Arttur Chase

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"...Se eu estivesse morrendo de joelhos

Você seria aquele que me salvaria

E se você estivesse afogado no mar

Eu lhe daria meus pulmões para que você pudesse respirar..."

Kodaline- Brother


O relógio mal tinha chegado nas 7 da manhã do outro dia e eu já estava estacionando meu Mustang Azul Caneta na minha vaga na garagem da Mansão Negra.

A verdade é que eu andava muito entediado ultimamente.

Acho que isso de ficar vendo meu irmão e a Pequena todos os dias juntos, anda me deixando meio triste no sentido amoroso. Talvez já esteja na hora d'eu arrumar alguém a sério, mas com as coisas agora, isso é ainda mais difícil.

Provavelmente eu vá ficar um velho solteirão com uma casa cheias de gatos!

Solto uma risada com esse pensamento louco. Nem de gatos eu gosto.

Tranco meu carro e vou em direção a casa, está tudo quieto quando passo pela porta, depois pela sala. Acho que cheguei tão cedo que meu irmão e cunhada ainda estão dormindo.

Pego o corredor em direção ao quarto deles. Seguro a maçaneta e empurro a porta devagar, achando um pouco estranho a porta estar destracada.

Está tudo escuro do lado de dentro como se ainda fosse noite, a não ser pelo brilho de luz que vem por baixo da porta do banheiro e o barulho de alguém vomitando. Não preciso nem forçar o cérebro para saber quem é.

Acendo a luz do quarto, porém, vejo que a cama está vazia, pelo jeito meu irmão saiu para algum lugar e a deixou sozinha, sorte que cheguei mais cedo hoje.

Vou em direção ao banheiro, olho pela fresta meio aberta da porta, encontrando ela sentada no chão ao lado do vaso com a mão na testa. Abro a porta devagar indo até ela que só geme quando me aproximo e ajudo-a a ficar de pé segurando em seus braços.

- Você está com uma cara péssima Tampinha. - Digo levando-a até a pia para que lave a boca.

- Uhm. - Ela geme novamente enquanto ainda lava a boca, depois pega sua escova para escovar os dentes. Suas mãos estão tremendo tanto que tenho que segurar seus braços para que consiga colocar a pasta de dentes na escova e depois levar até a boca.

- Quer tomar um banho? - Pergunto olhando para a banheira. - Talvez você melhore um pouco. - Ela acena em positivo. - Segure aqui então, vou arrumar a banheira.

Deixo-a encostada na pia, vou para a banheira mais a frente do meu lado esquerdo, ligo a torneira de água quente e pego um dos seus vidros de sais para banho , despejando na água. Ele tem cheiro de rosas que sempre me lembra roupas de bebê, acho que é esse o motivo dela gostar tanto.

Vou até ela novamente e a levo para o lado da banheira, ela está com uma blusa minha do Batman que meu irmão pegou emprestado há uma semana atrás, agora tenho certeza que nunca mais vai voltar para minhas mãos, já que ela nunca realmente devolve às roupas que pega; uma calça de moletom cinza e meias rosa choque de academia.

- Tá com sutiã?

- Não.

- E calcinha?

- Tô. - Seu sussurro me faz olha-la no rosto. Ela está com as bochechas vermelhas e olhando para cima. Seguro para não começar a rir. Ela tem essas fases de vergonha que quem não a conhece tanto quanto os mais chegados, nem imagina que existe.

- Então vamos começar pelas meias. Quando você entrar na banheira tira a calcinha e a blusa. Mesmo eu não sentindo nada por você, não quero meu irmão me enchendo o saco por ter te visto pelada.

Me abaixo e começo a tirar suas meias enquanto ela segura em meus ombros, depois desço a calça e ajudo-a a entrar na banheira desligando-a quando enche um tanto bom.

- A água tá quentinha. - Ela murmura se encolhendo dentro da banheira fazendo seu corpo sumir debaixo da camada de espumas, depois tira às peças que faltavam e me entrega. Pego sua calcinha de ursinhos com a minha ex-blusa e coloco em cima do cesto de roupas sujas para secarem.

