Heda-Mountain

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Desde o fim do meu quinto registro aqui muita coisa aconteceu, como já disse, foram anos intensos. O que eu venho contar hoje é algo que aconteceu num momento em que Lexa e eu decidimos andar por algumas montanhas, logo após um ataque traiçoeiro por parte de prisioneiros que vieram do céu. Sim, isso aconteceu. Eles desceram numa nave, anos depois desde que foram condenados à dormir por centenas de anos e só serem acordados para explorar novos planetas, enfrentando os perigos - como nós, os 100 que desceram da Arca. Ainda me lembro de tudo.

. . .

Foi um ataque doloroso, devastador mas tudo feito em muito silêncio. Nós cercaram no centro da Antiga Pólis - Pólis agora é chamada assim - e foram matando em total silêncio nossos companheiros, dentre eles, grounders e a comuna skykru. Mãe foi ferida nesse ataque, lembro de todo o sangue que sujava o centro de Pólis misturado à água suja de terra. Mas isso não vem ao acaso. Cada ponto dessa escrita corresponde à um suspiro, foram dias difíceis.

Após um acordo feito por mim com os mesmos, tão parecidos comigo e os outros, combinamos de dividir o que tínhamos à troco de uma paz temporária. Os mesmos se foram pela floresta e prometeram um ataque pós a "paz" adquirida. O ataque nunca aconteceu, os encontramos asfixiados por uma área ainda não conhecidos por nós no que seria o "coração" da floresta. Uma pena. 

Com o acordo feito e prontos pra se preparar para o embate, Lexa me convidou para seguir caminhando pelas montanhas, um dos poucos momentos que teríamos sozinhas, ao léu, sem Titus ou qualquer outro que pudesse incomodar o silêncio de nossas mentes. Era momento de pensar, articular e ver a melhor forma de nós, que naquele momento éramos entregues, sobrevivesse à todo o caos das decisões que viriam à ser tomadas. Quem teria mais autoridade? Lexa? Eu? Como teríamos uma HedaMör naquela situação?

Após minutos de considerável silêncio, Lexa murmura:

- Quero que assuma o controle das coisas por um tempo.

Olho-a fitando sua expressão - Não vai ser necessário. Você é a Heda que todos respeitam.

- Clarke, eu preciso dar um tempo para que a Chama não se torne apenas impulsos violentos contra novos povos. 

- Você quer tempo? Apenas isso?

- É o melhor agora, pra mim.

- Eu entendo você mas sabe que ninguém vai me ouvir ou clamar pela minha ajuda, certo? E além disso, darão seus próprios passos e podemos perder muitos dos nossos.

- Eu confio em você.

- Lexa, eu não sei o quão capaz sou de liderar, essa é a verdade. As pessoas ao meu redor falam tanto dos meus erros, das decisões conflituosas, me sinto distante daquilo que dizem que sou mas criticam. 

- Talvez você ainda não tenha encontrado a sua forma de liderar.

- Talvez ela não exista.

- Prefiro acreditar que ainda não a encontrou.

- Vai ser um desafio, árduo.

- Olha quanta intensidade você coloca nisso, Clarke. Depois que eu disser que você é quem governa sem Heda, as pessoas apenas irão assimilar sua voz à imagem de uma deusa. Irão te respeitar, proteger, exaltar...

- Desculpa por ser afetada diretamente pelos meus traumas.

- E paranoias. - Completou Lex.

- É melhor pararmos de falar disso, vamos seguir, quero passar mais um tempo aqui, só com você.

Seguimos caminhando, em calma e silêncio pelas vegetação rasteira que abrangia o entorno daqueles grandes montes que inundavam o horizonte. Nesse passos dados pela trilha, percebi algumas flores que brilhavam. Eram fortes. De cor forte. E pra minha surpresa, Lexa olhava fixadamente para elas. Fiz o que minha mente impulsionou, busquei um bocado daquelas para Heda.

As entreguei e olhei no fundo dos olhos daquela mulher, daquele momento em específico, a Lexa que eu conheci como uma guerreira insolente que não abdicou de seu povo mas se sacrificou em diversos momentos para fazer do meu, o seu povo. Mesmo que tivesse errado, aquela era a mulher que escolhi perdoar, com a compreensão de quem não vive em paz mas sobrevive durante a guerra.

Ela olhou pra mim e me chamou pela nome: - Clarke Griffin...

- Oi.

- ...engraçado como você se diz não estar preparada para ser líder mas escolheu exatamente a flor que representa os líderes da terra. Magenkruss. Esse é o nome dela e foi escolhido por centenas de líderes como a planta a ser usada em coroações, batalhas pelo poder de um trono ou duelos entre possíveis  donos de uma região. E também é a minha escolha para uma boa líder.

Olhei para ela como se fosse explodir de surpresa, apenas acanhada por ter sido uma escolha fiel à história, cheia de tradições de anos. Queria chorar.

- Eu não acredito.. - disse e comecei a rir num tom de nervosismo e constrangimento.

- É a flor. Sua flor.

- Nossa flor, é suficiente para Heda?

- É a flor dos líderes, faria sentido tê-la com você.

. . .

Durante a volta para casa, encontrei no caminho alguns ramos verde-escuro, detalhados, pareciam feitos à mão. Juntei a Magenkruss e desde então, é esse o ramo que permanece sobre a minha mesa de achados. Seca, ela representa o que meu relacionamento e a minha vontade em liderar se tornarão. Prontas para esfarelar com qualquer toque alheio.


May We Meet AgainWhere stories live. Discover now