4 _ Tudo novamente

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Alícia

A casa era tão gigantesca que eu me perdia facilmente. No quintal havia uma piscina e uma área de lazer. Era tudo tão grandioso que eu me sentia minúscula sozinha. Há todo momento os empregados perguntavam se eu precisava de algo, mas eu negava. Eu precisava do meu pai. Queria que os assuntos fluíssem entre nós naturalmente, sem necessitarmos de Heitor como uma ponte entre nós, entretanto, no café da manhã foi um silêncio desconfortável. No almoço eu nem sequer o vi. Passei o dia todo andando pela casa, conhecendo novos lugares, a biblioteca, observando a água da piscina e as flores do jardim. Era como se eu estivesse em uma redoma. Sei que meu pai precisa trabalhar, mas é impossível não sentir falta de ter mais momentos com ele.

À tarde, para minha surpresa, Heitor me convidou para ir ao shopping. Meu pai mandou um cartão sem limites para fazer compras, e por telefone me incentivou a comprar o suficiente para encher meus armários.

Mesmo confusa com a atitude de ambos, decidi fazer o que estavam aconselhando. Chegamos no shopping e o movimento era intenso. Notei que Heitor parecia preocupado, sempre olhando para os lados.

— Não precisa ficar aqui se não quiser. — Avisei e ele pareceu não entender. — Vi que está agitado. Talvez queira fazer outra coisa enquanto faço as compras.

— Não é isso. Apenas não sou fã de aglomerações. — Falou me olhando finalmente. — Por onde começamos?

— Você vai mesmo me acompanhar nas lojas? — Questionei incrédula.

— Algum problema?

— Não é isso. É só que… Por que vai fazer isso?
 
— Porque sou um cavalheiro, por isso não deixarei uma dama sozinha no shopping. — Brincou estendendo o braço e eu sorri encaixando o meu​ braço no dele. — Agora vamos, senhorita! Faça de conta que sou a sua melhor amiga.

— A Trixie não tem uma barba igual à sua. — Zombei e ele sorriu mais relaxado.

— Quer que eu tire a minha barba, amiga? — Afinou a voz me fazendo rir. Neguei com a cabeça e ele apontou para uma loja. — Vamos começar pelas roupas casuais. Depois vamos para os vestidos de festa.

— Vou em alguma festa?

— Não sei, se você quiser ir. — Respondeu dando de ombros​.

— Isso é incrível! — Comentei eufórica e ele franziu a testa. — É que eu nunca fui em uma festa. — Contei e ele parou abruptamente de andar, me fazendo parar também.

— Como assim nunca foi em uma festa? — Questionou incrédulo e eu dei de ombros.

— Bom, passei a minha infância praticamente trancada em casa, e no colégio interno não são como nos filmes.

— Não tinha nenhuma festinha ilegal? — Semicerrou os olhos, desconfiado.

— Não.

— Nem na ala dos meninos?

— Não tinha meninos lá. — Contei e ele fez uma cara engraçada de espanto.

— Mas vocês nunca escapavam?

— Também não.

— Que tédio, hein!? — Comentou e eu sorri concordando. — Bom, em breve teremos um grande​ evento, aniversário das gêmeas da recepcionista da nossa empresa. Se você quiser ir comigo… Será bem-vinda.

— Quero sim.

— Ótimo. Vamos comprar vestidos de festa então. Essa com certeza será a primeira de muitas. Que seu pai não nos ouça! — Brincou sorrindo divertido.

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