CAPÍTULO DOIS

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— Esse aqui está ótimo. Agora este... Está perfeito!

Amanda estendeu um vestido branco com alguns detalhes azuis no busto, que caía nos ombros em frente ao meu corpo. É folgado, apenas se ajustando na cintura para cair em camadas pelo quadril até as panturrilhas. Era o dia do aniversário do Café do Campo, e minha amiga tinha prometido que me ajudaria na escolha da minha roupa. Devo concordar com ela: este aqui era perfeito, não apenas pela beleza que emanava dele, mas por ser um presente especial que ganhei de papai.

— Ah, minha amiga, vai ficar linda... — A jovem disse com um suspiro, e meus lábios se esticaram num sorriso tímido. — Você é uma sortuda.

Darcy latiu, abanando seu rabo enquanto nos observava.

— Sou uma sortuda por você estar aqui, Amanda. — Peguei em suas mãos. — Se não fosse sua ajuda, estaria colocando esse armário abaixo.

Ela gargalhou junto comigo. Poderia achar que meu comentário era um exagero, mas mal sabe ela que era toda a verdade.

— E olha que quase não consegui vir. Ia te ver apenas ao entardecer, na fábrica, porque a madre nos encarregou dos adornos do altar da virgem para a próxima semana. — Arregalei os olhos, surpresa com sua habilidade de ter feito tudo tão depressa. — Tive que vir pronta.

Admirei-a por um instante.

Amanda estava lindíssima. Corrigindo: minha amiga era lindíssima... Dona de uma beleza expressiva graças a combinação de traços que lembravam uma índia. Os cabelos lisos e brilhantes da cor do ébano estavam presos num coque alto, com alguns fios rebeldes contornando o rosto oval. Seu vestido era de um tom neutro para o beje, com estampas de diversas flores coloridas por toda a saia bufante.

— Você está linda como sempre, Amanda. Acostumada, não é mesmo?

Ela soltou uma risadinha.

— Vindo de você, eu sempre acredito... Mas quando disse que você tinha sorte, não me referi a mim, por mais que eu fazer parte da sua vida seja um motivo glorioso. — Corrigiu-me travessa, sentando-se na minha cama enquanto empurrava alguns vestidos espalhados por ali. Eu ri com a brincadeira, mas minha risada durou pouco para dar lugar ao nervosismo bobo quando soltou: — Me referi ao seu prometido. Ele foi visto pela cidade.

— Sim. Fiquei sabendo que já estava por aqui. — Meu sorriso cresceu com essa menção, inevitavelmente.

— Dizem que ele está muito bonito e elegante... Comentaram também que todas as moças lançaram-lhe olhares de ovelhas desfalecidas — ela fez o que me pareceu uma imitação: as pálpebras puxadinhas piscaram muito, no mesmo instante que soltava um suspiro forçado.

Não pude conter a gargalhada:

— Que expressão é essa?

— São as facetas femininas da sociedade... — Ela riu comigo. — Ovelha desfalecida lembra sabe o quê? A que se perdeu das noventa e nove para o Senhor Jesus tentar encontrar!

A pontada na minha barriga denunciava que às risadas comprometedoras estavam por demais naquele quarto. Santíssimo, Amanda não tinha limites! E, por incrível que pareça, o provérbio sagrado caiu tão bem naquela situação que tornava tudo mais engraçado...

— É sério, Evelyn... — Amanda foi se acalmando comigo, desfazendo a careta. Seu olhar me encontrou sério. — Não sente ciúmes?

Oras, como ciúmes?

— Ciúme por quê? — Coloquei o vestido esticado na minha penteadeira, e me sentei ao seu lado. Logo Darcy seguiu-me, se aconchegando nos meus pés. Acariciei seu focinho. — Ele é de fato muito bonito, é normal que as moças o admiram... — Dei de ombros. — Se Diego já era lindo na última vez que o vi, agora então... Posso imaginar. — Suspirei, sentindo o coração bater mais forte, veloz. — Estou tão ansiosa, Amanda... Eu vou reencontrá-lo depois de tanto tempo desde a sua partida. Será que Diego pode não me... reconhecer?

Rosas da Noite | EDIÇÃO 2023 Where stories live. Discover now