𝑾𝒉𝒆𝒏 𝒕𝒉𝒆 𝒑𝒂𝒓𝒕𝒚'𝒔 𝒐𝒗𝒆𝒓

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Estava frio aquela tarde, aquele frio de pensar que seus dedos vão congelar, mas nem aquela sensação conseguia me fazer parar de pensar tanto. Tentava amenizar de todas as formas possíveis aquela ansiedade louca: lambi o lábio inferior. Coloquei a comida na boca. Engoli. Esfreguei as mãos. Suspirei. Estalei a língua. Nada adiantava. Eu só queria relaxar.

Mesmo com a cabeça abaixada, pude perceber que os olhos negros de Noah me analisavam como se tivesse notando algo errado, a capacidade de ler cada segredo meu, e aquilo só me fez ficar mais nervoso ainda. Para disfarçar, peguei o copo de suco em minha frente e levei até a boca, tomando um pequeno gole e deixando na mesa. Espremi meus lábios e voltei a encará-lo, para ver se ele tinha se convencido que estava tudo bem. Quando percebi que parecia concentrado no seu almoço de novo, suspirei e fechei meus olhos.

— Que cara é essa? — escutei ele perguntar de repente, o que me fez abrir os olhos instantâneamente.

A única que eu tenho, talvez? meu eu de cinco anos quis rebater, mas claro que não fiz.

— Nada. — respondi, colocando um pouco de arroz na boca. — Nada mesmo.

Parei. Espere, se eu for mesmo para Tóquio, não posso sair sem avisar nada. Então tenho que tentar falar com calma, certo? Merda.

Na verdade — minha voz saiu um pouco trêmula, coloquei meu garfo lentamente na mesa — Tem uma coisa, sim... — esfreguei minhas mãos.

Todo mundo presente, vulgo Mary, minha mãe e o próprio Noah me olharam atentos. Ele parecendo me matar com o olhar, já elas com receio do que minhas palavras pudessem causar. E confesso, eu também estava assim.

— Meu pai. — comecei, olhando para baixo. — Ele fez uma proposta pra mim. Uma proposta séria.

— Quer dizer que ele ainda fala com você? Fantástico. Acho que está com pena — Noah riu como se o que tivesse dito fosse a melhor piada que já tinha ouvido. Engoli seco para não soltar um palavrão, e apenas suspirei.

— Ele me convidou para morar em Tóquio com ele — fui direto. — Provalvemente vocês não terão que arcar com os custos da viagem.

Todos voltaram seu olhar para mim, parecendo surpresos. Ficou um tempo em silêncio até Noah soltar:

— Claro que não. Nunca faria isso por você — ele engoliu a comida. — Tá falando sério sobre isso?

Assenti, nervoso. — Por que eu brincaria?

O silêncio novamente tomou conta do lugar, um silêncio tão grande que pude ouvir o barulho da chuva fria lá fora, junto com o vento que soprava.

— Vou pro quarto — do nada minha mãe levantou, tocando o rosto com sua destra. Não demorei pra constatar que estava chorando; pude ver um pouco de suas lágrimas rolarem para o fim das suas bochechas, e aquilo fez com que eu me levantasse quase de imediato com um aperto no peito.

— Mãe?

Então ela foi. Fiquei um tempo olhando para o corredor vazio, refletindo. Ela estava chorando por mim?

— Estou feliz porque finalmente vou me livrar de você. E não só eu — Noah também se levantou, olhando para mim com aquele olhar que antes me amedontrava, mas agora eu só sabia sentir nojo. —Todo mundo vai se livrar do fardo que é estar ao seu lado, Jeon. Pode ir à Tóquio. Eu deixo.

— Quem é você para me deixar ir? achei coragem suficiente para exaltar minha voz, sentindo lágrimas quentes e raivosas em meus olhos. — Quem é você?me levantei também.

Cinza É A Nova Cor Do Arco-íris | Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora