A Noiva Apaixonada

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Já fazia algum tempo que não via Shenraj, por isso combinamos de nos encontrar no parque dos Cogumelos Brilhantes, o lugar que pegamos pela primeira vez nas mãos. Tinha sido um dia lindo e ensolarado, Avill falava por nós dois, enquanto dávamos várias voltas de mãos dadas rindo e aproveitando o tempo juntos. Que lembrança feliz e triste.

Ver o Shen de agora me dava tristeza. Meu amado estava mais magro e com os olhos profundos. Seu totem seguia-o poucos centímetros atrás fungando o nariz e coçando com frequência as orelhas pontudas.

— Você está bem Shen? — Perguntei, sabendo que não, mas ele não era de falar se não fosse perguntado. — Já faz algumas semanas que não nos vemos.

— Estou. — Disse rispidamente soltando meus dedos. — E como está a vida de estagiária do grande detetive Conrado. — Sua voz estava mais fina e mais áspera.

— Ele é um investigador na verdade. — Corrigi, bagunçando os cabelos dele que estavam ficando mais longos que habitual que ele gostava. — Não faço muita coisa, já que o Conrado já resolveu o caso, eu só anoto e estou tentando desvendar sozinha, mas não tenho a mínima ideia. Como está a sua mãe?

— Já faz seis meses que não vejo madame Noar ou o Valentim. — Ele olhou triste para o goblim. — Eu estou morando na casa da floresta perto do memorial da Avill.

— Lugar sinistro para morar não acha? — Brinquei entrelaçando nossos dedos novamente.

— Não. — Sua voz e seu olhar estavam distantes. — Eu a sinto mais perto de mim quando estou lá.

Dava pena olhar para ele.

Abandonado pelos pais por não ter tanta habilidade como os irmãos e para piorar perder a única pessoa, depois de mim, que o amava de verdade.

E seu pai? — Eu sabia que o Senhor Noar gostava um pouco do Shen, pois sempre que o menino tinha algum problema na escola era ele que ia resolver.

Ele está sempre em reunião com os Doze, discutindo sobre coisas que aconteceram e sobre magias que precisam ser reforçadas. Um dos criados disse que ele e madame Noar brigaram feio algum tempo atrás, algo sobre traição.

Eu estava horrorizada pelo que ele me contava, mas Shenraj parecia estar falando de algo que não importava em nada para ele.

— Nossa Shen. — Disse parando-o, eu não sabia o que dizer ou que fazer. — O que posso fazer por você?

— Relaxa, mesmo eu tendo perdido minha irmã à dois anos, eu tenho você para sempre. — Naquele instante sua voz soou como antes, doce e amável da mesma forma do dia em que ficamos noivos. Ele me deu um beijo na testa. — Enquanto eu tiver o meu Sol e Lua, não preciso temer a escuridão. Sabe, eu só quero um dia... Com você.

Não me contive e dei um selinho rápido nele, e por alguns segundos o mundo ficou perfeito e maravilhoso como Teran devia ser. Lembrei-me do dia que nos conhecemos, eu tinha seis e ele cinco. Shen me levou para andar de arraia-lula no lago, e eu estava morrendo de me de cair e me afogar. Ele pegou uma fita vermelha e amarrou em nossas cinturas dizendo: "Dê agora e para sempre... estamos atados". Naquele dia recebi minha Glacy e fiz da fita vermelha meu canalizador magico.

Aquela memória era o verdadeiro Shenraj, não o que estava comigo.

Andamos de mãos dadas pelo parque conversando sobre magia e o futuro juntos, — ter uma casa nas montanhas, algumas quimeras para cuidar e muitos filhos. Corremos atrás dos patos dentes-de-sabre, seguindo a tradição do casamento, o casal que pegar um pato-dente-de-sabre terá felicidade eterna. Nadamos nus no lago da Ex-Donzela e brincamos de quem segurava a respiração por mais tempo. Por fim deitamos na grama olhando as primeiras estrelas no véu azul-marinho do céu. Eu nunca me esqueceria daquele dia perfeito e cheio de amor.

PSICOMALWhere stories live. Discover now