Antologia de um vencido

Exercício profissional

É praticamente impossível lucrar com as palavras que escrevo
Elas são meio desajeitadas
Não seguem as métricas pelas quais as pessoas se interessam
Nem os moldes das artes convencionais

Não são fáceis de segurar, prender ou estatificar
Isto é, tornar-se escultura ou estátua
Seja ela viva e móvel
Ou em pedra, sujeita à erosão

Quisera eu saber pintar e demonstrar fluidez emocional
Nos sentimentos que prendo nos papéis que uso
Isto é contradizer-me enquanto artista, ao apontar dois sentimentos tão paradoxais
Aquele de ter muitos rostos e mostrar apenas aquilo que sou capaz

Pois em palavras eu só consigo mostrar uma linha contínua
Numa sequência de aparência lógica
Em exageros libertinos, caracterizações absurdas e pessoalidade superna
Incapaz de demonstrar qualquer coisa além da realidade interpretativa das coisas

Por isso nasci escritor, apenas, e nunca pintor, desenhista ou ilustrador
E infelizmente ninguém prende palavras à parede
Enquanto nesta uns prendem imagens que prendem nossas visões
Eu prendo palavras em livros que ninguém se dispõe a abrir

- Dioniso