Epílogo

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Um beep me desperta. É hora do café da manhã. Ainda estou sonolenta e exausta dos treinamentos mentais da noite anterior. Mas já consigo viajar astralmente nessa dimensão.

Levanto alisando minha camisola e tentando ajeitar meus cabelos pretos da melhor forma possível. Por algum motivo essa realidade não permite fluidez de cor e textura, ela é meio barbara.

Eu vou te encontrar Shen. — Falo determinada para o meu reflexo percebendo que minhas olheiras estão piores. — Eu sei. — Ele responde no fundo da minha mente.

A porta se abre revelando a enfermeira Joyce com a bandeja de poções, que ela chama de remédios. Ela é simpática e não aperta meu traseiro como fazem alguns enfermeiros.

Bom dia. — Diz sorrindo, seus dreads cheios de elásticos coloridos a fazem parecer uma Medusa alegre. — Hoje quem está na luz?

Quem mais estaria? Apenas eu, Sol. — Respondo sentando na cama de metal com colchão d'água, apoiando minhas mãos sobre os joelhos. — Será que vou poder ver meus totens hoje?

Totens? — Joyce enruga as sobrancelhas fazendo-a parecer mais velha. — Ah, — Exclama batendo na testa revelando suas unhas coloridas em contraste a pele negra. — Seus totens, o gato cinza e arara azul. É claro, mas só depois da sessão com o Doutor Agenor.

Certo. — Olhei para ela sorrindo. Aprendi que nessa dimensão sorrir facilita muitas coisas. — Eu posso também pegar meus cristais de memórias?

— Você terá que pedir para o doutor. — Responde-me entregando os doze comprimidos de cores e formas diferentes. Eles não têm gosto, mas me dão pesadelos e bloqueiam um pouco meus poderes. — Se tudo for bem, talvez até te mudem para uma ala mais perto do jardim. Você gosta de plantas não é?

Adoro! — Digo animada tomando o ultimo comprimido, na verdade aprendi esconde-los no meio da garganta. — Estar conectado com as plantas é algo mágico. — Respondo animada. — Meus poderes ficam mais fortes quando estou perto dela.

É, eu também sinto meus poderes mais fortes, principalmente quando fumo umas folhas. — Fala rindo e guiando-me para fora do quarto.

Andamos da ala dos quartos com grades até o consultório do Doutor Agenor. É uma caminhada longa e relaxante. O branco é a cor dominante no prédio, não só nas paredes, como as maiorias das pessoas usam vários tons de branco. Isso traz um ar espiritual e de paz, pelo menos de dia, de noite era o extremo oposto. Acontecem coisas estranhas por aqui.

Assim que chegamos à sala de sessão Joyce me deixou, enquanto o doutor Agenor entrou meio trôpego segurando uma xícara de café em uma mão e um cigarro na outra.

— Bom Dia... — Olhou para mim esperando uma resposta.

Solluáh. — Respondi sorrindo. Eu preciso que ele me deixe ver Gris e Glacy para fazer um feitiço de localização. — Está um dia maravilhoso hoje, não é?

Claro. Claro. — Apoiou a xícara na mesa me olhando de cima a baixo. — Sol, a P1. — Sentou pegando um caderno de capa cinza e o abriu na horizontal, apertando umas pedras que ficavam na folha inferior, muito parecido com nossos domos maquinomagicos. — Me deixa ver aqui seus últimos relatórios.

Doutor, será que posso ver meus totens hoje? — Perguntei ansiosa e sorrindo. — Já faz dias que não os vejo.

Sol. — Fala após baforar uma nuvem tóxica. — Você diz que vem de Teran, uma dimensão mágica que foi destruída por uma magruxeira muito poderosa que era sua cunhada, que havia morrido e estava possuindo o corpo do seu prometido. E você conseguiu guardar os fantasmas das pessoas mortas nas pedras coloridas que você carrega. — Ele coça a barba rala e mal feita. — Seu prometido no último ato de amor te mandou para essa dimensão para que se encontrassem.

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