Sobreviventes III

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Lauren abriu os olhos, atordoada, custando a acreditar que estava viva. Quando olhou para baixo, sentiu seu coração disparar ao perceber que seus tornozelos estavam dentro da água, que adentrava rapidamente pelos buracos da fuselagem.

Ela olhou em volta e viu uma quantidade imensa de pessoas mortas, prensadas entre os bancos soltos e pedaços do bagageiro que havia desabado, além de dezenas de outras que gritavam, choravam e imploravam por socorro. Os que conseguiam se mexer tentavam se erguer no meio da cena caótica, saindo do meio dos escombros.

O que restava da aeronave sacolejava no oceano revolto. A tempestade continuava furiosa, agora no nível do mar.

— Peguem os salva-vidas debaixo dos bancos e vistam agora mesmo! Precisamos sair do avião! - gritou uma comissária de bordo, tentando fazer a voz sobressair ao caos que reinava naquele pedaço de Inferno flutuante.

Lauren olhou para Ulisses e Shawn e viu que ambos estavam bem. Os três estavam numa parte do avião em que o efeito dominó das poltronas tinha sido menos intenso. Muitos de seus colegas pareciam feridos, mas vivos, já que o lado direito da aeronave, onde estavam, tinha sido menos atingido. A maioria dos passageiros sentados do lado esquerdo haviam sido esmagados.

Os três vestiram os salva-vidas e se esgueiraram pelo corredor, que já estava com mais de quarenta centímetros de água e destroços boiando. As luzes de emergência continuavam acesas, mas mesmo assim era difícil enxergar a passagem com clareza.

Uma das poucas comissárias de bordo que havia sobrevivido destravou a porta de emergência. Os sobreviventes que não estavam presos nas ferragens começaram a pular no mar gelado, trôpegos, empurrando uns aos outros, desesperados para sair da aeronave, que afundava cada vez mais rápido.

Karla ficou paralisada na porta. Estava em pânico, chorando descontroladamente, e o que lhe restava de coragem evaporou ao ver o mar enfurecido.

— Eu não posso... — murmurou, tremendo. — Eu não sei nadar direito...

Dinah, que estava à frente de Karla, prestes a pular, parou, apavorada, quando percebeu que a amiga hesitava.

— Karla, vamos!

— Eu vou me afogar! Eu vou morrer! — respondeu a garota, cedendo ao pânico de vez.

Com o impasse, Shawn e Ulisses tomaram a dianteira e pularam. Lauren, que vinha logo atrás dos dois, agarrou Karla pelos ombros e a sacudiu, fazendo-a voltar a si.

— Você não vai afundar, o salva-vidas não vai deixar! Precisamos pular agora! — Com o tumulto da fila que se formava, as pessoas praticamente empurravam os três para fora.

Ao ver que Lauren tomava o controle da situação, Dinah pulou, chamando Karla para acompanhá-la. Lauren abraçou a garota, girou o corpo e pulou com ela, caindo no oceano furioso.

A água estava gelada, cortante. Karla se debatia, pensando que ia afundar. Lauren olhou em volta, em choque, vendo o número cada vez maior de pessoas se debatendo no mar, enquanto outros pulavam pelas portas de emergência.

Então, um rangido metálico subiu das entranhas do que restava da aeronave, que começou a tombar para um dos lados devido à água que havia invadido boa parte da cabine.

Ao longe, ouviam-se os gritos aterrorizados das pessoas presas no avião. Mulheres, crianças, homens e idosos enganchados nas ferragens, amarrados aos cintos de segurança ou simplesmente petrificados pelo medo berraram em uníssono quando perceberam que o tempo havia se esgotado.

Os Filhos da Tempestade - CamrenOù les histoires vivent. Découvrez maintenant