Sobreviventes II

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O CV-990 voava sobre o mar do Caribe, em algum ponto entre a Nicarágua e a Jamaica, quando o piloto, o comandante brasileiro, Jacinto, homem com larga experiência em aviação comercial, enxergou a distância um imenso sistema de nuvens. Tratava-se de uma supercélula de cúmulo-nimbos, um tipo de nuvem de tempestade comum, porém extremamente perigosa para aviões de qualquer porte. Sua principal característica é o formato alongado e vertical, lembrando uma explosão atômica.

Cada nuvem tinha mais de quinze quilômetros de altura, e seus topos atingiam picos superiores a vinte mil metros, o que tornava impossível elevar a altitude e fazer o contorno por cima. No interior de cada nuvem, havia forte incidência de ventos, relâmpagos, granizos - esses de tão grandes, seriam capazes de abrir buracos do tamanho de uma bola de futebol na fuselagem do avião. Por isso, a recomendação de segurança era sempre contornar pela direita quando se sobrevoava o hemisfério norte, mantendo ao menos vinte quilômetros de distância da tempestade.

O comandante Jacinto e o copiloto, comandante, também brasileiro, Francisco, se entreolharam, surpresos. Não havia nenhum aviso de tempestade na rota deles, sobretudo uma tão grande. Era possível enxergá-la a mais de setenta quilômetros de distância, mesmo sendo noite.

— Meu Deus, olha o tamanho daquilo — finalmente comentou Francisco.

— Acho que é a maior que já vi — respondeu Jacinto, arqueando as sobrancelhas. — Definitivamente, não podemos passar direto, precisamos contornar.

Jacinto entrou em contato com a torre de comando em terra e comunicou que fariam um desvio de rota, direcionando o avião para próximo das águas da Jamaica, por medida de segurança. Era evidente que a capital, Kingston, enfrentaria uma tempestade terrível dentro de algumas horas. Era comum naquela região a formação de tempestades e até de furacões, que muitas vezes se deslocavam até a costa norte-americana.

Após a confirmação da torre de controle, ele traçou uma curva suave para a direita, apontando o nariz do avião em direção a Cuba. Certamente, não pretendia sobrevoar Havana, mas talvez fosse forçado a passar sobre as Ilhas Cayman para desviar da tempestade com segurança. Afinal, a segurança de quase cento e trinta pessoas dependia da experiência e do bom senso dele.

Naquele instante, por precaução, o comandante acionou os avisos para os passageiros afivelarem os cintos de segurança. As aeromoças circularam pelo corredor averiguando se todos estavam cumprindo as recomendações, e uma delas acordou Lauren e Ulisses para que apertassem os seus.

Lauren acordou um pouco desorientada e logo foi afivelando o cinto; Ulisses ao vê-la, fez o mesmo. Shawn, que ainda estava desperto, já tinha apertado seu cinto.

— Pelo visto, vai ter turbulência — comentou Lauren, enquanto olhava pela janela, tentando enxergar alguma coisa em meio à escuridão.

  Na parte da frente do avião, as comissárias já tomavam assento e afivelavam seus próprios cintos.

  — Eu li que é normal acontecerem tempestades nesta região — contou Ulisses distraidamente, cruzando os braços como se fosse voltar a dormir.

  Foi quando Lauren enxergou um relâmpago incrivelmente brilhante, vários quilômetros à frente, cortando a tempestade ao meio. O clarão fez com que a adolescente enxergasse parte considerável do gigantesco sistema de nuvens negras.

  — É, espero que você tenha razão — balbuciou Lauren.

  Ela não tinha experiência em voos, mas nunca havia visto nada parecido com aquilo.

  O piloto seguia na trajetória para desviar da imensa tempestade. Foi quando chamou uma notícia pelo rádio.

  — Atenção, CV-990, a tempestade está quase sobre Kingston e surgiu com força impressionante. O trajeto escolhido não é suficientemente evasivo, rume para o sul de Cuba e depois contorne à esquerda.

Os Filhos da Tempestade - CamrenWhere stories live. Discover now