- Capítulo 24 - Pesadelos

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     -O que te traz aqui? - A voz do príncipe ficou rouca.

     -Nunca imaginei que Nora pudesse roncar tão alto.

    Matthew gargalhou, logo mexeu seu saco de dormir para o lado, liberando mais espaço e aceitando meu convite silencioso. Deito-me ao seu lado sem questionar, agora estava envergonhada o bastante para pegar no sono. O príncipe parecia agitado também, revirando os cobertores na esperança de se sentir mais confortável.

     -Espero que não se sinta muito desconfortável comigo aqui. - Matthew comentou.

     -Não estou.

     O príncipe revirou-se outra vez. Encarei-o.

     -Você parece desconfortável - Acusei. - Também não entendo o porquê, você já compartilhou a cama com outras mulheres... - Foi um fato que acabou escapando da minha boca, e eu já estava me arrependendo da ideia de ficar ali. Matthew me encarou desta vez, todo meu corpo ficou tenso.

     -Este fato te irrita?

    Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.

    Aqueles malditos joguinhos me fizeram revirar os olhos.

     -Não. Também já dormi com alguém. - Comentei enquanto lembrava da época que Sam me acolhia em sua casa e me deixava passar a noite, tentando escapar da vida no castelo que se tornava uma bagunça a cada dia, e na manhã seguinte ele me oferecia chá. Muitas vezes ficávamos conversando até o amanhecer, mas eu gostava da sua presença. Porém era tudo falso desde o início... apenas para chegar a coroa.

    Por outro lado, agradeci por não ser ingênua o suficiente de ter me entregado para ele.

     -Isso justifica o fato de encontrar você só pela manhã, quando eu estava em Velares.

     -Sim.

     -Era o Sam, não era?

    Minha voz falhou.  

     -Eu não quero falar disso.

     -Desculpe. - Matthew pigarreou, e então virou-se de costas para mim.

    Aparentemente tinha caído no sono depois de alguns minutos.

    Fiquei deitada olhando fixamente para o teto da barraca, pensando em várias questões que poderiam acontecer. A primeira delas é o que eu faria se essa guerra terminasse. Talvez eu voltaria para Libertália e começasse a minha vida do zero. Outra parte de mim não queria me afastar dos meus amigos, da minha irmã. Imaginei como seria sem graça viver cheia de luxo sentada em um trono, mas sem a solidariedade de Nora, sem a ingenuidade de Audrey, sem as histórias mirabolantes de Júlio, sem Matthew…

     Por outro lado, comecei a imaginar se eu perdesse a guerra. O que Sam faria comigo ou com todos que habitam Thessália. O que ele vai fazer com o Livro em mãos? Ele poderia conquistar todos os continentes que quisesse, mesmo com Ruby do nosso lado. Ele me dissera uma vez na floresta que estava planejando um monstro para nos destruir, eu não podia medir o tamanho do estrago se sua criação desse certo. Tombei a cabeça para o lado, onde Matthew dormia tranquilamente de costas para mim. A fogueira estava acesa, podia perceber ao formar sombras do lado de fora de nossa tenda. Em primeiro momento as sombras apenas mostravam os movimento do fogo mas...

    A sombra ganhou forma. Não era Ryder, era uma pessoa mais baixa e magra. Meu corpo estremeceu quando notei a coroa ao topo da cabeça. A sombra de Sam veio me perturbar de novo.

    Uma espada surgiu da escuridão. A forma se movimentou perigosamente. E então a lâmina desceu em direção de Matthew.

     -NÃO! - Gritei, esquecendo que era apenas outro sonho.

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