A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO

JAEL

Medeiros fica parada. Olhando diretamente para uma peça de cerâmica, que tem a forma de uma mulher dançando. Na verdade lembra uma passista de frevo.

Qual o motivo de Almeida esconder-lhe uma informação? Túlio tem fissuras no ânus. Porém não lhe falta nenhum órgão. O corpo dele está intacto.

Porém o que continua quebrando sua linha de raciocínio é pensar o porquê de Almeida não ter lhe contado.

Logo, perguntas começam a serem disparadas em sua mente: "O que será que levou Túlio a jogar-se de um paredão?", "Será que ele foi jogado ou caiu acidentalmente?", "E se Túlio fosse um homossexual? E tivesse sido morto por isso?", "Ou será que morreu enquanto fugia?". São tantas perguntas sem respostas, que ela passa a acreditar na ínfima possibilidade de nada ser, o que realmente é.

Almeida não lhe contou tudo que estava sabendo. Ela não vai perguntar-lhe nada. Pelo menos ainda não.

— Medeiros — Almeida está parado em pé, na entrada da sala, quando tirou-a do transe. —, desejaria que você conhecesse a advogada. Poderia me acompanhar?

— Posso, embora não curta muito essas cerimônias... mas tem outro jeito?

— Vamos. — Almeida estende a mão para levantá-la da cadeira. — Além do mais, você pode querer perguntar alguma coisa.

— Verdade. Estou cheia de perguntas sem respostas. — A voz da investigadora soa com o mais puro cinismo.

Os dois caminham juntos. Lado a lado. Medeiros continua com a mesma naturalidade de quem não sabe nada sobre Tulio.

Não precisam andar muito, para a mulher com seus dois metros de altura, aparecer próxima à entrada interior da recepção.

A advogada está vestida com um terno preto e elegante. Ela é tão loira e branca, que os cabelos parecem brancos e a pele albina. Em seus braços, Eve Mallorca segura uma pasta de couro marrom. Aveludada.

— Ela já foi "Miss alguma coisa"? — Medeiros pergunta baixinho.

— Você está perguntando para pessoa errada. Mas, se adiantar alguma coisa, ela tem quarenta e cinco anos.

— Almeida! Olha a cútis dessa mulher. — O delegado olha para Medeiros sem  acreditar no que está escutando, e ainda por vê-la falando pelo canto da boca. — O que foi? Vai dizer que não percebeu? — Pergunta a investigadora.

Depois dos dois darem algumas passadas, ficam de frente para Eve Mallorca.

— Dra. Eve, desejaria apresentar a investigadora do caso: Agente Medeiros.

— Qual o seu nome minha filha?

— Dra. Eve muito prazer, e meu nome é Rafaelle Medeiros.

As duas apertam as mãos. Porém, Dra. Eve mantém a pasta abraçada ao seu corpo.

— Você é mais alta pela televisão. — Brinca a advogada.

— É o que sempre me dizem. Mas, o delegado Almeida deve ter contado a senhora o que aconteceu com seu cliente: Yan Cutner.

— Sim... na verdade ele é meu sobrinho. E teve esse final tão triste. — Medeiros acende seus olhos cor de mel. — Eu esperava achá-lo com vida... curtindo-a por aí.

— A senhora tem alguma notícia da sua sobrinha? — A pergunta de Medeiros não altera a fisionomia da Advogada, mas os olhos dela a entregam que a pergunta foi certeira. — Se a senhora não se importar, desejaria fazer mais algumas perguntas. — Conclui Medeiros.

— Srta. Medeiros terei o maior prazer em responder todas as suas perguntas. Poderíamos conversar em particular?

— Claro — Responde Almeida. —, vamos todos para a sala dela.