Capítulo 72 - O dom da vida

272 27 15
                                    

Patrick

Lembro-me a primeira vez que me sentira assim.
E ainda que o dia semanal fosse o mesmo, a data numeral era diferente —13.01.–

Flashback on;

"Oi querida, oi meu amor.. é.. é o papai, oi minha menina, eu estou tão feliz em te ver"
Dizia Patrick com voz terna e lágrimas por todo o rosto, ao pequeno bebê em seus braços que com seus pequenos dedinhos segurava firme a mão do pai.
Ela chegou em uma tarde clássica de inverno.
Diria até que um pouco de neve caia, mas, honestamente disso não lembrava.
No dia 13 de janeiro de 2015.
Fruto de um casamento que já não florescia a certo tempo.. mas que depois de tantos anos de união, os dera o melhor dos presentes.
— Emma Gracie Lilland Shepherd.
Emma.. ou apenas Em. —
Nascida com 2 kg e 600.
Muito saudável e, tão linda.
Ela tinha graciosos fios louros como a mãe, embora os mesmos fossem enroladinhos como os de seu pai e seus olhos dividiam-se entre um azul e um verde, ao menos ao que se era possível notar na época. Muito embora ainda siga nesse mesmo misto de cores.
Ao segura-lá, Patrick não poderia explicar a sensação totalmente nova que lhe percorreu as veias e o peito nem mesmo se sua vida dependesse disso.
Era inexplicável, surreal.
Só o que ele sabia.. era que daquele dia em diante, a amaria para sempre.
Já a amava antes mesmo de pega-lá e sabia que nunca mais seria diferente.
Ela nasceu naquele dia.. e ele, renasceu. E sabia que faria de tudo, por toda vida, para mantê-la segura e para que todos os dias o mais alegre dos sorrisos a encontrasse. Sabia que sua vida havia ganhado um novo significado e sabia também que lhe daria a vida se preciso fosse e, que esse amor.. tão genuíno jamais haveria fim. 

Flashback off.

Perdido em suas lembranças o homem andava de um lado para o outro na sala de espera do hospital e tudo que ele pensava conhecer ou entender se põe à prova.
Quer dizer.. quem imaginaria que já não sendo um pai de primeira viagem ele estaria assim tão nervoso?
Ele já havia vivenciado essa espera, essa ansiedade que consome aos poucos os seus nervos e vasos sanguíneos os fazendo ferver.
Essa alegria contagiante que o fazia querer gritar, cantarolar ou apenas contar a qualquer indivíduo que passasse por ali que seria pai.
Que suas filhas estavam nascendo nesse mesmo instante.
Mas, se ele já conhecia isso tudo tão bem.. o que estaria o fazendo contar a todos sentados nas cadeiras nada confortáveis a seu lado que, sim, ele seria pai uma vez mais e em dose dupla.
Ele era tão abençoado.
Pensou.
O quê estaria causando esse frenesi dentro de seu peito, indagou-se.
Ellen já sentia contrações a um certo tempo, mas ainda não era o momento tão aguardado.
Talvez, segundo os médicos que os atenderam, ainda levassem horas. E ele não tinha horas. Precisava olhá-las e ver o que tinham de Ellen, muito mais do que dele mesmo.. ele honestamente esperava.
O que tinham de Emma.
Quão lindas e grandes elas eram.. qual a cor dos olhos e dos cabelos?
De quem era o nariz e o sorriso? Dele ou de Ellen? De Ellen, ele torcia.
Céus.. ele enlouqueceria.
Ellen estava levemente medicada no momento, o que a fazia cochilar, mesmo que por apenas uns ligeiros segundos (ela já estava nisso a algumas horas e se sentia extremamente cansada.)
Até que uma outra pontada forte a atingisse, liberando uma nova onda de dor e a despertando, indicando que o nascimento vinha se chegando.
Ele havia apenas saído para tomar um ar, um café, uma dose de calmaria. Dessa ele precisava, mas, aonde será que se vendia tal iguaria?
Passava a mão pelos cabelos bagunçados graças ao forte vento e seus dedos que já o passearam algumas vezes e respirava fundo.
Estava pronto para adentrar o quarto de sua futura, mas que pra ele já era sua, mulher. E então ouve um dos médicos que os receberam o comunicar.
"Sr Shepherd sua mulher o aguarda.. está na hora de conhecerem essas meninas."
Logo, o maior dos sorrisos brota em seu rosto, e seu coração, ao escutar tal frase, infla-se tal como um balão em seu peito.. enquanto ia caminhando em direção a outra sala, em que a mesma possivelmente estava, pronta para o espetáculo.
Pois sim.. um parto era um espetáculo.
A mais bela arte.
De onde as maiores obras eram nascidas.
Um ato de amor, de coragem, um espetáculo que envolvera sim certa dor, mas, fosse como fosse.. ainda assim, um grande ato de amor, esplendor.
A vida que nasce, e a vida que renasce, o individuo que deixa de existir apenas por e para ele e torna-se algo muito maior.
A peça mais retratada do mundo, a alegria mais ansiada; o dom da vida, benção divina, magia tanto desejada, que finalmente assim se chegara.

Meu Universo ParticularOnde histórias criam vida. Descubra agora