e mais alguma coisa, talvez... Eu não sei!

Olhei em volta, e inspirei o ar que se encontrava com neblina, e depois expirei. Concentrei o meu olhar quando vi uma pequena aldeia, não muito longe de mim, deixando-me assim feliz por puder parar para descansar os meus pés cansados.

Andei até lá, e assim que cheguei estava um pouco deserta. Não que fosse de estranhar, mas nas aldeias está sempre imensa gente a passear e a cumprimentar os vizinhos e coisas desse género que eu não entendo.

Caminhava pela estrada, visto que nenhum carro ou carroça puxada por cavalos aparecia. Cada casa tinha quase a mesma altura que a seguinte. Eram feitas de madeira e pedra, com janelas pequenas no andar de cima e duas no andar de baixo; cada uma com uma porta de madeira, relativamente alta e larga em comprimento. Eram todas iguais, pareciam gémeas. O paralelo nas ruas notava-se que já estava um pouco gasto, e um pouco de feno aqui e ali era visível.

Um pouco depois, vi uma pequena criança brincar com uma boneca velha de trapos sujos, no meio da estrada. Como a pequena ainda se encontrava longe, eu fui até ela, deixando que a minha curiosidade me consumisse.

Assim que a alcancei, pude verificar que o seu rosto transbordava felicidade extrema. Os seus cabelos loiros compridos e com pequenos nós, caia-lhe pelos ombros; as suas pequenas mãos seguravam a boneca, enquanto os seus olhos a contemplavam, mostrando um pequeno brilho neles. Tinha um grande sorriso, e notava-se que era uma criança feliz.

Esta criança era bela, e eu lá no fundo, invejava a sua felicidade.

Reparei bem nela, e fiquei espantada com o que me tinha apercebido... Era eu. Eu era aquela criança feliz que brincava com uma boneca de trapos. Aquela criança que o único sentimento que demonstrava era felicidade, e isso notava-se pelo seu olhar. Eu era assim... Agora já não. Eu já não sorrio, não demonstro qualquer sentimento quer pelo meu olhar, ações ou palavras. Eu já não demonstro nada. Sou vazia em todos os aspetos, e eu gosto de ser assim, embora às vezes sinta falta da altura em que era feliz...

A menina... Eu, neste caso... Continua a brincar com a boneca, e pouco depois levanta a sua cabeça e olha na minha direção. O seu sorriso desaparece, e curiosidade aparece no seu olhar. Pergunto-me se será porque está a ver o seu "eu" no futuro, mas as minhas dúvidas desaparecem quando um rapazinho aparece a correr e se senta ao meu "eu" infantil.

Eles olham-se e sorriem um ao outro, começando a brincar juntos.

O pequeno rapaz demonstra felicidade também. O seu cabelo loiro acastanhado cortado em forma de tigela, enquanto os seus grandes olhos verdes fazem captar a atenção de qualquer pessoa que os veja. As suas pequenas mãos enquanto brincam, e tocam sem querer na pequena menina que está a seu lado. O sorriso que ele tem no seu rosto é enorme, e o seu olhar é indecifrável. O rapaz é belo do seu jeito. E as crianças parecem entenderem-se.

Agora o que me pergunto é: eu já conheço este rapaz? Se sim, de onde? É que sinceramente eu nunca vi uma criança assim tão bonita. Ele é me um pouco familiar, mas não sei de onde o possa ter reconhecido ou não.

Quem é este rapazinho que se encontra a brincar com o meu pequeno "eu"?

Quem é ele?

Fechei a caneta com a sua tampa e pousei-a na mesinha de cabeceira enquanto observava a minha caligrafia que descrevia este sonho que tivera esta noite. Foi impressionante, o facto de me ter visto no passado. Eu não sei ao certo, mas algo naquele local onde me encontrava, era me familiar. Algo nele chamava a minha atenção, já para não falar no misterioso rapaz loiro de olhos verdes.

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