Cartas na Mesa

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Alfonso bateu a porta com tanta força que a casa chegou a estremecer. Com os olhos compreensivos e preocupados, Ruth se virou para o filho enquanto deixava a bolsa e as chaves na mesinha da sala de estar.

- Você sabia? - esbravejou ele, furioso, mergulhado num turbilhão de emoções.

Alfonso entava não ser um completo babaca e, lá no fundo, sabia que estava com tanta raiva porque se sentia terrivelmente apavorado. Mas não podia evitar. Queria arrebentar alguma coisa, socar algo em pedacinhos e gritar, gritar até se sentir melhor.

- E aí, você já sabia?

Ruth estava boquiaberta.

- Como pode me fazer essa pergunta? Claro que eu não sabia.

- Não ouviu nada a respeito? - insistiu ele, se aproximando. - Nenhuma fofoca? Como é possível, já que você conhece todo mundo nesta cidade?

- Ela ficou anos fora, Alfonso - disse Ruth, com toda a calma. - A família inteira se mudou depois da última vez que você veio. Como eu poderia saber?

Agora, tinha ficado óbvio para ele o motivo pelo qual Anahi tinha ido embora daquele jeito. Alfonso puxou os cabelos, sentindo a cabeça latejar.

- Meu Deus! Quer dizer... Como ela pôde? - indagou ele, olhando para o teto. - Mãe? Como ela pôde
fazer isso? Aquele garotinho é... Como posso...

O queixo de Ruth tremeu: era o coração de mãe sofrendo pelo filho.

- Não sei, querido. Não sei.

Alejandro e Oscar apareceram na porta da sala.

- Que diabo está acontecendo? - perguntou Alejandro, indo para o lado da mãe, com a testa franzida numa.expressão preocupada. - Poncho?

Alfonso não conseguia responder. Teve ânsias de vômito, sentindo o estômago se revirar. Era como se o mundo inteiro estivesse girando ao seu redor, enquanto as palavras de Anahi se repetiam a cada pulsação que ele sentia nos ouvidos. Ele é seu filho. Ele é seu filho. Como quatro palavrinhas podiam ter um impacto tão devastador? Como ela podia ter escondido isso dele? Como era possível ele ser pai? Como era possível ele ter vivido todos esses anos sem saber da existência daquela criança, do seu filho? Como seu coração podia explodir e se partir ao mesmo tempo?

Essas perguntas ficaram rodopiando e martelando na mente de Alfonso, até que, incapaz de se conter, ele se virou e, com um urro assustador, deu um soco na parede. De um salto, Oscar se aproximou e agarrou o braço do irmão.

- Pare com isso! O que está fazendo?

Sem conseguir responder, Alfonso apoiou a testa na parede e gritou. A única vez que tinha se sentido
mais ou menos desse jeito foi quando voltou para Traverse City. E sempre por causa de Anahí. A raiva fazia a pele dele pinicar com tanta intensidade que Alfonso chegava a tremer. Oscar passou a mão pelas costas do irmão.

- Venha, Poncho. Você está sangrando. Vamos limpar isso, ok?

Alejandro também estava ao seu lado, com um saco de gelo e uma toalha úmida nas mãos.

- Deixe eu ver.

Ele pegou o braço de Alfonso e logo tratou de envolver os nós dos dedos do irmão com a toalha. Alfonso pensou que provavelmente tinha se machucado, mas a dor que sentia por dentro era tão maior que nem percebeu nada.

- Venha, cara - disse Alejandro, tentando animá-lo. - Você precisa se sentar. Oscar, pode ir buscar algo doce e um copo?

- Entendido.

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