Maçã do amor

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_ Fui casada, mas já passou.

Tinha uma sutil raiva no tom. Resolvi brincar com ela, um pouco.

_ Por que casou?

_ Achei que seria feliz.

_ Com um homem! _ a surpresa no meu tom foi mais que original.

_ É, ué. Eu sou mulher, então casei com um homem. Por que a surpresa?

_ A surpresa não é por você ter casado, é por você achar que seria feliz.

_ Ainda não entendi sua surpresa _ estava brava e não disfarçava.

_ É bem simples. Mulheres gostam de prazer e homens gostam de sexo. 

_ Eu gosto de sexo _ protestou.

Ri da sua colocação _ Você gosta de ser bem tratada, elogiada, tocada no corpo e na alma, gosta de se sentir bem na cama, de ficar exausta de tanto gozar. Isso te faz feliz. Já os homens só querem um buraco para enfiar o pinto. Qualquer buraco. Eles são bem pouco exigentes. Não importa nem se a dona da buceta gosta deles, desde que ela abra as pernas. Por isso fiquei surpresa que você esperasse ser feliz com um cara. Você é tão esperta, como caiu nessa?

O seu silêncio concordou comigo, mas a expressão no seu rosto queria argumentar. 

Não perca o seu tempo minha delícia. Contra fatos não há argumentos.

_ Te entendo bem _ quebrei o silêncio _ Eu também já caí nessa ilusão. Deixa eu te mostrar o que é ser feliz?

Riu alto _ Boa tentativa, mas não.

_ Você vai ser minha _ prometi.

_ Por que não desiste?! _ sorria, agora.

_ Não posso, eu sou mulher _ pisquei para ela e sorri.

Acompanhei com o olhar enquanto ela se distanciava.

Conheci Simone numa quermesse local onde moramos. Aqui é bem afastado do centro, mas não chega a ser rural. Foi bem circunstancial. Ela estava na barraca da maçã do amor e eu comprando. Haviam muitos clientes esperando, por isso ela estava nervosa durante todo o tempo em que eu esperei. Quando enfim, entregou o meu doce segurei a sua mão junto. Suas faces coraram, um sorriso tímido surgiu nos seus lábios, ainda estava nervosa por causa da sua tarefa. Um brilho de irritação surgiu no seu olhar, ainda sorria. Só então ela olhou ao redor e percebeu que só havia eu alí, podia relaxar. Sorri para ela fazendo uma cara óbvia, vendo o alívio e vergonha tomar o lugar da pressa. Soltei sua mão e peguei o doce.

_ Acho que você precisa de ajuda _ apontei pagando.

_ Não tem ninguém disponível, sou só eu.

_ Podemos ser nós _ ofereci.

Seu olhar encheu de esperança, mas caiu no desamparo de novo.

_ Não conheço você.

_ Nara, as suas ordens _ estendia a mão _ Sou sua vizinha da esquerda.

Pegou a minha mão confusa _ À minha esquerda, mora um cara _ achou graça e explicou _ Muito mulherengo por sinal. É um entra e sai de mulheres bem vestidas e maquiadas naquela casa _ divertiu-se contando.

_ E como ele é?

_ Quem?

_ O vizinho mulherengo.

_ Não sei, nunca o vi.

Fiquei em dúvida sobre o que dizer por uns segundos e desisti de continuar com o assunto _ Boa sorte com as vendas.

_ Obrigada.

Naquela mesma noite, acenei para ela enquanto abria o portão da minha casa. Não sabia se fiz bem, parece que passei uma tremenda má impressão. Mas pelo menos, ficou claro para ela, qual era a minha sexualidade. Desde então, ela me dispensa como se eu fosse um cara que só quer se aproveitar dela. Como se isso fosse possível. Que isso, Simone? Nós somos mulheres, cuidamos. Mas compreendo seu ponto de vista. Eu realmente tenho ficantes demais. O problema é que são todas comprometidas, e pior é que são comprometidas com homens.

Queria ter algo sério, fixo... Loira de cabelo curto chanel liso, um pouco acima do peso, com voz suave e lábios vermelhos... Um sorriso terno que me aquece igual a um carinho de mãe. 

Carinho de mãe!? Qual é, Nara? Quer ser adotada, mulher? Se liga!

Sempre a vejo da minha janela. Ela ama varrer o quintal. Olho para o chão do meu quintal cheio de folhas das árvores. 

Se eu fosse você, também não me daria uma chance.

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