be brave *.✧ reddie

0.9

“Oi, aqui é Eddie Kaspbrak.”

– Oi, Eds. Eu… preciso te dizer uma coisa.

“Sinto muito, mas não posso atender agora.”

– É, eu sei.

“Deixe seu recado e eu retornarei assim que possível. Até mais!”

– Eu realmente espero que você não retorne. – Richie sorriu com tristeza, se apoiando no peitoral da janela e sentindo o vento suave levantar alguns fios de seu cabelo. – Pode parecer estranho, mas… hoje fazem 11 meses desde que você se foi. É isso. Por 11 meses, eu liguei para o seu número estúpido, apenas para ouvir sua voz por alguns segundos. Deve ser bem inconveniente, me desculpe por isso. Quer dizer… você pode me ouvir, não é? Talvez o céu seja um lugar superestimado e não tenha portões dourados e arcanjos, mas pelo menos uma acústica boa ele deve ter. Eu- me desculpe. – Ele deixou seu corpo deslizar pela parede, até que estivesse sentado no chão, com as pernas encolhidas junto ao peito. Suas mãos correram nervosamente pela barra do moletom. Um dos moletons que ele pegou na bolsa de Eddie, que depois de tantos usos, já havia perdido seu perfume. – Eu estou enrolando.

“Acontece que… Eu estive pensando em Stanley; Todas as coisas que ele escreveu... Eu- eu sinto muito. Eu nunca fui corajoso, Eds. Eu poderia abrir a boca para xingar Henry Bowers ou a Coisa, mas havia algo que eu nunca poderia dizer. Eu… nem sei se vou conseguir agora, mas… eu preciso tentar, não é?”

“Eu sinto sua falta. É por isso que eu tenho te ligado todos os dias, Eddie. Eu encaro o telefone por horas, com um copo de whisky na mão, e não é até que eu tenha perdido as contas de quanto álcool eu já ingeri, que eu consigo discar o seu número. Eu espero chamar. A cada beep, meu coração bate mais forte. Então, eu ouço a sua voz. Por um segundo, parece que você está ali, comigo. Eu fecho os olhos, abraço meu próprio corpo e tento imaginar que são seus braços me segurando. Tento imaginar sua voz me dizendo que vai ficar tudo bem, que foi só um sonho… Eu espero que você afague meus cabelos e sussurre que tudo isso é apenas um efeito colateral das luzes da morte, que você está vivo e nunca vai me deixar… Mas então tudo isso se vai.”

“Eu não sei se vou aguentar isso por muito tempo, Eds. Eu preciso te dizer. É minha culpa o que aconteceu com você. Eu não me arrependo de ter te mostrado o quão forte você poderia ser, mas... Talvez, se eu tivesse acordado mais rápido, se eu não houvesse ficado apenas parado te olhando, se eu tivesse deixado os outros para lutar enquanto tentava tirar você dali… Talvez eu devesse ter dito a verdade. Talvez você ainda estivesse vivo, se eu tivesse 1% da sua coragem.”

“Eu te liguei todos esses dias porque eu queria falar com você, Eddie. Falar sobre o que eu sinto… Sobre o que eu senti todos esses anos. Eu… Eu te amo.” Richie respirou fundo, retirando os óculos e secando as lágrimas que começavam a embaçar sua visão. Ele sorriu, não se importando com o quão patético deveria parecer. “Eu sempre te amei. Desde que éramos crianças e eu apertava suas bochechas para te dizer o quão fofo você era, ou te irritava apenas pra que você me desse atenção. Eu me lembro de dividir a rede com você para ler quadrinhos, e me lembro de sentir cada parte do meu corpo formigar pelo contato. Eu me lembro de como o canivete parecia pesado em meu bolso enquanto eu caminhava até a ponte do beijo e, gravava nossas iniciais lá.”

“Tem sido muito difícil sem você aqui. Eu sinto tanto a sua falta.” Ele teve que parar de falar, deixando o celular no chão ao seu lado e escondendo a face nas mãos. Sua cabeça estava doendo, e a blusa de moletom estava começando a ficar pegajosa pelas lágrimas. “Eu- Céus, Eddie, eu te amo. Eu te amei por 30 anos e eu sempre vou te amar. Eu sei que pode parecer clichê mas… Você foi a única pessoa que me fez sentir como se eu tivesse um lugar no mundo. Você não me ignorava quando eu começava a falar, e estava sempre sorrindo e- Eu queria ter dito isso antes.” Ele fungou. A brisa da madrugada entrou pelo quarto. Richie olhou para o relógio na cabeceira da cama, marcando 03:27AM. “Já está tarde, Eds. Acho melhor desligar. Você precisa descansar. Até mais.”

     Ele encarou a tela brilhante do aparelho seu dedo pairou automaticamente sobre a opção "desligar". Richie observou o nome de Eddie, sorrindo tristemente. “Eu te amo.” Ele disse antes de finalmente desligar, com sua voz saindo em um sussurro, como se fosse um segredo.

    Quando Richie se deitou, apertando o cobertor em volta de si, ele adormeceu… e sonhou com um homem baixo, com cabelos negros, lábios finos e olhos grandes. O homem se sentou ao seu lado e pegou sua mão. Quando Richie ergueu o olhar, o homem sorriu para ele.