O Batismo II

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A queda não durou mais do que quatro segundos. Mas que quatro segundos foram aqueles! Tiveram a intensidade de uma bomba e valeram por uma vida inteira.

Lauren e Karla atingiram o mar com um estrondo, afundando na água. O contraste do vento com o oceano gelado era uma sensação poderosa, que fazia os pulmões se retraírem. David gritou de orgulho e aprovação, então nadou na direção do lugar onde elas haviam mergulhado para se certificar de que estavam bem.

Lauren foi a primeira a emergir, mas, antes mesmo que pudesse se preocupar, Karla apareceu. A moça encheu os pulmões de ar ruidosamente e, ao ver a parceira naquela aventura, sorriu de forma inebriante.

— A gente conseguiu! — gritou alucinada, alisando os cabelos encharcados para trás.

— A gente é foda! — reagiu Lauren, esmurrando a água, vitoriosa.

Lá de cima, os outros gritavam e aplaudiam. Se a audácia de David tinha sido espetacular, a coragem de Karla e Lauren parecia inspiradora.

Mas, naquela manhã, ninguém mais saltou. Aquele dia pertencia a Karla e Lauren, e a mais ninguém.

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Os dias voaram depois daquele grande encontro com a ilha. Lauren e Karla tinham se tornado mais próximas, e Shawn, Ulisses e Dinah passaram a fazer tudo com as duas.

  Grupos se formaram. Alguns se dedicavam a explorar a ilha, outros pescavam ou passavam horas na praia. Lauren, Karla, Dinah, Shawn e Ulisses adoravam se banhar nas lagoas e colher frutas.

  Havia tarefas a serem realizadas e cada um tinha suas responsabilidades. Pescar, recolher caranguejos, carregar água e manter o acampamento organizado eram algumas das coisas que precisavam ser feitas diariamente. Mas nada daquilo soava como uma obrigação, muito pelo contrário.

  Karla falava cada vez menos com Michael, o que deixava o rapaz com mais raiva ainda de Lauren. Mas era inevitável. Ela sentia imensa empatia pela companheira de aventuras, o que dificultava muito a convivência com o amigo implicante. Os cinco adolescentes encontraram cachoeiras lindas, algumas perigosas demais para o banho, outros perfeitas para se refrescar. Viram também penhascos a partir de trilhas nas montanhas que percorriam todos os dias.

  A floresta era impressionante. Quando caminhavam entre as árvores, escutavam uma infinidade de sons, de pássaros a macacos, além do farfalhar das folhas e galhos. O cheiro da relva era revigorante, bem diferente da selva de pedra em que estavam acostumados a viver, apesar de Salvador ser uma cidade bem mais arborizada do que a maioria das capitais brasileiras.

  Eles costumavam passar horas caminhando. Em certa ocasião, encontraram uma praia mais afastada e ficaram fascinados com o que viram. Era uma enseada em forma de meia-lua,  repleta de rochas na areia e na beira do mar, formando pequenas piscinas de água salgada. Quando se aproximaram, perceberam que havia peixes naqueles tanques de pedra, aprisionados depois da baixa maré.

  — Vejam — exclamou Karla. — É um aquário natural. Se bobear, conseguimos pegar os peixes com as mãos!

  Havia mais de trinta peixes presos ali, alguns parecendo pesar quase um quilo. Daquela forma, não seria nem preciso pescar; bastaria retornar todos os dias, capturar os que tivessem ficado presos e levá-los para o acampamento.

  — Lauren, me ajuda a subir, por favor — disse Karla, pedindo a moça para servir de apoio, de modo que ela pudesse escalar as pedras e pular na piscina natural, junto com os peixes.

Os Filhos da Tempestade - CamrenWhere stories live. Discover now