PRÓLOGO

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C A S E Y  C O O K E

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C A S E Y  C O O K E

Para cada boa garota, há sempre uma regra inquebrável esperando para ser cumprida por ela. E assim como essas garotas, ou talvez por ser uma delas, eu também tenho horário para chegar em casa. E tenho a obrigação de suportar meu tio e as coisas estúpidas que ele faz. É por isso que, John tornou a me ligar, após duas chamadas perdidas, pelas quais certamente eu serei castigada.

— Por Deus você atendeu, no que estava pensando quando decidiu me ignorar? — aperto minhas pálpebras contra os cílios inferiores, detesto sua voz arrogante e autoritária.

— Tava no silencioso. — olho para a mesa principal do restaurante, procurando alguma desculpa — Eu não queria perder a sobremesa.

— Que merda! Pra que serve a droga desse celular então? Já disse que você não tem amigas, Casey. Foi convidada por pena e sabe disso. — balanço a cabeça, tentando conter o peso de seu timbre asqueroso — Mandei um uber te buscar, já passou do horário, quando você chegar, você vai ver. Vai se arrepender por ter demorado tanto. me ouvindo, Casey? Você me ouvindo?

— Estou. — enfio uma das mãos no bolso de minha jaqueta marrom esverdeada.

Ok. Sem causar problemas, lembra? Não é isso que você quer, não é? — pressiono meus lábios contendo o desejo de insultá-lo — Seja uma boa garota, minha Casey ursinha. Mandei o número da placa aí por mensagem pra você. Te vejo quando chegar.

Meus olhos paralisam diante do vidro extenso com divisas em madeiras claras que compõe o lado direito da parede do salão, o estacionamento a frente do grandioso e caro restaurante para o qual fui convidada por uma das garotas da minha sala, para seu décimo oitavo aniversário parece suficientemente confuso, com tantos carros, pelo que me conheço, como não confundirei a placa e identificarei no qual devo entrar?

— Sr Benoit, estava tudo maravilhoso, mas preciso ir embora agora, meu tio quer que eu vá o mais rápido possível. — digo ao pai de Claire, a aniversariante, sutilmente, mas tenho a impressão de que todos os meus outros colegas estão me encarando.

— Aconteceu alguma coisa? — ele questiona-me preocupado, mas o tipo de preocupação cordial e retórica demais, uma forma de gentileza — Posso te levar até em casa.

— Ele só está ansioso para o jantar. Costuma ser algo sagrado para minha família. — pressiono minha visão a mesa, movimentando a saliva em minha boca, sentindo dificuldades em passá-la pela garganta — Agradeço o convite, mas o carro deve ter enguiçado de novo e tio John já mandou um motorista de aplicativo me buscar.

— Que pena, Casey. Queria que você ficasse um pouco mais. — insiste Claire, sei que ela está dizendo isso apenas para não ser desagradável.

E na verdade, eu também gostaria de ficar um pouco mais, voltar para casa costuma ser sempre a última opção, mas dessa vez, não. Eu não podia quebrar as regras.

— Obrigada, mas eu tenho que ir. Felicidades, Claire. Nos vemos na escola. — asseno rapidamente com a cabeça e ela ergue os dedos.

Acho que foi a coisa mais legal e gentil que já disse para alguém em anos.

A medida que vou dando passos pequenos em direção a saída, tentando resistir ao meu destino, minha expressão torna-se insociável - mais do que o comum -, sinto um frio transpassar meu corpo, as sobrancelhas arqueadas e a língua umedecendo os lábios já secos. Consigo sentir o peso dos olhares de meus colegas de turma sobre minhas costas. Nenhum deles me entende. Sim, provavelmente eu sou a coisa mais esquisita que eles lembram de já ter visto na vida.

Será que ao menos a placa do motorista eu consigo encontrar? Não posso ser tão inútil assim

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Será que ao menos a placa do motorista eu consigo encontrar? Não posso ser tão inútil assim. Já verifiquei umas quatro vezes enquanto saia do restaurante e agora andando pelo estacionamento, sinto meu estômago embrulhar, deve ser esse carro preto com vidro fumê a direita do prateado. Alguém me livra de passar qualquer vergonha hoje, se possível, eu detesto parecer uma idiota. Chegando próximo ao automóvel, não consigo evitar que meus pensamentos se voltem às ameaças do imbecil do John, eu o odeio com todo meu coração, mas não posso fazer nada a respeito - quer dizer, eu tenho que conviver com esse maldito sem muita alternativa -, e não apenas isso, me sinto em uma bolha quase sem forças para respirar. Inclino a cabeça tendo a impressão de que meus casacos estão colando contra minha pele, estou suando? Devo estar realmente nervosa. Nossa, meu tio conseguiu exatamente o que ele queria com aquelas palavras estúpidas que ele sempre usa para me calar. Abro a porta do carro, jogando meu corpo sobre o banco do passageiro, e buscando ser simpática da maneira que nunca sei como ser, digo um pequeno "boa tarde" discreto, ainda tentando pegar o cinto entre meus dedos. O motorista não responde, então procuro distrair minha insegurança e fecho a porta.

Deslizo lentamente meu rosto em sua direção, sentindo um arrepio crucial abraçar meus ossos, depois ergo os olhos, soltando o cinto de segurança novamente. Sua expressão de seriedade junto as suas sobrancelhas inclinadas, resultando em duas linhas expressivas entre elas, os olhos compenetrados em minha expressão miticulosa por trás de seu óculos de grau retangular, me obrigam a pensar que há algo muito errado acontecendo.

Desvio o olhar de seu rosto amedrontador, o prendendo ao vidro da frente, enquanto aproximo meus dedos do puxador interno do automóvel, estou trêmula e sinto minha respiração falhar. Com os dedos já sobre a trava, tento arrastá-la vagarosamente, mesmo acreditando que o motorista tenha percebido minha intenção e esteja apenas apreciando minha notória aflição.

— Acho que eu me enganei de carro. — deposito toda minha força em meus dedos e puxo sem demora a porta do veículo, contudo, um barulho semelhante a de uma campainha, mas não tão vibrante ou demorado, apenas como uma chamada de celular, se manifesta.

O tal barulho me faz notar que ele travou todas as saídas do automóvel.

Contendo minha respiração e o pouco ar que conseguia alcançar meus pulmões, observo o homem de meia idade, com aparência jovem, me encarar com frieza. Uma gota de lágrima escorre pelo meu rosto, sinto meus olhos lacrimejarem, o motorista pega um objeto branco, uma máscara, estica o fio preso a ela e a desliza pelo seu rosto, tampando o nariz e lábios. Ele abre a camiseta social e pega um pequeno spray que solta uma gosma branca em partículas, semelhante a neve, em minha direção. Pressionando seus dedos contra meu cabelo, sinto além do peso de sua mão em minha nuca, minha mente se distanciar do cenário a minha volta. Seu semblante sério é ainda a única coisa que vejo, mas logo depois, tudo vai ficando escuro. Um vazio angustiante.

 Um vazio angustiante

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O QUE RESTOU - Dennis, Split (1) [REVISANDO]Where stories live. Discover now