- Onde Andrey foi?

- Escutei ele falando algo sobre sair com meu pai... mas não sei do resto, estava mais dormindo que acordada.

- Certo... Quer alguma coisa de café da manhã?

- Só um copo de leite com toddy morninho. - Murmura soltando um suspiro esperançoso. Ela, claramente está imaginando esse leite agora.

- Vou lá fazer e te trazer enquanto a água ainda está boa.

Saio do banheiro e vou até a cozinha arrumar o tal leite, quando já está pronto volto para o banheiro. Ela já está quieta quase pegando no sono novamente, com a cabeça deitada no encosto da banheira, chamo-a, e lhe dou o copo quando ela abre os olhos.

Seus olhos brilham de felicidade com a visão do que tem dentro do copo. Nunca entendi o vício que ela tem por leite com Toddy desde criança e seu suspiro de contentamento só comprova mais ainda isso.

- Ficou bom?

- Uhum. - Resmunga balançando a cabeça com o copo ainda na boca.- Cabo.

Pego o copo de sua mão e vou me virando para por em cima da pia, mas antes de completar o movimento, noto algo estranho na água da banheira nos pequenos espaços que não estão cobertos por espumas.

- Jenny, é impressão minha ou a água está vermelha? - Pergunto com a voz calma tentando não assustá-la. Pelo menos, não tanto.

Ela olha para baixo, tira um pouco de espuma da frente, revelando um mar de água vermelha que provavelmente é sangue. Ela fica de pé dentro da banheira em um pulo, e mesmo, realmente não querendo olhar para sua nudez, uma trilha de sangue que escorre em sua perna até encontrar novamente a água como se estivesse em câmera lenta me chama a atenção.

Olho para cima; seus olhos estão me observando cheios de lágrimas. Em questão de segundos, quando enfim consigo sair do meu torpor, pego em sua cintura, tirando-a da banheira, pego um roupão que está atrás de mim vestindo-a, depois, pego ela em meus braços e saio o mais depressa que posso da casa colocando-a bem presa com o cinto de segurança no banco de passageiro do meu carro, indo direto para o hospital sem me preocupar com mais nada... Apenas com o sangue que já mancha o roupão enquanto ela mantém as pernas bem apertadas com as pontas do roupão entre elas, com uma corrente de lágrimas que escorrendo em suas bochechas em um choro silencioso.

Vou correndo até chegar na entrada de emergência do hospital. Desço correndo e vou até ela tirando seu cinto de pressa e pegando-a nos braços levando para dentro e gritando por socorro.

Logo um enfermeiro vem empurrando uma maca e a coloco deitada. Ele dá ordens para os outros e vai levando-a para dentro.

- Tu, não me deixa. - Ouvir seu sussurro me pedindo para ficar parte meu coração, mas no momento não posso ir com ela e tenho que fazer sua ficha, ainda, sem nenhum documento que nem pensei em pegar. Sorte que sei tudo dela e tenho boa memória.

- Eles não vão me deixar ir Pequena, vou fazer sua ficha e assim que terminar vou te encontrar. - Digo dando um beijo em sua mão que segura a minha. - É uma promessa Bebê! - Sussurro olhando em seus olhos brilhantes de lágrimas não derramadas, outras ainda escorrendo.

Solto sua mão quando ela é levada para dentro de uma porta dupla. Volto para recepção e vou fazer sua ficha, depois de tudo pronto pego meu celular no bolso já discando o numero do meu irmão que só toca e ninguém atende.

Dou um soco um pouco forte demais na parede ao meu lado que a faz tremer um pouco. Com uma olhada para os lados, por sorte, vejo que não tinha ninguém sentado nos bancos ao meu redor para ver e sentir isso, não sou capaz de me controlar para qualquer resposta ou explicação com meu estado de espírito agora.

Me sento bufando de raiva do idiota do meu irmão que resolveu sumir, louco de preocupação com minha irmãzinha e com a forte sensação de que estou me esquecendo de algo, mas não faço ideia do que é.

Filhos da Guerra (COMPLETO)Where stories live. Discover now