O caçador

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Era fim de semana e eu havia enviado todos os projetos que tinha que entregar, o meu tempo estava livre, mas o da Simone não. Intrometida como sou, me ofereci para ajudar na edição mais simples dos livros, assim ela teria menos trabalho. Ufa! Passei o meu sábado corrigindo erros e ainda assim, sabia que havia sobrado muito para a Simone rever. Mesmo assim, sei que ajudei, pois o seu jeito de me olhar dizia isso. Só na segunda feira ela conseguiu terminar os quatro livros. Já podíamos pensar nas férias.

Foi quando ele apareceu em frente ao meu portão. Doze anos fugindo e agora o passado bate à minha porta de surpresa. Paralisada, pensei em pular o muro dos fundos e ganhar o mundo sem olhar para trás. Eu poderia fazê-lo, como já fiz antes. Tudo seria novo. Minha identidade, outro nome, outra casa, outro país... Eu poderia, mas olhando pela janela avistei o maior impecilho. A loira varria o quintal ouvindo algo no celular, através dos fones, alheia ao que acontecia. Alheia ao meu mundo e até mesmo, à mim. Por ela hesito e caminho até o meu caçador, me rendo. Como seria viver sem ela em minhas noites? Insuportável. Agora que a conheci, senti, como sempre sonhei. Não sei abrir mão. Não quero e não vou.

Caminho até o portão e o abro encarando o homem que vi rapaz, ainda sem barba. Ele sorri, demonstra felicidade e abre os braços para mim. Enquanto que a minha mente repassa lembranças do inferno que me fez fugir. Uma lágrima rola fazendo cócegas no meu rosto. Sem demora, ele a captura em um beijo durante um abraço que somente ele deu. Está feliz, não posso negar isso. Sou importante para ele. A sua prisioneira perfeita. E eu o odeio. 

Sinto-me como a protagonista da música Sappy, do Nirvana. 

O olhar da Simone está sobre nós e ela está decepcionada, eu sei que está. Quebrei o seu coração e é só o começo. Entro em casa seguida pelo estranho que ela nunca viu antes. Fixo no seu olhar durante o caminho, queria que me conhecesse a ponto de saber como eu me sinto só pelo meu olhar, mas acho que é pedir muito de uma alma ferida e enciumada. Você sente ciúmes, Simone. Eu sei como você se sente só de olhar para você, as vezes.

Entramos em casa e ele senta no sofá me mantendo ao alcance da sua mão.

_ Eu te perdoo por fugir _ sorriu sentindo a pele no meu braço com a palma da mão _ Deve ser confuso demais ser vendida pelos pais. Você os amava, não é? Era só uma criança.

Uma criança, ele disse? Agora ele tem consciência disso! Antes tentou me estuprar. Lembro de como eu era pequena e fraca diante dele, mas era rápida e a adrenalina corria no meu sangue, sentia que seria morta por este estranho. Não sei como fugir da sua casa, era uma fortaleza cercada por soldados de Deus, na cidade de Riade, Arábia Saudita. Mulheres são como objeto de troca. Foi bom fugir e descobrir que eu posso ser igual ao Rasan na maior parte do mundo.

_ Como?

_ Um bom detetive. Você é escorregadia. Por que foge assim? Eu te faria minha rainha, teria sempre o melhor. Você prefere viver entre os ocidentais sujos e morar _ pausou observando a minha casa semi interiorana _ nisso _ soou decepção enojado.

_ Sou uma rainha, sou livre e não sua.

_ Eu paguei por você.

_ Pago o dobro pela minha liberdade.

_ Nunca! Entendeu? Jamais. Conforme-se com o seu destino.

Rasan não falava baixo e nem eu, a Simone estava interessada, embora não devesse entender nossa língua nativa. Fingia varrer o quintal. Parece que ela vê como me sinto através do meu olhar também. O alívio me veio e expiro esperança. Era tudo o que eu precisava. Cheguei ao meu celular e chamei um amigo do FBI. Ele sabia da minha história e queria há muito por as mãos no Rasan. Minha chamada telefônica queria dizer que o meu amigo teria a sua chance. Por que o FBI estava tão interessado no traficante, terrorista, chefe da máfia árabe? Não faço ideia, mas uma mão lava a outra. Ele é preso e ganho minha liberdade de volta. 

_ Pega só o que for importante para você. Não leve nenhum destes trapos que está vestindo. Vamos voltar agora. E se você tentar fugir, Nádia... _ respirou impaciência e raiva _ Sentirá o peso da minha mão.

Levantei o queixo desfiando e ele me olhou firme.

Continuou _ Não faça isso. Por favor? Te bater doeria mais em mim.

_ Porque você sabe que está errado.

_ Não estou _ assegurou _ Você é minha.

_ Sou como você.

_ Esse lugar corrompeu você. Não há igualdade, você é mulher. Ponha-se no seu lugar de serva. Sou o seu senhor.

Suas palavras feriam mais que o tapa prometido. Baixei a cabeça e obedeci lentamente. Desempenhei o papel da pessoa triste em deixar a sua casa e as suas coisa para trás. Chorei condoída e abnegada em cada gaveta da minha escrivaninha, armários e cantos da casa. Não que eu sentisse, mas sou muito boa atriz e precisava de tempo. Bem na frente do Rasan, peguei tudo o que precisava para fugir dele assim que possível. Inclusive o meu celular com a localização ligada. Antes de sair, pisquei para a Simone disfarçadamente. Entrei no carro com minha pouca bagagem numa bolsa média. O trânsito retarda a o percurso, algo com a polícia local. Nada que assustasse um mafioso perigoso e armado que era a imagem de deus. 

No aeroporto, um jatinho particular nos aguardava, nada de cheking. Droga! Antes de ir para a pista eu precisava me distanciar dele.

_ Preciso ir ao banheiro _ disse e logo em seguida vi o meu amigo policial, Alex. Estava a paisana.

_ Vai! Não demora! _ Rasan parecia nervoso.

Segui o mais rápido que pude ir sem chamar a atenção, mas a ordem de prisão foi dada e seguida de um tiro antes que alguém desarmasse o Rasan pelas costas, e muitas armas de grosso calibre fossem categoricamente apontadas para a cabeça dele.

Permaneci escondida atrás da parede que me protegia da sua visão ou da visão de qualquer outro ao seu serviço, até vê que ele não poderia vir atrás de mim, e fugi para dentro do aeroporto. Um grupo de pessoas teve o voo transferido para outro aeroporto e segui com a multidão. Do outro aeroporto, liguei para a Simone. 

_ Alô _ a voz estava meio desesperada.

_ Oi, delícia _ sorri pela emoção de poder estar falando com ela de novo _ Sabe aquelas férias? Pode ser agora?

_ Claro.

_ Só traz o necessário e seja rápida.

_ Já estou no carro _ riu.

Isso foi muito fácil! Acho que não será tão fácil quando eu for contar a verdade para ela. A garota ficou esperta demais.

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⏰ Last updated: Dec 05, 2019 ⏰

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DeliciosaWhere stories live. Discover now