Esfera Quimera

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Sentado em uma cadeira estofada com um dos cotovelos apoiados na mesa no bar Kafka, Samael escutava Yayoi falando sobre o que havia feito durante o dia. A madame havia separado algumas horas por dia apenas para ensiná-la coisas que aprenderia na escola, Rein era outra que ajudava no que precisasse e tratou de pedir para que a chamassem de professora Rein. Yayoi levou a sério o pedido e sempre a chamando assim deixando a IA envergonhada um certo dia que Brandon ouviu e começou a caçoar dela. Por mais que lhe fossem ensinadas muitas coisas, Yayoi ainda nutria um interesse maior por desenhar, aprendeu rápido a usar a rede e criou um espaço só para seus desenhos virtuais que ela mostrava para poucas pessoa, e Samael é claro era uma dessas poucas. Ele passava a maior parte do dia trabalhando no Kafka, fazendo entregas com Brandon e voltando ocasionalmente para ver como a Yayoi estava, mesmo Rein dizendo pelo chat que ela estava bem. Durante a noite ia para casa dormir prometendo para a menina que voltaria no dia seguinte para vê-la.

Um cenário holográfico surgiu na frente dele projetado do Dis-Cy que havia comprada para ela. Parecia que a rua e os prédios do lado de fora do bar havia surgido ali em uma escala menor, mais colorida e com um traço infantil, o mais incrível de tudo eram os detalhes, até os menores estavam ali, como as rachaduras na pista e na calçada, as latas de lixo organizadas, embalagens plásticas acumuladas no beco, bitucas de cigarros cibernéticos, os letreiros e outdoors holográficos. Ela mudou a imagem e um certo aperto atingiu o sua garganta. Era um cenário amplo, prédios, estradas, carros e pessoas congeladas e no meio disso tudo uma enorme torre que chegava até o céu.

— Onde você viu esse lugar? — Perguntou para Yayoi.

— Eu sonhei com isso, Sá, no sonho também tinha uma abelha triste, ela dizia que não entendia nada e por isso estava triste, eu dizia a ela pra não ficar triste, mas ela não me via.

— Não viu nenhuma imagem ou foto assim na rede?

Ela fez que não com a cabeça.

— Está cada vez mais impressionante — disse Gabi surgindo ao lado deles. Yayoi ficou em pé e a abraçou, acabou se apegando a ruiva que sempre cuidava dela quando Samael ia para casa.

Sentiu um beijo na bochecha que o pegou de surpresa. Se deparou com um olhar doce e gentil seguido de um sorriso de divertimento. O perfume dela inundou sua mente espalhando uma sensação agradável. Morango.

— Prontos para irmos? — Perguntou Gabi segurando sua bolsa e a mão de Yayoi.

Era a segunda vez que levava Yayoi ao shopping SnakePoint, mas dessa vez estava com Gabi em vez de Helena. Sair com a menina era uma das tarefas deles, e segundo a madame, Yayoi precisa ir se acostumando com a superfície e aos poucos perdendo o medo que sentia em sair na rua. Ainda tinha o olhar desconfiado que dava para todo mundo. Uma reunião com vários membros do Kafka havia sido feita para decidirem o que fazer com a menina, foi sugerido encontrar outra comunidade no subterrâneo para ela, mas Helena havia sido contra e jogou a responsabilidade em Samael para cuidar dela, ele não foi contra e acatou a responsabilidade. No fim todo mundo do lugar estava cuidando dela, não apenas ele.

Gabi e ele seguravam as mãos da menina para ela não se perder em meio a tantas pessoas no metrô, sentiu como se fossem uma família, um pai, uma mãe e uma filha. Aquele pensamento o deixava se sentindo um pouco estranho. A ressonância que ela enviava para ele era clara, como se estivessem conectados, sentia isso desde o ataque do rato a comunidade no subterrâneo, quando ressoou pela primeira vez com ela.

Fora do metrô seguiram para o shopping. A rampa de acesso estava mais cheia que o costume e havia uma aglomeração logo a frente. Seus olhos perscrutam a multidão e se depararam com uma caveira alada e sorridente em um sobretudo branco. Não era apenas um, mas vários agentes. Não conhecia nenhum deles, já que não conhecia muitos. Olhou para Gabi que indicou para seguirem em frente passando pela multidão. Enquanto cruzavam a comoção acabaram vendo o que havia despertado a curiosidade de tanta gente.

Serpente do Vazio - Irregular (Completo)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt