𝑼𝒏𝒆𝒙𝒑𝒆𝒄𝒕𝒆𝒅

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Eu odiava segundas-feiras.

Em meio ao bando de alunos na sala de aula do segundo ano do ensino médio, eu pensava se tinha sido uma boa ideia não ter matado aula naquele dia. A sala havia ficado mais cheia do que no ano interior, e de fato era um incômodo para mim ouvir toda aquela barulheira animada de adolescentes que tinham acabado de voltar das férias, contando seus relatos de viajens, saídas, e todas as coisas cujo eu definitivamente não tinha a mínima vontade de fazer, porque sair do meu quarto era algo que simplesmente odiava.

Minha cabeça cambaleava para os lados, e meus olhos fechavam por vontade própria. O sono que sentia era tanto que fazia minha cabeça doer.  Ah, droga, eu não deveria ter ficado acordado até tarde  pensei, abaixando calmamente meu pescoço e descansando sob meu braço, esperando despertar quando o professor responsável chegasse.

Abri meus olhos rapidamente ao sentir um objeto rijo bater contra minha cabeça. Acordei do sono que nem havia percebido ter adentrando, então uma irritação subiu meu corpo, me fazendo chocar a mão na madeira lisa da minha carteira.

— Mas que merda é essa?! — resmunguei, irritado, e então virei meu pescoço para trás, para ver a pessoa que havia feito aquela atrocidade.

Assim que minha visão foi atraída pelo sorriso quadrado do garoto que rapidamente me recordei se chamar Taehyung, fechei ainda mais a cara. Aquele menino era estranho. Sempre estava me encarando ou rabiscando coisas em seu caderno, e eu nunca ao menos tinha trocado duas — apenas duas — palavras direcionadas à ele. Era só aquela de olhares, nada mais. E foi por isso mesmo que na mesma hora o associei ao ataque com aquela borracha.

O de cabelos longos continuava a sorrir, como se aquilo tivesse sido uma apresentação de circo super engraçada. Me agachei abaixo da minha mesa e peguei o objeto com os dedos, voltando a me levantar. Ergui meu braço, para num ato super maduro lhe devolver a borrachada, mas antes que a ação pudesse ser completamente feita, um estrondo na porta me fez olhar para trás, e para minha sorte, lá estava o meu professor de matemática.

— Tudo bem, Sr. Jeon Jungkook. Hoje é o primeiro dia de aula, mas isso não significa que pode pintar e bordar. Por favor, peço calmamente que se retire de sala, porque sabe que eu detesto quando entro e há alunos em pé, se vendo que estuda aqui há dois anos.

Deixei escapar um exclamar dos meus lábios.

— Professor, eu... — tentei me explicar.

O olhar frio e irritado do meu superior foi o suficiente para me fazer abaixar o olhar e me desculpar baixo, saindo com a cabeça fervendo daquela maldita sala. Porra, eu entendo que voltar para um lugar onde se tem adolescentes em fase de desonvolvimento depois de um grande período de descanso pode ser duro, mas precisava daquele exagero? Era só pedir para que eu me sentasse novamente, e tudo se resvolveria de forma calma e sucinta.

E como estaria Taehyung naquele momento? Continuava a sorrir, como um idiota? Talvez o seu objetivo tivesse sido aquele, e eu, como um babaca, tinha cedido. Todo mundo sabia que aquele professor não perdoava ninguém, seja um aluno quieto (vulgo eu mesmo), seja um filho da puta qualquer.

Em passos fortes e irritados eu andava em direção ao pátio, que naquele horário com certeza estava vazio — claro, a primeira aula nem havia começado direito. Assim que cheguei ao meu destino, passei os olhos por todos os brinquedos infantis que se encontravam no espaço, só para constatar se estava  tudo vazio mesmo. Quando tive a confirmação, me dirigi até um balanço perto do escorrego grande, então me sentei, dando um suspiro.

Cinza.

Tudo era cinza.

Eu não conseguia ver a paixão no vermelho. Eu não conseguia ver o brilho amarelado do sol. Eu não conseguia ver minhas lágrimas descerem em azul.

Cinza É A Nova Cor Do Arco-íris | Kth + JjkWhere stories live. Discover now