A Exilada Azul

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Eu me lembro de que estava dormindo, havia passado horas na Espiral tentando entender como o lugar mais seguro do mundo ardia em chamas, quando do nada fui lançada da minha cama para o chão. Levantei correndo, mesmo que desnorteada pela pancada, e abri a janela, o que vi nunca, nunca mesmo saiu da minha memória.

Ligência estava pegando fogo, não era um fogo normal, era um fogo multicolorido. Cada labareda trazia uma tragédia e uma peste. O fogo verde fazia vermes saírem das pessoas, o fogo azul congelava, o fogo negro queimava a alma das pessoas deixando seus totens, o fogo rosa explodia os corpos membro a membro, e fora as cores que não eu conseguia distinguir. Além do fogo havia monstros horríveis e totens espectrais voando e correndo pela vila.

Era uma visão que não poderia existir em Teran.

Vesti rapidamente um vestido azul, o último presente que Shen me deu. Glacy apareceu voando sobre minha cabeça lançando penas de gelo em um monstro que surgiu em minha janela. Eu só pensava em Shen e que devíamos fugir para alguma gruta para nos esconder.

Eu tinha conseguido segurar o vômito na janela, mas quando pisei na rua tudo que havia no meu estômago saiu me fazendo cair de joelhos. Casas e jardins estavam queimados e destruídos, havia partes de pessoas e cinzas de totens por todos os lados. As pessoas que conseguiam fugir do fogo eram comidas pelos monstros ou mortas pelos totens espectrais.

Não deu muito tempo para observar. Um monstro quimérico com um único olho tentou me agarrar, desviei para esquerda conjurando um feitiço de escudo de gelo, enquanto meu totem cravava uma pena de gelo no olho da besta.

Corri desviando de corpos e destroços até o centro da vila, quando vi o Investigador Conrado e sua fada Gálio de frente a uma sombra negra que pairava no ar. A sombra usava um capuz de mago que cobria o corpo todo feito de escuridão e flâmulas de fogo, um de seus braços era de madeira escura e ressecada, e o outro era tão claro e delicado quanto de uma princesa. Havia dois totens, na direita um dragão-serpente e na esquerda, eu quase não acreditei, era o Gris, o goblim do Shenraj.

De certa forma eu já suspeitava disso, mas não queria acreditar que o amor da minha vida poderia fazer uma coisa dessas. Não era o jeito dele e ele não tinha poder para isso, pelo menos era o que eu pensava.

Aproximei-me fortificando meu escudo, enquanto Glacy estava com suas penas prontas para o ataque.

Shen? — Minha voz vacilou, não sabia se ele estava me ouvido.

Ah, pequena Sol. — A voz que saia da sombra era feminina e familiar. — Meu irmão nesse momento está dormindo e sonhando com você, saiba que ele te ama muito.

Avill? — Coloquei a mão na boca surpresa. — Como isso é possível?

Era algo idiota de dizer quando se tratava de Avill, a garota era capaz de criar portais para outras dimensões, ressuscitar os mortos, usar todos os elementos e magias totalmente desconhecidas, era praticamente uma deusa encarnada.

— Para mim tudo é possível. — Sua voz saiu mais triste do que arrogante. — Eu juro que não queria chegar a isso, mas...

— Pare com isso Avill. — Gritou Conrado com a postura digna de um dos Doze. — Eu sei por que você fez tudo isso, mas não precisa terminar assim.

— Você sabe? — Debochou Avill com o rosto de Shenraj, que fez meu coração doer, a face do meu amado sempre era de ternura, ver outras expressões era antinatural. — Só meu irmãozinho sabe a verdade.

Quando você matou o lenhador, já desconfiei de vingança, mas era algo difícil de acontecer em Teran. — O investigador vacilou um pouco. — Mas quando vi o que o monóculo guardava, já sabia que tinha sido o Shenraj.

PSICOMALWhere stories live. Discover now